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Catalães manifestam-se pela independência nas ruas de Barcelona

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Centenas de pessoas manifestaram-se esta quinta-feira em Barcelona, coincidindo com a realização da cimeira de Espanha e França na cidade, para mostrar que o independentismo catalão “está vivo”.

“O independentismo está vivo. Aqui não acabou nada porque a repressão continua sob forma de perseguição económica e julgamentos”, afirmou o presidente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras, que lidera o partido que está no governo regional catalão e que foi um dos líderes independentistas julgados e condenados por causa da tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017.

“Viemos para dizer a [Pedro] Sánchez [o primeiro-ministro espanhol] que aqui não acabou nada”, reforçou Junqueras, que falava no início da manifestação de hoje em Barcelona, convocada por dezenas de partidos, associações e outras entidades que defendem a independência da Catalunha.

Os manifestantes consideram que Sánchez, o líder socialista espanhol que está à frente do Governo de Espanha, está a fazer uma utilização politica de Barcelona, com a escolha da cidade para uma cimeira com outro país, um ato político do estado espanhol que não se via na Catalunha há pelo menos uma década, querendo com isso mostrar aos espanhois e ao mundo que o independentismo catalão e a tentativa de autodeterminação que culminou com um referendo ilegal em 2017 está acabado.

“O conflito não terminará até a sociedade catalã exercer o seu direito à autodeterminação votando. É este o caminho que seguimos. Neste caminho continuamos a trabalhar e a negociar em todos os âmbitos. Fazemo-lo de governo para governo com o Governo espanhol”, afirmou Oriol Junqueras.

A ERC defende que o caminho para a independência da Catalunha passa por um referendo acordado e negociado com o Estado espanhol, no que se diferencia de outros partidos, como o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont, protagonista da tentativa de autodeterminação de 2017 e a viver na Bélgica desde esse ano, para fugir à justiça.

A divisão entre os independentistas catalães, que se mantiveram numa frente unida até ao ano passado, ficou patente nas declarações dos líderes partidários hoje na manifestação de Barcelona e nos gritos de “traidor” que Junqueras ouviu de alguns manifestantes.

O dirigente da CUP (Candidatura de Unidade Popular) Carles Riera culpou o governo regional da ERC de ter aberto “uma pista de aterragem” ao governo espanhol com a abertura de “uma mesa de diálogo” com Sánchez que, afirmou, não existe “para facilitar a autodeterminação e a independência, mas para desativar o conflito” entra a Catalunha e o estado espanhol.

Pelo JxCat, Laura Borrás, sublinhou que a manifestação de hoje quer mostrar ao mundo que “o processo independentista não acabou” e responder “à provocação” de fazer uma cimeira espanhola com outro país em Barcelona.

O atual Governo espanhol tem apostado, desde que tomou posse, em 2019, em “desjudicializar” o conflito entre o Estado e a Catalunha, “normalizar” as relações com a região e dialogar com o poder regional.

Logo em 2019, o Governo de Sánchez indultou os independentistas que estavam na prisão após a tentativa de autodeterminação de 2017.

No final do ano passado, mudou o Código Penal para eliminar da legislação espanhola o crime de sedição, que havia levado à prisão nove independentistas e do qual estavam acusados outros catalães ainda sem processos ou fugidos à justiça, como Carles Puigdemont.

Ao mesmo tempo que os independentistas se manifestam nas ruas, o presidente do Governo regional, Pere Araonès, da ERC, está na cerimónia de receção à delegação francesa, ao lado de Sánchez.

Aragonès e a ERC defenderam que as duas situações são compatíveis e que está em causa a representação dos catalães e das instituições catalãs “com dignidade” perante o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Espanha e França assinam hoje um Tratado de Amizade em Barcelona durante a 27.ª cimeira entre os dois países, em Barcelona.

O Tratado de Barcelona quee vai ser assinado hoje é um tratado que Espanha só tem também com Portugal (com uma nova versão assinada em 2021) e que França só tem com a Alemanha e Itália, sendo documentos que “elevam a um nível máximo” as relações bilaterais, dando-lhes um “enquadramento jurídico” pouco frequente, segundo fontes do Governo espanhol.

As ligações energéticas, a reforma do mercado europeu de energia, o apoio à Ucrânia e a revisão das regras fiscais europeias são outros dos temas em agenda na 27.ª Cimeira hispano-francesa, que juntará em Barcelona, além de Sánchez e Macron, cerca de 20 ministros dos dois países.

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