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Ano novo – nada pode ser esquecido

Apesar da maioria estar ansiosa pela mudança, virada de calendário ou atualização prática, automática dele nos dispositivos móveis, não sinto diferença. Seria algo no ar? Não que eu esteja automatizada. Talvez seu contrário. Se eu não soubesse que dia é hoje [ o que quase nunca sei, pra ser sincera ], sentiria eu a pressão de fim de ano e urgência do que pensar/esperar de 2017?

Como digo: não crie expectativas, crie marrecos, capivaras, nunca expectativas. 2017 não lhe dará nada, se você não mostrar algo. Por si. Se não olhar, fizer diferente. Isso pra todos. Pra mim. Ninguém escapa.

Vejo que preciso de uma nova agenda, mas a grana ainda não deu. As anotações dando volta nas últimas páginas da atual em vias de antiga. Desses parágrafos e números, fechando mais um ano. Abrindo mais um livro [ tentando terminar o meu, mas, quanto mais penso que estou no fim, penso que o fim dele precede minha não existência neste curioso planeta ].

Falando em livros. Estava à procura de um e baixei 36 [ aff! ] e tem mais uns na fila, dos “na busca”. A internet é maravilhosa. Tudo hoje, tudo agora. Ainda tenho dois dias. Três, se contar o hoje do agora, mais um chorinho de horas resgatadas no [con]fuso do Brasil.

Diariamente em minha timeline, um vale de lamentações sobre como 2016 foi “cruel” conosco. Ele deve ser tão poderoso-onipresente, que nem conseguimos ver tamanho inimigo volátil e vil, com ouvidos atrás das portas, à nossa espreita.

Nos rendemos e somos obrigados a fazer am izade #bestfriendsforever com 2017, que nem ainda nos conhecemos, mas, ‘já o consideramos pacas”. Sem dúvida será melhor que o ano [ eca ] em que estamos. Para finalizarmos em decepção igual ou em maior grau, e com sentimento de que fomos ludibriados por uma carinha inocente linda, vista de longe, lá da contagem regressiva, borbulhas, estourar de champagne, apressada e pouco avaliativa real, do fim do túnel de 2016.

Para atestar se um ano foi bom ou não, talvez valesse a pena o teste aplicado por um jornal parisiense [ L’Intransigeant ], em 1922, que, encurtando a prosa era: “e se um cientista anunciasse que o mundo irá acabar, ou pelo menos parte do continente será destruído?”

Proust, um dos meus companheiros de aventura, dispõe de alguns minutos para responder ao jornal:

Acho que, de repente, a vida nos pareceria maravilhosa se estivéssemos de morte como o senhor diz. Pense em quantos projetos, viagens, casos de amor e estudos a vida oculta de nós, tornando-os invisíveis por conta de nossa preguiça, que, certa de um futuro, adia-nos incessantemente.

Mas, sob a ameaça da impossibilidade eterna, tudo isso voltaria a ser lindo!

Ah! Se o cataclismo não acontecer desta vez, não deixaremos de visitar as novas galerias do Louvre, de nos jogar aos pés da Srta. X, de fazer uma viagem à Índia.

O cataclismo não acontece e deixamos de fazer tudo isso porque voltamos ao âmago da nossa vida normal, no qual a negligência arrefece o desejo. Mas não deveríamos precisar do cataclismo para amar a vida de hoje. Seria suficiente pensar que somos humanos e que a morte pode acontecer esta noite.

Na verdade, tenho até 2018 rabiscado, sempre com uma caneta de cor leve, podendo ser sobrescrita. Nada é certo, estático, imutável. Eu queria muitas coisas, mas não posso todas. É preciso fazer escolhas diárias. E até os aparentemente livres, fizeram as suas, lidam com isso e possuem rotina. As gramas estão todas nos conformes. É sério.

Temos nossas baixas de caos e cal, em que queremos colocar uma pedra em tudo e dar cabo, voltar pra Saturno. Fim. Para ajudar a não ficar com a visão turva sobre o ano, e atmosfera de final de domingo e labuta na segunda, recomendo uma ideia para colocar em prática já na noite da virada. Pode ser sozinho, a dois, em família [ que pode ser na empresa, quem disse que lá não é uma? ]. A cada pequena coisa boa fantástica que acontecer, anote e coloque em um pote de vidro. No fim do ano, reúna esse grupo e leiam um a um. Todos leem, todos se ouvem. Um exercício bacana e forma de valorizar os pequenos atos dos dia a dia, que ficam comuns e esquecidos. Já fiz e foi emocionante e reforça laços.

Novo capítulo. Façamos o novo, sejamos. Mergulhemos. E se der medo, vá com medo mesmo. O tempo urge. Sobrevivemos. Feliz por mais um ano. Todo dia. Viva!

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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