Antigo diretor da prisão de Alcoentre nega fuga por falta de guardas

O ex-diretor da Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) defendeu esta semana que a fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, não se ficou a dever a uma alegada falta de guardas prisionais.
Numa audição realizada na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, na Assembleia da República, Rui Abrunhosa Gonçalves considerou a fuga “muitíssimo grave”, mas salientou que os 33 guardas prisionais ao serviço no dia 07 de setembro, naquele estabelecimento prisional, eram o contingente habitual.
“O número de guardas que existiam era o número que estava mais do que estipulado para as funções. Há muito que já estava assim desde a reorganização dos turnos feita em 2017. Tirando esta fuga, nunca houve outra fuga em mais de 24 anos”, afirmou o ex-diretor da DGRSP, que apresentou a demissão na sequência deste caso, resumindo: “Esta fuga tem a ver também com aquilo que os delinquentes fazem – verificar as atividades rotineiras”.
Apesar de ter recusado atribuir culpas diretamente aos guardas prisionais pela fuga, Rui Abrunhosa Gonçalves não deixou de indicar que é necessário investigar a situação.
“Eu não ponho em causa o brio dos guardas prisionais; agora, é preciso apurar responsabilidades: se alguém não fez o que devia ter feito ou se fez tardiamente”, observou, continuando: “Esta fuga é muitíssimo grave e só me posso penitenciar por isso, só não posso dizer que a fuga tenha a ver com a falta de pessoal. O pessoal era o relevante para aquele dia”.
Rui Abrunhosa Gonçalves reconheceu também que a escassez de guardas prisionais “é uma realidade” e que comunicou à tutela as necessidades de recrutamento, assumindo igualmente que o parque prisional português está “extremamente envelhecido”. Por outro lado, indicou que não falou diretamente com a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, quando comunicou a fuga dos reclusos de Vale de Judeus.
“Nunca tive uma comunicação direta com a senhora ministra. Comuniquei com a chefe de gabinete e com uma funcionária do Ministério da Justiça. Não tinha o telefone da senhora ministra”, disse o ex-diretor da DGRSP, sublinhando a expectativa de que os diversos relatórios que estão em elaboração possam apontar, “além das responsabilidades, culpas”.
O ex-diretor da DGRSP admitiu ainda ter sido “mal interpretado” nas suas palavras sobre a existência de uma suposta cerca elétrica em torno da prisão de Vale de Judeus.
“Este estabelecimento prisional nem sequer tinha previsto torres arquitetonicamente e a cerca a que me referia é que há lá painéis sensoriais de infravermelhos que nunca foram usados, porque efetivamente deitavam a luz abaixo”, esclareceu.
Já o ex-subdiretor da DGRSP, Pedro Veigas Santos, que também foi ouvido nesta audição, assumiu falhas e explicou que a demolição das torres de vigilância da prisão de Vale de Judeus, em 2017, se terá ficado a dever à falta de orçamento: “Aquilo que se previa de custo era na ordem dos 250 a 280 mil euros por cada torre, o que significa que o orçamento para as quatro torres seria sempre superior a um milhão de euros”.
Cinco reclusos fugiram no dia 07 de setembro do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa.
Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.
Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.