Alexandre Assine a caminho de amadurecimento poético
Alexandre Assine partiu do Brasil cujo mercado editorial considera “fechado para novos poetas” e acaba de receber em Portugal o Prémio Revelação Literária UCCLA-CM Lisboa. Enquanto escreve novos livros, aqui fica uma breve conversa sobre o seu percurso criativo.
Como recebeu o Prémio Revelação Literária UCCLA-CM Lisboa?
Com grande alegria. O mercado editorial brasileiro é fechado para novos poetas. Assim, o prémio significou para mim que o livro pode finalmente encontrar leitores, nos membros do júri, e encontrará outros mais. Agradeço muito os organizadores do prêmio – é preciso de iniciativas como essa para abrir portas a novos autores.
Qual a ideia que esteve na base deste seu livro «caligrafia»?
O livro parte de uma recolha de material poético heterogéneo. Sua concepção é ser todo este material parte de um caminho de amadurecimento poético. Daí chamá-lo “caligrafia”.
O livro inclui sonetos, haicais e poemas em verso livre: foi uma opção deliberada e pensada ou são apenas diferentes formas de expressão?
A unidade do livro advém de ser um itinerário poético. Assim a diversidade formal é reflexo desse caminho. O livro de poemas que estou escrevendo no momento é muito mais coeso formalmente, e creio que essa será a tendência dos meus livros de poemas a partir de agora.
Quais são os poetas que mais influenciaram a sua escrita?
Alguns brasileiros me influenciaram muito. Penso antes de tudo em Ferreira Gullar e Manuel Bandeira. Dos portugueses, Pessoa é incontornável, mas por anos mais me intimidou que inspirou. É grande demais. Contudo, a leitura assídua de seus poemas foi gradativamente se insinuando no que escrevo, e cada vez mais. Fora isso, alguns poetas fora da língua pátria foram fonte de grande inspiração. Penso, a respeito de caligrafia, particularmente no espanhol Antonio Machado e na norte-americana Emily Dickinson.
Além da poesia, que outros géneros já ensaiou?
Tenho um conto publicado numa coletânea dos finalistas de um concurso da União Brasileira de Escritores, mas o reconheço ainda imaturo. Entretanto foi meu primeiro passo na prosa, e creio nisso sobretudo consistir seu valor.
Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
Estou escrevendo uma novela e um novo livro de poemas. A novela me faz penar um tanto, pois ainda estou aprendendo muito dos fundamentos da prosa – passos que já dei na poesia. Já a escrita do livro de poemas, por outro lado, tem sido um deleite. Depois de anos, a técnica está finalmente apurada para mover o cinzel com maior precisão – e posso me impor maior rigor formal. Paralelamente tenho três livros de não ficção em diversos estágios de composição – “Areia”; “Seixos” e “Matacões”. “Areia” é composto de aforismos e está basicamente completo; “Seixos” de fragmentos de um ou alguns parágrafos e está em ativa composição; “Matacões” é um livro de ensaios, em grande parte por fazer.
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Entrevista de Nunes Carneiro
Caligrafia de Alexandre Assine
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