
Quando cai a noite neste longínquo Timor
Nos Sucos e povoados se acendem fogueiras
Inicia-se o batuque e os homens vestidos de fogo
Dançam, cantam, e pulam de muitas maneiras.
E ao redor da fogueira danço em tronco nu
Ouço o rufar dos tambores de fraga em fraga.
E quando a noite cai neste longínquo Timor
O vermelho da fogueira me aquece e afaga!
Durante o dia bebo o néctar de tanta beleza
São paisagens de gargantas cristadas e abertas
Abismos, desfiladeiros, sol, lagartos aprecio a natureza
As águas cristalinas e as alturas do monte Ramelau.
Quanta verdura, sombras, búfalos, porcos e veados
E na praia da Areia branca há loucas cavalgadas
Um camião chinês partiu hoje para Lospalos e Tutuala
Ouço o cântico dos pássaros coloridos e das catatuas.
Há beleza e mistérios mais os meus vinte anos
Ouço o rufar dos tambores, vejo as ribeiras defraudadas
É dia de festa, uma cabana e um lagarto estirado ao sol
São as fragas abruptas, e as fontes borbulhantes.
Quando a noite vai caindo neste longínquo Timor
Aqui longe Longe longe, estou no cume da serra
Na ponta do fim do mundo, sinto o calor da fogueira
Estou em tronco nu e dançando nesta terra.
José Valgode
Escrito algures em Timor em 1970