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Presidente alemão recompensa trabalho de moçambicano no domínio da integração

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O moçambicano Paulino Miguel recebeu a medalha de mérito da Alemanha por promover a integração dos migrantes, um trabalho que é uma “luta pela democracia”, quando as restrições à imigração dominam o debate das eleições do dia 23. 

Agraciado esta semana com a medalha de mérito da República Federal da Alemanha, atribuída pelo Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, o ativista, com 54 anos e há mais de 40 neste país, viu reconhecido o “impacto” do seu trabalho voluntário junto de migrantes na cidade de Heidelberg, sudoeste da Alemanha.

Paulino Miguel chegou à antiga República Democrática da Alemanha (Leste do país) ainda em criança, integrado num grupo de 900 estudantes moçambicanos, para aprender serralharia mecânica. 

Regressou temporariamente a Moçambique, em plena guerra civil, e voltou para a Alemanha, onde estudou ciência política, com um mestrado sobre o uso de crianças-soldado no conflito moçambicano.

Sobre a distinção, disse à Lusa ter sido “uma surpresa”.

“Eu não sabia que alguém tinha proposto o meu nome. Isto é uma coisa que demora anos, havia um ‘Big Brother’ que me estava a observar em cada sítio e depois falavam com as pessoas com quem eu trabalhava para saber a sua opinião”, relatou.

O ativista e cientista político trabalha no Fórum das Culturas e dedica o seu tempo livre a apoiar migrantes.

“Tento facilitar, explicar como vir viver para a Alemanha, quais são as dificuldades, realizo seminários, contacto os ministérios. Digo-lhe que o trabalho deles tem valor”, exemplificou.

Descreve o seu trabalho como “uma luta pela democracia”.

“Eu mostro a cara. Vou lutar sempre contra o racismo e contra a discriminação”, salientou.

Paulino Miguel garante que o seu país é a Alemanha, mas só na semana passada pediu a cidadania alemã, perante a “situação muito grave” que considera existir no atual debate político neste país, a poucos dias das eleições legislativas antecipadas, dominado por propostas para endurecer as leis da imigração.

“Eu já pertenço aqui, não pertenço a Moçambique. Eu sou eu daqui, porque este é o ponto que escolhi, para a minha vida e onde tenho as minhas crianças. Tenho o direito de ficar aqui”, afirmou.

“Não é fácil saberes que vives num país onde damos todo o nosso potencial, mas isso não é reconhecido e é-nos dito que somos um problema. Fazemos um grande contributo para esta sociedade, mas esta sociedade tem dificuldade em reconhecer”, lamentou, afirmando que “a maioria dos imigrantes têm medo”.

Paulino Miguel admitiu estar “bastante preocupado” com a possibilidade de a Alemanha se fechar aos imigrantes e atribui estas propostas à “ignorância”.

“A Alemanha precisa de 400.000 estrangeiros por ano para não cair. Eles ignoram a realidade. Sem migração, este país vai afundar-se. Sem migração, a Europa vai afundar-se”, advertiu.

Paulino Miguel afirmou ainda ter esperança de que estas propostas não avancem, mesmo que se confirme a vitória da União Democrata-Cristã (CDU), de Friedrich Merz, que prometeu fechar as fronteiras no primeiro dia de trabalho, incluindo a requerentes de asilo.

“Então, quem vai limpar as casas de banho? O alemão ficou preguiçoso”, afirmou o moçambicano, para quem “a diversidade cultural” só se vê “nas casas de banho, nas cozinhas, nas lavagens de pratos”.

“É difícil ver imigrantes naqueles sítios onde as pessoas são vistas”, lamentou.

No Ocidente, criticou, “falam de direitos iguais, mas para o Sul Global, só há direitos parciais, (…) falam de globalização e de direitos e deixam o outro a afundar-se na água”.

“É uma coisa triste porque, por exemplo, os produtos estão globalizados. Pode chegar aqui a banana, não tem problemas, o amendoim não tem problemas, o coco, não tem problemas, a laranja, não tem problemas. Só as pessoas têm problemas. Que sentido faz isto?”, questionou.

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