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Portugueses de França ao lado da nova primeira-ministra

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Membros da comunidade portuguesa em França destacaram à agência Lusa a capacidade de trabalho da nova primeira-ministra, Elisabeth Borne, lembrando que a ex-ministra alcançou algumas reformas encaradas no país como “impossíveis”, reconhecendo, porém, que a tecnocrata também enfrenta agora sérios desafios.

Na segunda-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou Elisabeth Borne como primeira-ministra, em substituição de Jean Castex.

Aos 61 anos, Elisabeth Borne tornou-se na segunda mulher a ocupar o segundo lugar político mais importante de França e a primeira a assumir tal cargo nas últimas três décadas.

E assume funções com uma dupla urgência: formar uma equipa governativa e liderar a batalha das eleições legislativas francesas, que já acontecem no próximo mês de junho, ao mesmo tempo que tenta satisfazer as expectativas em várias matérias, nomeadamente sobre o seu poder de compra dos franceses e as questões climáticas.

“É uma pessoa que tem muita experiência, foi ministra durante cinco anos e com realizações muito importantes, é uma pessoa que trabalha muito e conseguiu levar a cabo reformas que diziam ser impossíveis em França. O que eu achei extraordinário com esta nomeação foi o seu discurso”, disse Rosa André, conselheira municipal em Saint-Germain-en-Laye, em declarações à agência Lusa.

Rosa André é eleita local do partido A República em Marcha (LREM), que agora se chama Renascimento, o partido do Presidente Emmanuel Macron.

Para esta franco-portuguesa, o discurso de tomada de posse da nova primeira-ministra, em que incentivou “as meninas a concretizarem os seus sonhos”, fê-la pensar na sua vida e nos seus pais.

“Achei a mensagem muito forte, muito feminista e que transmite valores para o futuro, os valores do trabalho e da ambição que nós, mulheres, devemos ter. Esses valores são importantes, especialmente para nós, portugueses vindos da emigração, os meus pais sempre incentivaram o trabalho e construir um futuro melhor”, referiu.

Alta funcionária pública, classificada por alguma imprensa francesa como uma “tecnocrata de esquerda”, Elisabeth Borne foi a escolha para o Palácio de Matignon, residência oficial da primeira-ministra. A sua nomeação, cujo anúncio foi feito cerca de três semanas após a reeleição de Macron, foi a mais longa deliberação por parte de um Presidente.

Com uma carreira que passou pelos gabinetes de Jack Lang, quando este foi ministro da Educação, de Lionel Jospin, quando este foi primeiro-ministro, e de Ségolene Royal, quando esta foi ministra do Ambiente, mas também como governadora civil na região de Poitou-Charentes, a nova líder do Governo francês construiu uma carreira alicerçada no serviço público.

Como ministra de Emmanuel Macron desde 2017, passou pelas pastas dos Transportes, Ambiente e Trabalho, tendo levado a cabo algumas das reformas mais conturbadas do primeiro mandato do Presidente (2017-2022), como foi o caso da reforma dos caminhos-de-ferro, que desencadeou a maior greve de transportes em França, mas também a reforma do sistema do subsídio de desemprego.

Ângela Brito, portuguesa emigrada em França, foi escolhida para participar em 2019 na Convenção Cidadã do Clima, que serviu para cidadãos da sociedade civil proporem medidas concretas para travar as alterações climáticas, e conheceu a nova primeira-ministra quando esta estava à frente da pasta do Ambiente.

“É uma pessoa que enfrenta os problemas, que é sensível às alterações climáticas e é uma pessoa muito agradável. Gosta de ouvir o que as pessoas têm a dizer. Ela procurou conhecer-nos, gosta de conversar e quis sempre saber o que pensávamos”, lembrou Ângela Brito.

Com base nos múltiplos encontros que teve com Elisabeth Borne, esta portuguesa diz ter “confiança” na primeira-ministra, mas alerta que a margem de manobra pode ser pequena devido ao programa assumido por Emmanuel Macron.

“Eu confio nela porque ela tem uma parte muito humana, que quer saber verdadeiramente o que pensamos e como resolver os problemas. Acho que ela vai ser uma boa primeira-ministra, mas há uma diferença entre o que ela quer fazer e o que a deixam fazer. À sua frente tem Emmanuel Macron e os lóbis”, indicou.

Desde a sua nomeação, a nova primeira-ministra tem sido criticada pelos vários quadrantes políticos, à esquerda e à direita, por ser “demasiado tecnocrata” e seguir à regra o que é ditado pelo Presidente, não mostrando ter ideias próprias, segundo os seus críticos, sobre o futuro do país.

“Redução dos subsídios de um milhão de desempregados, supressão das tarifas regulamentadas do gás, adiamento de 10 anos do fim da energia nuclear, abertura à concorrência nos transportes e muito favorável à reforma de 65 anos. Estamos prontos para uma nova temporada de abusos sociais”, declarou Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento França Insubmissa (extrema-esquerda).

Elisabeth Borne é nomeada apenas algumas semanas antes das eleições legislativas em França que se realizam em duas voltas, em 12 e 19 de junho.

Caso o Presidente perca a maioria que detém atualmente na Assembleia Nacional, deverá indicar outro primeiro-ministro, o que encurtaria a nomeação da atual líder do Governo.

De forma a legitimar-se politicamente, Elisabeth Borne concorre como deputada na circunscrição de Calvados e nem esta nomeação a fez desistir deste embate político, o primeiro da sua vida já que nunca foi eleita para um cargo público.

“Simbolicamente ela quer ser eleita pelos cidadãos e é uma eleição territorial. Ela precisa disso, é importante fazer esta campanha. As leis não permitem ter os dois mandatos ao mesmo tempo, mas vai ser importante ter essa posição até porque ela já se tinha empenhado na sua candidatura”, defendeu Rosa André.

Caberá agora à nova primeira-ministra abrir uma nova vida de “diálogo social” como defendeu na sua tomada de posse, numa altura em que sindicatos e oposição se mostram descontentes com algumas das medidas prometidas por Emmanuel Macron como o aumento da idade da reforma e a renovação do parque nuclear.

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