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Reagir sempre às ofensas xenófobas e racistas

Falar sobre o racismo e a xenofobia é muito incómodo e desagradável. Talvez porque mexe com a mesquinhez humana, com o incómodo daqueles que são as vítimas dessa humilhação e porque os que proferem essas ofensas também não querem ouvir falar do assunto, sobretudo se ele ganhar dimensões de debate público e de rejeição por parte da sociedade, invertendo assim a relação de forças e podendo levar à condenação do agressor.

Aconteceu com muitos portugueses emigrantes, com muitos cidadãos de outras origens ou continentes, porque quem emigra está sempre em desvantagem, é um elo fraco. E pode acontecer em qualquer país. Em Portugal, em França, na Suíça, no Luxemburgo, nos Estados Unidos, no Brasil, no Japão, em Angola ou na África do Sul. Em qualquer um. 

Surpreendentemente, parece fazer parte da natureza humana, da composição genética dos povos que, por nascerem num determinado país e outros não, por terem uma determinada cor, por uns serem ricos e outros pobres, por possuírem culturas diferentes, acham que têm o direito de mostrar essa diferença como um facto negativo. E fazem-no pela humilhação do outro. E isso é inaceitável e não deve ser tolerado. Sobretudo nas sociedades democráticas, que sancionam pela lei esses comportamentos infelizes, que fazem do respeito pelos outros uma regra da convivência e coesão social.

Os portugueses, por serem um povo migrante, conhecem bem esse fenómeno, do preconceito, do insulto racista, da piada fácil e ofensiva. E pela nossa natureza, temos uma certa tendência para ouvir e calar. Uma e outra vez dizem coisas desagradáveis sobre os portugueses e nós calamos. Não é que isto seja a regra. Não. Muito pelo contrário, é mesmo uma grande exceção. A regra é os portugueses serem altamente considerados em qualquer país do mundo, pelas suas virtudes e qualidades, por serem de confiança e um povo trabalhador, pela beleza do país e hospitalidade da sua gente. Todos nos podemos orgulhar pela forma como somos considerados. Somos discretos, simples e humildes. Temos uma história com quase mil anos, uma única língua e fronteiras bem definidas há tanto tempo como a nossa história. Temos uma história rica e muito longa, feita de encontros noutras geografias. A regra é sermos respeitados.

Mas os racistas e xenófobos existem em todo o lado, mesmo que sejam uma ínfima minoria. Mas quando ofendem, fica uma ferida que pode durar uma vida inteira. Por isso, é preciso reagir e defender a nossa dignidade, para fechar a ferida. Devemos, nós portugueses, como qualquer outro povo, reagir e nunca cair na tentação fácil de ofender alguém pela origem ou cor da pele, sobretudo agora, em Portugal, em que cada vez mais o nosso país é procurado por estrangeiros. O perigo é hoje maior com o aumento da extrema-direita que faz dos ataques e rejeição dos estrangeiros as suas bandeiras, com os seus discursos de ódio que tanto mal fazem à coesão e convivência social, deixando uma mágoa absolutamente gratuita. Devemos acolher tão bem como queremos que sejam bem acolhidos os milhões de portugueses que estão pelos quatro cantos do mundo.

O racismo e a xenofobia magoam muito e por isso não devemos deixar que esses comportamentos se reproduzam nas nossas sociedades, contra nós ou contra os outros. Mas sempre que isso acontece, porque racistas e xenófobos existem em todo o lado, devemos reagir. Não devemos calar as ofensas. Devemos denunciar. Não devemos deixar que a humilhação seja sofrida em silêncio. Devemos exigir que a lei que protege os cidadãos dessas agressões seja respeitada.

Por mais incómodo que seja, ninguém pode nem deve calar a humilhação racista e xenófoba. É preciso reagir. Sempre. 

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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