Círculo da Europa: O que une e o que separa Emília Ribeiro e José Manuel Fernandes

“Os coordenadores do PS telefonaram-me com um nome (para o Círculo da Europa) e eu disse-lhes que não”, anunciou António Oliveira, dirigente da Secção do PS de Paris, salientando que Emília Ribeiro é uma escolha sua, e detalhando que esse nome não era o de nenhum dos ex-deputados.
As declarações acima foram feitas no dia 30 de abril, em Paris, na apresentação oficial da candidatura de Emília Ribeiro como cabeça de lista do PS pelo Círculo da Europa, uma escolha que configurou um dos maiores “psicodramas” destas legislativas.
“Quero agradecer ao deputado Paulo Pisco pois tem muito mérito (…) mas a política não é uma carreira, é uma missão”, acrescentou António Oliveira mencionando o nome que nesta campanha brilha pela ausência. Eleito durante quase duas décadas na Europa pelo PS, o deputado desapareceu das listas, sendo substituído por dois candidatos e dois suplentes oriundos da emigração: Emília Ribeiro (França) encabeça a lista, seguida de Ana Maria Pica (Suíça). Os suplentes vivem em Inglaterra – Tiago Corais – e na Alemanha – Carlos Pereira.
“As secções há muitos anos que pedem candidatos das comunidades”, insistiu Oliveira, não mencionando que o PS já elegeu, há uma legislatura atrás, Nathalie de Oliveira, portuguesa e autarca em Metz, no leste francês.
A AD – Coligação PSD/CDS poderá até ter consultado as suas secções, mas o cabeça de lista chega direitinho do Governo. José Manuel Fernandes, autarca e eurodeputado, é o atual Ministro da Agricultura e o nome que a AD colocou na lista da Europa, tendo como segundo o ex-deputado e ex-Secretário de Estado das Comunidades, Carlos Gonçalves, um dos nomes do PSD mais (re)conhecidos na diáspora europeia. Os suplentes são Paula Azevedo e Carina Gaspar.
José Manuel Fernandes não tem parado desde que foi escolhido para este “novo desafio”, expressão que utilizou para definir a sua candidatura em entrevista que deu ao BOM DIA. O ministro já visitou vários países, tendo participado em todo o tipo de iniciativas para ir ao contacto das comunidades portuguesas e não só. No Luxemburgo, no início deste mês, teve igualmente encontros com a sua homóloga luxemburguesa na pasta da Agricultura, tendo ainda sido recebido pelo primeiro-ministro do grão-ducado.
No campo socialista a presença no terreno tem sido menos visível, pelo menos no que respeita a Emília Ribeiro, ausente até ao momento da apresentação oficial da sua candidatura, a 30 de abril. Por seu lado, os outros membros da lista estiveram ativos com as comunidades entre 1 e 3 de maio.
A candidata do PS não poupa críticas à AD que considera não ter emigrantes nas suas listas, manifestando orgulho por liderar uma lista exclusivamente constituída por emigrantes.
O candidato da AD tem lembrado que cresceu em França, onde viveu a primeira década da sua vida, mas também os 15 anos que passou em Bruxelas, “onde há uma emigração diferente”.
Os dois candidatos dos dois maiores partidos do chamado “arco da governação” estão de acordo em vários aspetos: necessidade de melhorar os serviços consulares, apoiar o associativismo e os jornais da emigração ou a necessidade do reconhecimento da diáspora portuguesa em Lisboa.
Neste aspeto, ambos apelidam os emigrantes lusos de “embaixadores de Portugal”. José Manuel Fernandes acredita que “quando o país perceber esta força, que não está devidamente percecionada, as nossas propostas serão facilmente implementadas”. Por seu lado, Emília Ribeiro quer valorizar o papel de embaixadores que desempenhamos no mundo enquanto “agentes da cultura, ciência e economia portuguesas”.
O que mais separa, do ponto de vista das ideias, os dois candidatos será provavelmente a forma como o voto eletrónico à distância possa vir a ser implementado. A desavença entre o deputado Paulo Pisco e a direção do seu partido não existe com estes novos candidatos: a cabeça de lista do PS ao Círculo da Europa defende precaução e alerta para os “riscos”. A coligação AD PSD/CDS quer avançar de imediato para o voto eletrónico nas comunidades, acusando “a esquerda” de ter medo do voto eletrónico.
Aliás, José Manuel Fernandes disse num dos debates organizados pelo BOM DIA que o medo não será do voto eletrónico mas da maior participação dos emigrantes e do aumento inevitável do número de deputados pela diáspora a que isso obrigaria. Emília Ribeiro respondeu de imediato: “nós não vamos na onda cega do voto eletrónico”. A candidata do PS defende um estudo de viabilidade que garanta o segredo do voto e que, entretanto, se melhorem os métodos atuais de participação eleitoral.
“Como sou emigrante sou a mais apta para defender a nossa emigração”, concluiu Emília Ribeiro na apresentação da sua lista, ao que José Manuel Fernandes responde com um pedido: “comparem os cabeças de lista, o seu precurso, as suas propostas e depois decidam”.
Recorde-se que nos legislativas de 2024, o vencedor na Europa foi o Chega, seguido do Partido Socialista, tendo eleito José Dias Fernandes e Paulo Pisco.