De que está à procura ?

Comunidades

Apoios: associações na Suíça queixam-se da burocracia portuguesa

© Ricardo Silva / BOM DIA

Dirigentes associativos radicados na Suíça denunciaram este fim de semana, durante a conferência Portugal+, organizada pelo BOM DIA em Genebra, a dificuldade crescente da obtenção de fundos do Estado português para as respetivas coletividades devido aos critérios apertados exigidos pela Direção-Geral de Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP).

Num painel, moderado pelo professor e psicólogo Ivandro Soares Monteiro, denominado “A crise das associações”, Paulo Pisco, deputado eleito pelo círculo da Europa, Anabela Fraga, empresária, autarca e associativista, Paulo Sousa, associativista e cabeça de lista pelo partido RIR na Europa nas últimas legislativas, José Sebastião, associativista, sindicalista e cabeça de lista europeu pelo MAS nas últimas legislativas, e Ivane Domingues, associativista, dissertaram sobre as suas visões relativas ao passado, presente e futuro do associativismo português na Suíça, incidindo, sobretudo, os seus discursos na incapacidade de renovação e inovação das associações, assim como na dificuldade das mesmas garantirem apoios do Estado, que consideram “fundamentais” para a sua existência.

Desafiado a apontar as causas da atual crise no associativismo da diáspora, Paulo Sousa não teve pudores ao apontar uma franja da diáspora como culpada. O associativista explicou que “os antigos emigrantes” não tiveram a capacidade de transmitir a importância deste tipo de iniciativas às gerações mais novas, “motivo que tem levado ao encerramento de diversos estabelecimentos devido à falta de membros”.

Ricardo Silva / BOM DIA

Por sua vez, Anabela Fraga, que iniciou a sua intervenção lamentando a falta de representatividade das associações lusas sediadas em Genebra na conferência – que teve lugar no Collège de Pinchat, em Carouge -, contrapôs ao representante do partido Reagir Incluir Reciclar vincando que naquela cidade helvética não há falta de associações portuguesas, mas sim de apoios, sobretudo financeiros: “Os incentivos do Governo português para as associações na Suíça são nulos. Somos o país que mais remessas envia para Portugal e aquele que menos apoios recebe do Estado português. Em 2022 nenhuma associação foi ajudada”, rematou.

Ricardo Silva / BOM DIA

O sindicalista José Sebastião fez questão de alertar para o sistema de voluntariado que “ainda caracteriza a maioria das associações na Suíça”. Explicando que são poucos os movimentos associativos que “já funcionam como empresas”, garantiu também que os membros mais antigos estão mais habituados a dar um pouco do seu tempo livre, sobretudo aos fins de semana, e explicou que os mais jovens, devido à conjuntura atual, têm mais dificuldades em dispensar as suas poucas horas livres com trabalhos associativos não remunerados.

“O facto de Genebra ser uma cidade cara torna a sobrevivência das associações ainda mais complexa”, referiu durante o painel.

Graças às dificuldades financeiras encontradas por estas causas sem fins lucrativos, José Sebastião sinalizou a necessidade de repensar os fundos de apoio à emigração: “Enfrentamos muitas dificuldades, não só a nível político, onde há muito diálogo e pouca ação, como para fazer face à complexidade do sistema de apoios da DGACCP. Os critérios para acesso aos apoios do Governo foram feitos para beneficiar as grandes associações. É tão difícil pedir 600 euros como 600 mil”, lamentou.

Ricardo Silva / BOM DIA

Ivane Domingos, por seu turno, considerou que a falta de novos membros nas associações portuguesas da diáspora está a prejudicar o associativismo e assumiu já ter assistido ao encerramento de diversos projetos devido à falta de renovação de membros ou por falta de inovação: “As associações criadas nos anos 60 e 70 e que acolhiam, maioritariamente, os portugueses recém-chegados ao país estão a perder relevância com o tempo. Mas há também associações que se vão reinventando”.

Ricardo Silva / BOM DIA

Respondendo às críticas colocadas pelo restante painel, Paulo Pisco assumiu que a atual crise do movimento associativo está ligada à evolução da sociedade e, embora tenha defendido que o movimento associativo tradicional deve ser preservado, desafiou os portugueses a não ficarem “presos ao passado”.

O deputado socialista recordou que o movimento associativo desempenha, desde os anos 60, um papel fundamental de referência no seio das comunidades portuguesas e defendeu a sua posição com um referência aos governos do PSD: “Houve um período em que a atribuição de apoio às associações era totalmente arbitrário e em que os mesmos eram entregues conforme amizades e critérios partidários, e essa é a forma como não devem funcionar estes tipos de ajudas. Enquanto José Luís Carneiro foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, houve uma alteração de regulamento que tornou o acesso aos apoios mais transparente”.

Este aumento de rigidez, que concorda, “deve ser revisto (…) obriga as associações a terem práticas mais regulares e a tornarem-se cada vez mais funcionais”, justificou.

Ricardo Silva / BOM DIA

Veja aqui o debate completo:

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA