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Portugueses na Alemanha transformam negócios em tempo de pandemia

O hotel da portuguesa Marina Kratt no sul da Alemanha esteve fechado por três meses, o empreiteiro José Oliveira teve mais trabalho durante o confinamento e a loja de Tiago Pinto Pais (na foto ao centro) destacou-se com uma montra de vinhos. Os três são exemplos de emigrantes portugueses na Alemanha que reiventaram os seus negócios para contrariar as dificuldades criadas pela pandemia de covid-19.

Foi uma paixão antiga pela hotelaria que levou a antiga jornalista Marina Kratt a comprar, com o marido (mabos na foto acima), em 2012, uma antiga fábrica de bonecas junto ao Bodensee, no sul da Alemanha. Do edifício com mais de 300 anos fizeram um boutique hotel que recebe clientes de todo o mundo, mas a pandemia de covid-19 fê-los perder três meses de casa cheia.

“Ainda me lembro da última cliente. Vinha da Suíça e já não conseguiu passar, ficou retida na fronteira. Tive de deixar as empregadas em casa, e a minha filha, que nos vem ajudar na Páscoa, não conseguiu sair de Portugal”, recorda a proprietária da “Villa Puppenhaus”.

“No início vivi isto com alguma surpresa, depois comecei a aperceber-me da gravidade da situação. O meu marido passou mal este tempo, pensando sempre que este ano não íamos poder abrir”, acrescenta.

Além dos meses de encerramento obrigatório, os cancelamentos iam crescendo e desanimando o casal. Cerca de 75% das reservas feitas através da plataforma ‘booking.com’ foram anuladas entre março e maio.

“Notava que se defendiam certos setores e não se falava muito no turismo, só mais tarde começaram a chegar os apoios. Recebemos cerca de 9 mil euros”, conta, admitindo que desde o início do desconfinamento, a 20 de maio, tudo melhorou.

“Agora ainda temos imensa gente com receio, mas o telefone não para de tocar. A maior parte da nossa clientela é da Suíça, mas também temos muita gente de outros países, por exemplo da China, que este ano não vai viajar”, esclarece a empresária portuguesa.

Ainda assim os dez apartamentos têm estado quase sempre cheios, sem necessidade de alterar os preços, porque as pessoas “preferem esta modalidade em vez de ficarem num hotel”, revela Marina Kratt, descrevendo as medidas de higiene e segurança que tiveram de adotar.

“Criámos umas divisórias de madeira para a sala dos pequenos-almoços. As normas de higiene são muito mais apertadas e não há ‘buffet’. Usamos e oferecemos máscaras e desinfetantes aos clientes (…) Nós, portugueses, sabemos reinventar-nos quando faz falta”, destaca, com orgulho.

Em Berlim, a loja de Tiago Pinto Pais, que é também um espaço de degustação e de arte, ganhou uma montra pela primeira vez. O empresário português, que começou a trabalhar no setor dos vinhos em 2014, deu protagonismo às garrafas e teve resultado.

“Foi preciso pensar em formas alternativas de trabalhar (…) Avancei para a criação de um ‘website’, para as vendas online, que foi um processo mais moroso e trabalhoso do que antecipava. Por brincadeira montei uma montra com vinhos à janela, coisa que antes não existia, e teve um efeito que não antecipei. Consegui chegar a novos clientes que entraram por curiosidade”, descreve, em declarações à agência Lusa.

O gerente da empresa “7 Mares”, que distribui a restaurantes, vende para consumo no espaço ou para fora, admite que o negócio durante o confinamento “variou muito”, sentido uma quebra muito grande em março.

“A distribuição de restaurantes secou, os eventos sumiram-se e essa foi uma quebra muito violenta no negócio. Paulatinamente as coisas melhoraram, sobretudo a partir de abril”, adianta, destacando a importância e a celeridade da ajuda do governo de Berlim.

“Recebi em menos de três dias e permitiu fazer face à quebra do negócio, especialmente nos meses de março e abril (…) O mês de junho está a ser muito concorrido, as pessoas estão com muita vontade de estar fora de casa e consumir, e apoiar os negócios”, congratula-se Tiago Pinto Pais.

Para José Oliveira, dono de uma empresa de construção, o confinamento trouxe ainda mais trabalho porque “as obras nunca estiveram proibidas”. Como muitos espaços comerciais e de atendimento ao público estiveram fechados, aproveitaram, em alguns casos, para fazer remodelações.

“Nunca parei nem um dia por causa da falta de trabalho. Não recebi nem pedi qualquer apoio porque não precisei, ainda tive mais que fazer”, desabafa. Conta várias obras durante os últimos meses, desde apartamentos particulares à embaixada da Costa do Marfim na Alemanha ou uma padaria portuguesa. “Só tínhamos cuidados especiais quando íamos comprar material, usávamos máscara e tínhamos mais atenção, mas entre nós somos como uma família, trabalhamos normalmente”, descreve.

O português só conta os dias para voltar a casa e descansar. “Só quero acalmar e ir de férias, vou acabar os trabalhos que tinha começado e o resto terá de esperar”, conclui, entre risos.

 

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