“Brexit complicou mas Reino Unido continua a ser extraordinário para cientistas”
O presidente da associação PARSUK, Diogo Martins, considerou que o ‘Brexit’ tornou o Reino Unido menos atrativo para cientistas e investigadores, embora continue a oferecer condições “extraordinárias”.
“Se fosse investigador português ou de fora do Reino Unido e soubesse pelas notícias o que é que tem acontecido, não só na área da investigação, mas também dos direitos dos cidadãos europeus, eu provavelmente não colocaria o Reino Unido em primeiro lugar”, admitiu à agência Lusa o dirigente da Associação dos Investigadores e Estudantes Portugueses no Reino Unido.
Este médico de formação reagia às notícias da dificuldade do Reino Unido em atrair investigadores de topo para o país depois da saída da União Europeia (UE) e do fim de liberdade de circulação.
Em novembro, a revista New Scientist revelou que um programa especial de vistos para vencedores de Prémio Nobel e outros galardões em ciência, engenharia, humanidades e medicina não conseguiu atrair nenhum candidato.
Ao contrário do sistema de imigração normal para cientistas, o Visto Talento Global não tem requisitos como ter já garantida uma bolsa de financiamento britânica ou uma oferta de emprego de uma organização do Reino Unido.
A PARSUK está atualmente a fazer um estudo sobre os benefícios da mobilidade de cientistas europeus para o Reino Unido, cujos resultados ainda não estão concluídos.
Entretanto, Diogo Martins foi cossignatário em abril, juntamente com outras associações de cientistas, de um artigo na revista Nature em que manifestava preocupação com o impacto do ‘Brexit’ na investigação.
O impasse nas negociações para o acesso do Reino Unido ao programa comunitário de financiamento da investigação Horizonte Europa está a atrasar projetos e a levar cientistas a ponderar trocar o Reino Unido por outro país europeu.
“Não me surpreende que o Governo britânico tenha tido essa abordagem de quererem atrair uma diáspora qualificada de topo. O que também não me surpreende é o resultado”, afirmou o português, que trabalha para a fundação Wellcome Trust, enquanto realiza um doutoramento na universidade London School of Hygiene and Medicine.
Segundo Martins, “a comunidade académica é uma comunidade móvel, inteligente”, que terá percebido que a relação custo benefício de mudar para o Reino Unido “não é assim tão óbvia”.
“Para uma pessoa demonstrar que é um investigador de topo tem de demonstrar isso de forma muito exaustiva. Imagino que seja uma coisa pesada. Se for um investigador de topo e tiver uma oferta rapidíssima para ir para a Alemanha ou para os Estados Unidos, não vai estar a complicar a vida, a não ser que pague muito, muito bem. Aqui pagam bem, mas não é comparável a sítios como a Suíça, Estados Unidos ou a Austrália”.
Ainda assim, vincou, o Reino Unido, para onde se mudou há seis anos, “continua a ser um destino de topo e um local de eleição para o trabalho”, onde as instituições científicas se têm tentado adaptar ao novo contexto político.
“Há uma cultura de trabalho extraordinária, há uma diversidade extraordinária de aceitação de culturas internacionais e oportunidades de carreira extraordinárias. É um sítio de referência, e não deixaria de recomendar que as pessoas viessem. Mas é mais difícil do que há seis anos”.
A PARSUK realiza no dia 04 de junho em Londres o 15.º encontro anual, desta vez dedicado ao valor social da ciência, que vai contar com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato.