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Carta aberta aos emigrantes

Caros emigrantes, precisamos de falar.

Nós não tivemos de deixar Portugal para comprar bons carros, nem de deixar o país para estarmos bem vestidos no dia-a-dia. Também na generalidade dos que por cá trabalham, nós não precisamos de ir para fora do país para aproveitar a vida ao máximo e tirar partido do melhor que a vida nos dá. Não temos inveja de quem deixou o país para tentar ter uma vida melhor. Ninguém que conseguiu vingar por cá, quer por obra da cunha (costume típico português) quer pelo seu árduo trabalho, tem inveja nem insiste em brincar com os costumes dos emigrantes que regressam a Portugal no seu período de férias por causa do que a emigração oferece.

Enquanto vocês se levantam cedo e suportam temperaturas negativas, nós por cá, também temos quem o faça. Em Portugal a vida também é dura, tal como é nos países tipicamente habitados por emigrantes portugueses. Temos pena que no estrangeiro não tenham a oportunidade de dormir o dia inteiro, de tirar um dia de folga para estarem a com a família ou a divertirem-se no vosso dia de descanso. Deveriam pedir ajuda, arranjar um novo emprego ou regressarem a Portugal, porque não ter um dia de descanso pode resultar em problemas graves de saúde, e não foi para isso que vocês deixaram o país, pois não? Portanto, sabemos quando estão a exagerar quando dizem que estão a levar ao colo o país em que estão emigrados.

Não temos inveja dos vossos carros. Como costumam observar quando regressam, alguns dos que por cá vivem também gostam de viver com grandes luxos, e, portanto, não há nenhum mal nisso. Não há inveja nem rancor, nem outra coisa qualquer.

O nosso problema com vosso regresso passa essencialmente com a falta de sossego a que estávamos habituados e com os vossos hábitos estranhos. A vossa forma de falar, a vossa forma de vestir, os vossos carros personalizados e a vossa forma de pouca autêntica é que por vezes nos deixa de pé atrás. Percebemos perfeitamente quando estão a exagerar. Percebemos perfeitamente o quanto é duro passar tanto tempo fora, e não ser olhado de frente, e de repente voltar a ser o centro das atenções.

É-nos indiferente a vossas profissões lá fora. Tanto podem fazer trabalhos básicos, como terem altos cargos executivos, se quando regressam parecem autênticos homens e mulheres com dez/vinte anos de atraso, quer de educação quer de comportamento cívico. E isso faz-se notar mais no típico mês do vosso regresso, que nos tira o sossego, principalmente das cidades que ainda não estão carregadas de turistas.

Voltem, mas tragam o sentido de humor, a energia positiva e venham com vontade de trazer alguma coisa nova. Não venham com mente fechada e com presença de superioridade. Não venham com comportamentos que não têm nos países onde estão emigrados. Não tragam a má educação que ocultam durante os meses em que estão fora.

Gozem a vida e aproveitem aquilo que o nosso incrível país oferece e divirtam-se com as piadas daqueles que passam o ano inteiro à vossa espera.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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