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Como a crise pandémica evidencia o caráter individual

Esta crise pandémica tem sido uma óptima oportunidade para ver quem são as pessoas que temos na nossa rede. É por isso com gratidão que ficamos a conhecer melhor quem nos rodeia.

A história dá-nos conta do processo gradual de desenvolvimento da espécie humana ao longo do tempo no espaço em que sempre viveu e continua a viver – o planeta Terra. E, desde a noite dos tempos até ao presente, constatamos que tal evolução foi tão extraordinária quanto talentosa. Enquanto mamíferos, a natureza humana é, por isso, fruto de uma evolução brutalmente brilhante e surpreendente no percurso tido até ao momento na construção social que temos. A rapidez com que nos adaptamos ao mundo e este a nós, desbravando realidades, muitas vezes, sem grande reflexão, é admirável o mundo novo em que vivemos. Por sinal, em termos sociais, é o melhor mundo de sempre que alguma vez existiu quando conhecemos bem a história. Sem registos ou memória, tudo se perde e se repete. Ou não fosse a natureza humana.

No entanto, todo o avanço tecnológico e visível que hoje temos, deveria ser acompanhado com uma consciência mais madura e competente para compreendermos que a melhor forma de evoluirmos é com espírito de entre-ajuda, e não preocupados com os ganhos de umbigo a curto-prazo, sem visão das consequências do egoísmo que impera nas necessidades individuais de cada um.

Daí que, apesar do Poder que todos temos de agir sobre o nosso mundo, desde que tenhamos a maturidade de assumir a responsabilidade e o risco da culpa, podemos constatar que muita gente à nossa volta prefere não se responsabilizar e arranjar desculpas para as suas incapacidades ou dificuldades de adaptação para chegar mais longe e remar junto em prol de objectivos comuns.

O egoísmo é tanto mais acentuado quando maior a crítica negativa de quem não consegue acompanhar.

Por isso e para tanto, é fundamental garantir que o comportamento individual passe a ser mais responsável e consciente não só dos seus direitos mas, sobretudo, dos seus deveres (tantas vezes ignorados) e, portanto, com uma maior e melhor civilidade.

Daí que, apesar do poder que todos temos em intervir no nosso mundo, devemos, antes de tudo, ter a maturidade suficiente para assumirmos riscos de culpa e responsabilidades.

No nosso dia-a-dia, podemos constatar que, à nossa volta, muitos preferem não assumir responsabilidade e apresentar desculpas para as suas incapacidades e/ou dificuldades de adaptação, o que as fragiliza e as tornam facilmente ofendidas e zangadas com o mundo, principalmente quando não conhecem a história prévia do que o mundo passou até agora.

O que a ciência comportamental evidencia é que são sempre as pessoas e o mundo à nossa volta que nos expandem ou atrofiam o caminho do que é melhor para nós, quer nos particulares, quer nas empresas. Quem vai mais longe, deve inspirar a nossa mudança individual e não a crítica pessoal.

Todos os dias, na minha prática clínica, tanto no nosso país como no estrangeiro, constato que a crise pandémica, para além dos efeitos nefastos na saúde e na economia, tem servido também para identificar as pessoas que, na rede de cada um, sabem caminhar juntas, convertendo os problemas em oportunidades e, assim, alcançarem objetivos comuns para proteger o seu futuro, sem atavismos e egoísmos. Infelizmente, o oposto impera em muitas situações, pelo que saber ser selectivo é fundamental.

As redes interpessoais que temos podem mudar, sobretudo quando assumimos a responsabilidade de cuidar do que temos. Mas não podemos ter medo de arriscar perder o pouco que afinal existe, para se ganhar mais valor no desconhecido reflectido. Assim, a relação entre o valor do que temos e o risco de mudar é direta e proporcional, em conformidade com o nosso grau de maturação e de consciência das nossas capacidades.

Assumir essa responsabilidade é um dever de consciência individual. Quando mais valor temos, mais exigentes somos na qualidade de quem temos perto. Só com essa responsabilidade individual se critica menos, compreende-se e faz-se mais, pois o egoísmo e a falta de acção ampliam a crítica e a inveja sobre quem faz mais. Há que ter consciência de que a crítica ou a inveja é tanto pior quanto mais nos comparamos com quem está melhor do que nós. Quanto mais seguros e maduros somos, vemo-nos de igual para igual, e quando vemos alguém mais distante ou mais à frente, é apenas uma referência de inspiração. Não quero imitar ninguém, pois a cópia é sempre pior que o original. Sejemos iguais a nós próprios.

Por isso, e concluindo de forma bem humorada, no que me diz respeito, se for para inspirar, será um gosto, mas se for para me criticar (bem ou mal), só peço que não se esqueçam que “Ivandro” é com “I”, não com “E” de “Evandro” 🙂

Mudamos pelo que fazemos. Faça diferente. Faça melhor. Todos podemos.

Ivandro Soares Monteiro, Prof Doutor
Psicólogo Clínico | Psicoterapeuta | Executive Coach
www.drivandro.com

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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