
Deixam-me nascer
Às vezes
Para me aprisionarem
No meu corpo
Quase sempre
Enquanto jovem e bela
Desejam-me com gulodice
Quando cansada e velha
Trocam-me pela meninice
Dizem-me romântica
E pouco sexual
Até inventaram para o efeito
A máquina de lavar
Quase todos os manuais indicam
Junto com estudos sapientes
Somos feitas de uma matéria-prima
Que nos molda e nos transforma
Em seres divinais e omnipresentes
Para alguns
Somos a tempo inteiro
Para tantos
Servimos de cinzeiro
Quantas vezes nos colocamos
Pelos dias mais sombrios
À disposição de uns óculos escuros
Para evitar desafios
Nunca conseguimos atingir a meta
Mesmo se para além dela já partimos
(A história da humanidade é certa
Muitas vezes escrita de espada à cinta
E por pernas do meio como previmos)
Raros são os que sabem pensar
De mão dada com o seu par
Lado a lado a construir
A par e passo a recolher
O fruto apetecido
Trincado no devir
Em igualdade
E sem maldade…
Paula Sá Carvalho
8/3