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Até em política devia haver regras de decência e decoro

Os políticos, agasalhados em partidos que são hoje caldo de cultivo para a formação de mau caráter, más práticas éticas, e sabujismo indecoroso nos militantes (nem se fale naqueles que frequentam as incríveis “Universidades de Verão” dos partidos), são os principais responsáveis pelo afastamento crescente dos votantes dos atos eleitorais.

Hoje às eleições acorrem, com sorte, 50 % dos potenciais votantes. Ou seja, e a matemática não mente, quando um partido se vangloria de que ganhou as eleições com por exemplo 40% dos votos, o que isso realmente significa é que só representam de facto 20% dos eleitores (50% x 40 %)…

E quando os deputados eleitos pelo partido que ganhou com 40% dos votos não chegam para governar em maioria, e esse partido se alia (no fundo prostitui-se, muitas vezes contrariando o pensamento daqueles que votaram neles, a troco de apoio parlamentar) com forças políticas marginais e radicais, e conseguem obter a maioria para governar com digamos outros 10% obtidos pelos partidos convidados para a coligação, então temos que 25 % dos eleitores ( 40% + 10% = 50%, 50% x 50% = 25%) passaram a impor a sua vontade, o seu modelo de sociedade, as suas políticas, as suas causas fraturantes, aos 75% dos eleitores que ou não foram ao ato eleitoral (culpa deles, dizem-nos), ou votaram noutras forças partidárias.

Eis aqui a principal causa do brutal e acelerado processo de enfraquecimento das democracias ocidentais, e do aparecimento crescente de forças radicais, muitas delas com tiques autoritários bem pouco democráticos. Como certamente se lembram, isto chegou ao pináculo da desfaçatez há uns anos atrás (2015) na Grécia, quando um partido de extrema-esquerda, o Syriza (o Bloco de Esquerda lá daquela malta), se associou a um partido de extrema-direita, o Aurora (o Chega deles), para obter maioria parlamentar… Bem diz o povo que os extremos tocam-se…

Com as crescentes taxas de abstenção, quem governa hoje só e apenas formalmente representa a maioria dos eleitores. E portanto as franjas eleitorais que se sentem marginalizadas tendem a radicalizar-se, porque assistem impotentes a como causas impostas pelos parceiros minoritários da coligação, que só obtiveram 5% ou 7% dos votos, e portanto representam realmente apenas a forma de pensar de 2.5% (5% x 50%) ou 3.5% (7% x 50%) dos eleitores, impõe pontos absurdos da sua agenda eleitoral à esmagadora maioria da população através de claríssima chantagem exercida sobre o partido que os convidou para a coligação (ou votas nisto, ou retiramos-te o apoio parlamentar, e o teu governo cai…).

Mas porque será que as pessoas deixam de votar ? O “nem vale a pena lá ir votar, são todos uns ladrões”, “venha quem vier, é sempre a mesma corja”, “eles querem é um tacho que lhes garanta uma reforma milionária ao fim de poucos anos de pouco ou nenhum trabalho”, são apenas umas das pérolas (as mais inofensivas até …) que ouço consistentemente. Há insultos muito piores e indignos que me abstenho sequer de aqui mencionar, para não ter as ligas de ativistas de causas minoritárias atrás de mim nas redes sociais….

Lembrei-me de trazer este assunto à discussão pública, porque estamos a 2 meses de um processo eleitoral autárquico (importantíssimo), e a cloaca partidária destapou-se em força. Já veremos um par de exemplos, mas antes gostaria de comentar o seguinte. Há muito que nos processos eleitorais não se debatem ideias, projectos societários alternativos, modelos estruturais de sociedade. É só insultos e baixaria complementados com “o meu é maior do que o teu”, entenda-se lá o que se quiser com isto. Esta acaba por ser outra das razões fortes pelas quais os potenciais eleitores preferem ver na TV o Big Brother e o Quem Quer Ser Milionário em vez dos debates eleitorais, e depois se escusam de aparecer no ato eleitoral.

As eleições autárquicas são ainda hoje um modelo mais perfeito de proximidade ao eleitor, e às reais necessidades das regiões, porque de forma crescente já não se trata tanto da sigla partidária, que para muitos ainda é escolhida por inércia, mantendo-se através dos anos, tal como o clube de futebol de eleição, mas realmente de projetos e ideias apresentados aos eleitores da região, por caras que eles conhecem.

