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Uma “Breve História de Portugal” não nos fazia nada mal

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Os investigadores Raquel Varela e Roberto Della Santa, autores da recém-editada “Breve História de Portugal”, defendem que “as possibilidades efetivas da transformação social” se abrem quando existe “consciência histórica”, porque ela nos permite “reconciliar com nós próprios”.

“Breve História de Portugal. A Era Contemporânea (1807-2020)”, que chegou no final de novembro às livrarias, é a contribuição dos autores para essa transformação social, como afirmam na introdução, enfatizando que “a história não é nenhum tribunal”, mas sim “realizada e escrita por nós mesmos.”

“Ser e estar no presente exige-nos confrontar o passado para perspetivar o futuro”, neste sentido, defendem Varela e Della Santa, “é preciso conhecer a própria história para ser parte dela como sujeitos.”

No mesmo texto, os autores esclarecem que o livro “foi elaborado a partir” das convicções dos autores, nomeadamente que “o mundo no qual vivemos está dividido entre quem se apropria do trabalho alheio e quem produz a riqueza social, entre quem governa e quem é governado”, que “todos os homens e mulheres são intelectuais”, e que “é possível desenvolver um conhecimento científico do passado para uma transformação do presente.”

Este fator é apontado pelos autores como “central para a era contemporânea”, abordada neste título.

“Breve História de Portugal. A Era Contemporânea (1807-2020)” vai, cronologicamente, do ano em que a corte portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro, evitando um confronto direto com as tropas napoleónicas que invadiam o país, até 2020, quando são conhecidos os primeiros casos da epidemia de covid-19 e em que “as 25 famílias mais ricas de Portugal” concentravam, “em propriedades e ativos, 17,9 mil milhões de euros, equivalente a 10% da riqueza nacional”.

Os autores afirmam a sua opção clara pela premissa de desenvolvimento do conhecimento do passado “para uma transformação do presente”, propondo “uma ciência e sobretudo práxis históricas voltadas para criticar, abolir e, por fim, superar [a] divisão social hierárquica entre as classes e frações sociais de dirigentes e dirigidos”.

“Para isso nos empenhámos a escrever esta ‘Breve História de Portugal’”, enfatizam a historiadora Raquel Varela e o cientista social Roberto Della Santa.

Os autores citam o filósofo marxista Antonio Gramsci que reafirmou o “conhece-te a ti mesmo”, “reverberando um velho adágio da filosofia clássica de Sócrates [que morreu no ano 399 antes de Cristo]”, lembrando que todos “somos inseridos numa ‘conceção do mundo’ que nos ultrapassa e compreende.”

Referindo que “os grupos sociais nos quais estamos envolvidos ditam o ritmo da ação e do pensamento que criamos”, as alternativas são “abraçar o exterior, de modo apático e subalterno”, mantendo “os traços da nossa personalidade histórica” formada exteriormente, por outrem; ou, pelo contrário, “ousar e elaborar a própria conceção de mundo, de modo consciente e crítico, isto é, em conexão íntima com a razão”.

Ou seja, “reelaborar a nossa consciência e tomar parte ativa na produção efetiva da própria história (guia de si mesmo). Só assim poderemos adquirir autonomia moral e intelectual”, escrevem os autores.

No posfácio a este volume, o professor de História Contemporânea da Universidade de S. Paulo Osvaldo Coggiola salienta que, neste livro, Varela e Della Santa conseguiram “superar brilhantemente” o obstáculo “de considerar a ‘particularidade portuguesa’ como uma singularidade única na história”, evitando assim a armadilha na qual “cai certa historiografia nacionalista”, para “expor e explicar Portugal, das contradições ‘nacionais’ ou seja, do seu lugar na construção do mundo das nações e do imperialismo, e dos conflitos de ‘classe’, que pautaram a sua história contemporânea”.

Como faz notar Coggiola, nesta “Breve História de Portugal”, as singularidades de Portugal “aparecem como produto da particular refração, no plano nacional, de tendências orgânicas da história mundial, que informaram a sua história praticamente desde o berço”.

Coggiola cita a revolução do 25 de Abril de 1974, que pôs “os acontecimentos lusitanos nas manchetes de jornais do mundo inteiro”, e “fechou de modo extraordinário (e também inesperado) o ciclo revolucionário de alcance mundial que se havia iniciado em 1968, com o maio francês, a primavera de Praga e outros acontecimentos que anunciaram o fim dos ‘trinta anos gloriosos’ do capital.”

“Parece, novamente, que a singularidade persegue o papel de Portugal na história mundial”, afirma Osvaldo Coggiola.

Para os autores da obra, a Revolução dos Cravos “é uma revolução social do século XXI”.

“É uma revolução ultramoderna num país híper atrasado: combina a revolução anticolonial em África com a revolução política em Portugal, a revolução democrática com a revolução social; o trabalho manual com o trabalho intelectual; os homens e as mulheres; os estudantes e os trabalhadores; a cidade e o campo.”

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