Inspirado no Auto da Lusitânia, de Gil Vicente, com o mesmo nome – Todo-Mundo e Ninguém.

Do que esta história contém,
Há uma moral como pano de fundo,
São dois irmãos e um chama-se Ninguém,
O outro Todo-Mundo.

Todo-Mundo
Anda pensativo e preocupado
Porque quer uma vida melhor,
Ninguém
Sabe que por vezes a vida é um fardo
De sacrifício, sangue, lágrimas e suor.

Todo-Mundo
Quer ser rico e abastado
Viver bem e com fartura,
Ninguém
Sabe que o pobre é sempre sacrificado
E que os seus sonhos, são sol de pouca dura.

Todo-Mundo
Acha que tem direito a ser feliz
Mas não quer trabalhar,
Ninguém
Sabe que o que Todo-Mundo diz
Não é fácil de alcançar.

Todo-Mundo
Discute e acha que tem sempre razão,
Diz mentiras e usa de falsidade,
Ninguém
Sabe que mentir não tem perdão
E que se descobre sempre a verdade.

Todo-Mundo
Gosta de dar nas vistas porque é vaidoso
Achando-se de todos o maior
Ninguém
Sabe que é pecado e é piroso
Achar-se mais importante ou melhor.

Todo-Mundo
Fala dos outros, sem para si mesmo olhar,
E esquece que também tem imperfeições,
Ninguém
Sabe que de tanto dos outros se falar
Só se arranjam problemas e confusões.

Todo-Mundo
Tem dificuldade em entender que a vida
é como um mistério por desvendar
E que nela contida
Há o segredo de saber amar.
Ninguém
Sabe que o segredo de viver,
É o amor, o respeito e a verdade,
E de tudo o que há para aprender
É o valor do amor e da amizade.

Todo-Mundo
Anda numa correria desenfreada
Ocupado com o que pouco importe
Ninguém
Sabe que de uma vida agitada
Encurta-se a vida, apressa-se a morte.

Todo-Mundo
Sabe que a terra está a sofrer
E que dá sinais de que se deteriora,
Mas pouco ou nada faz para mudar.
Ninguém
Tem consciência que o planeta está a morrer,
Que está em risco de ir embora
E que pode ser tarde para o salvar.

Todo-Mundo
Parece esquecer que é a sua responsabilidade,
Cuidar de si e da casa onde mora,
Essa casa que é o planeta que deixa como herança.
Ninguém
Sabe que essa casa é na verdade
O planeta da criança agora órfã e que chora,
Porque herdou um futuro sem esperança.

Todo-Mundo
Precisa ter uma nova consciência
E abrir os olhos para o que se passa,
Não há segredo, não há ciência,
Há o espectro de uma grande ameaça.
Ninguém
Quer dar o primeiro passo da mudança,
E Todo-Mundo nada faz e só promete,
Mas Ninguém sabe que só haverá esperança,
Quando Todo-Mundo fizer o que lhe compete.

Do que desta história ficamos a saber,
É que pensa e age diferente cada irmão,
Todo-Mundo
Tem muito para aprender
Ninguém
Parece que aprende bem a lição.