A nível nacional ainda vale o “pode-se trocar de mulher, nunca de clube ou de partido”, segundo os fanáticos. Nas autarquias (Câmara, Junta de Freguesia, etc.), conhece-se as manhas dos candidatos, o seu percurso académico e profissional, a sua vida pessoal e familiar, e muitas vezes os seus podres. E há mesmo autarquias em que as pessoas acabam por querer votar conscientemente em autarcas conotados com processos de enriquecimento ilícito / branqueamento de capitais, com passagem pela prisão, como Isaltino Morais em Oeiras, e se perguntarem a alguém, no concelho deste país que estatisticamente é o mais rico e o mais educado de todos, porque é que votam nele dizem-nos invariavelmente “sabemos que rouba ou roubou, mas faz”…. A democracia não pode ser reduzida a isto !

Os anseios das populações no sentido de ter uma vida tranquila, com bons serviços públicos, ruas e passeios arranjados, equipamentos de lazer e desportivos de qualidade e bem mantidos, recolha de lixo operacional, etc., é de tal ordem gritante (como a de um homem perdido no deserto que encontra a última garrafa de água disponível para matar a sede…), que as pessoas fecham um olho ao passado (espero que seja realmente só ao passado…) dúbio do autarca, e reelegem-no tantas vezes quantas as que possa e queira apresentar-se às eleições, porque este município de Oeiras é dos melhor geridos a nível nacional.

A oposição sabe que é uma causa perdida tratar de retirar a Câmara ao autarca modelo (modelo na ação em prol da população local, não nos eventuais vícios privados…) e põe sempre a concorrer candidatos para “queimar”, que não têm outra estratégia a não ser fazer um pobre Marketing de guerrilha. Em todo o lado em que a Câmara de Oeiras fez obras de beneficiamento de infra-estruturas, aparece um cartaz com a fronha do principal candidato da oposição a sorrir alarvemente e a afirmar que “fazer diferente e melhor é possível” …

Há outras situações em que o autarca é modelo, como em Vila Nova de Gaia, onde não se lhe pode pegar em nada porque é conhecido e reconhecido que o autarca não tem telhados de vidro em termos de enriquecimento indevido à custa do erário público, e então trata-se de o agarrar com acusações anónimas, um ato da mais pura e abjeta covardia. Há quatro anos trataram de atacar o Dr. Eduardo Vitor Rodrigues através de denúncias falsas relacionadas com a esposa (ao que se chegou em termos de baixaria), e este ano, a 2 meses das eleições, com denúncias de “auto-plágio” (copiou-se a si próprio dizem!) na elaboração de uma tese de doutoramento. O autarca defendeu-se publicamente de forma mais do que credível, e obviamente este caso não terá a mais mínima repercussão na sua reeleição para um terceiro mandato, porque aquilo que os sabujos que usam ataques de caráter para enfraquecer os oponentes ignoram é que as populações perdoam ao autarca mesmo os pequenos desvios éticos reais, desde que não sejam crimes de sangue, quando eles estão a trabalhar reconhecidamente para benefício das coletividades autárquicas!

Porque a alternativa, ou seja quando um autarca não faz nada a não ser tratar de si e dos seus, é sempre pior. Sou Gaiense e infelizmente não voto em Gaia, mas sim em Oeiras. Apesar de saber perfeitamente quem é Isaltino Morais, porque não vejo o Big Brother, leio e informo-me, ele contará sempre com o meu voto enquanto puder ser reeleito. Para evitar que ele caia novamente em tentação, espero não pela Justiça Divina nem pela doutrina da Igreja, assente nos 10 Mandamentos (em particular neste caso o “não roubarás”) , mas nos controles do Estado que pagamos a peso de ouro com os nossos impostos para, entre outras coisas, prevenir precisamente que os políticos prevariquem e metam a mão no “cookie jar” (gringo para caixa das bolachas, há quem diga o pote de mel)….

As eleições autárquicas são de tal maneira importantes a nível local, e a identificação dos candidatos com os reais anseios das populações tão fulcrais para a eleição, que os partidos têm ficado assustados com os movimentos de cidadãos independentes a concorrer às autarquias. Trataram de dificultar o acesso de independentes às eleições, mas acabaram por ter de atirar a toalha. Pode ser curiosamente através deste mecanismo autárquico independente que os partidos acabem por se sentir forçados a atuar e a regenerar-se, sendo cada vez mais exigentes com a qualidade dos militantes que apresentam aos processos eleitorais locais, com impacto subsequente nos nacionais. Há que ter esperança, mas para já seria fundamental credibilizar os processos eleitorais, e combater a abstenção, para que os resultados comecem a refletir uma parte crescente da população.

Aos meus compatriotas só lhes peço uma coisa. Estejam onde estiverem, não deixem de votar em todos os processos eleitorais para os quais possam fazê-lo. A abstenção é o caldo de cultivo em que se desenvolvem os radicalismos anti-democráticos.

José António de Sousa

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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