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Tou pampa pá minha vida! 

“Sentei-me na praia, e quando dou por ela fui enlaçada pela maresia, anestesiada, não fugi.”

Dévora Cortinhal  

Esta mania que os portugueses arranjam desculpa para poder comer doces quando estão doentes… e os pexitos pelos vistos não são exceção.

Hoje, venho-vos contar a história de um doce tradicional de Sesimbra, a farinha torrada.

A origem deste doce é incerta, mas sabe-se que começou a ser usada pelos sesimbrenses no início do século XIX, como remédio para a constipação e a tosse. Sesimbra é uma vila dedicada à pesca, por isso, os pescadores durante a faina em alto mar usavam a farinha torrada como alimento, por causa das propriedades energéticas e de longa duração deste alimento. 

E, então, se eu vos disser que este doce fica bem na companhia do moscatel de Sesimbra? Agora, no inverno, (e, onde eu estou já está uma brisa do cacete), com a gripe ou o COVID aí à porta já sei o que vou fazer, já me estou a imaginar, deitada na cama com lenços na mesinha de cabeceira, o nariz todo vermelho, um copo de moscatel de Sesimbra (um copo, porque um cálice é para meninos) e farinha torrada à farta, sem medo de engordar.  

Quando eu penso que Portugal já me mostrou tudo, ele agarra-me e deixa-me descobrir um novo recanto edénico.

Sesimbra, é um tesouro escondido à beira-mar, o sítio onde vale sempre a pena regressar. É daqueles sítios que uma vez que entram na tua vida, entranham-se e ficam. Das pessoas à própria vila é tudo quase perfeito, eu cresci numa zona piscatória, em Matosinhos, mas, Matosinhos tem se vindo a tornar demasiado hodierna, Sesimbra ainda consegue manter a sua magia de vila à beira-mar. E, tenho de admitir, que não só o moscatel e a farinha torrada me maravilharam, mas foi dos sítios onde comi o melhor polvo, – é que eu tenho o ritual de quando vou a Portugal a primeira coisa que como é polvo -, e o polvo de Sesimbra no restaurante o Velho e o Mar foi dos melhores que já comi!

Posso dizer que na minha última passagem fiquei em transe, fiquei em género de coma que me deixou anestesiada que me esvaziei por completo para poder recarregar energias de novo.

O meu dia na praia do Ribeiro do Cavalo foi uma experiência de outro mundo, é como se no espaço de 9 horas a praia pegasse em mim e me desse uma sova que me deixou de rastos, mas no bom sentido e esta anestesia não era o fumo das coisas que estavam a fumar nas tendas ao lado. Quando dou por mim estou no porto de abrigo, com as toalhas na mão, o cabelo com três toneladas de areia (acho que ainda hoje devo ter areia em algum lado escondida), estafada, mas feliz. Com a frase na cabeça: “é para isto que servem as férias!”.

Em resumo, apaixonei-me pela vila de Sesimbra (freguesia de Santiago). As pessoas de Sesimbra estão de parabéns por cuidarem tão bem da sua vila. E, nós, meros externos, somos bem recebidos pela hospitalidade nata das pessoas do mar, que também são a minha gente, mas só que de outra zona.

Agora, deixo-vos a receita da farinha torrada. O vosso farmacêutico não vai gostar, mas paciência… 

Receita

Pré-aqueça o forno nos 180°.

Numa taça junte 500 gramas de farinha sem fermento, 500 gramas de açúcar amarelo, 1 colher de chá de canela, raspas de 1 limão e 100 gramas de chocolate picado.

Misture tudo e acrescente 2 ovos batidos, envolvendo a cada adição.

Por fim, adicione o sumo de 1/2 limão, volte a misturar e deite sobre um tabuleiro com 22 por 22 cm, forrado com papel vegetal.

Alise a superfície, sem calcar, e leve ao forno por 30 minutos.

Passado esse tempo, desenforme e parta em pedaços para servir.

Bom apetite!

Dévora Cortinhal

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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