De que está à procura ?

Comunidades

Português que sobreviveu a incêndio catastrófico em Londres só quer justiça

© DR

O português Miguel Alves, que sobreviveu ao incêndio da Torre Grenfell, em Londres em 2017, espera que a publicação do relatório sobre a tragédia na qual morreram 72 pessoas permita o julgamento de responsáveis.

“Esperamos que seja feita justiça. A polícia já investigou, mas sem a conclusão do inquérito não podiam adiantar mais”, disse na quarta-feira à Agência Lusa o antigo morador. “O que queremos agora é que se faça justiça, que consigam acusar empresas, indivíduos e que pelo menos sejam levados a tribunal”, acrescentou.

De acordo com o relatório final do inquérito, realizado ao longo de seis anos, o incêndio foi o “culminar de décadas de fracasso do governo e de outros organismos com posições de responsabilidade no sector da construção”.

O relatório destaca a “desonestidade sistemática” das empresas de materiais de construção” que adotaram “estratégias deliberadas (…) para manipular o processo de testes, distorcer os dados e enganar o mercado”.

A primeira fase da investigação, publicada em outubro de 2019, tinha concluído que o revestimento da fachada foi a “principal causa” da propagação do incêndio.

Os bombeiros de Londres são também fortemente criticados por não terem aprendido as lições de um incêndio anterior, em 2009, que “deveria tê-los alertado” para as suas dificuldades “no combate a incêndios em edifícios altos”.

Os residentes que chamaram os bombeiros foram aconselhados a permanecer nos seus apartamentos e a aguardar ajuda, tendo acabado por morrer.

O primeiro-ministro, Keir Starmer, admitiu na quarta-feira no Parlamento que as mortes eram “todas evitáveis”, e pediu desculpa em nome do Estado britânico.

Starmer prometeu “ação radical para impedir que algo como isto volte a acontecer”.

“Desonestidade sistemática”
Miguel Alves, que faz parte do grupo de antigos moradores que reivindicam justiça, espera que o governo cumpra o compromisso de implementar as recomendações incluídas no relatório, mas não ficou surpreendido com as conclusões. “O relatório veio exatamente ao encontro do que nós pensávamos e acreditávamos que tinha acontecido”, nomeadamente a “desonestidade sistemática” de empresas que “falsificaram resultados de certos produtos para poderem vendê-los”.

“Houve falha de muita gente ao mesmo tempo: o governo, a câmara municipal, a organização que supervisionava o prédio, as empresas que tentaram poupar dinheiro onde não deviam”, lamentou à Lusa.

No total, viviam dez portugueses no edifício, tendo todos sobrevivido. Logan Gomes, bebé nado morto que já tinha quase sete meses de gestação, morreu devido à intoxicação de fumo pela mãe.

Miguel Alves confessou à Agência Lusa que ainda tem pesadelos por causa do desastre e que a responsabilização dos culpados faz parte de um “processo longo e difícil”.

O emigrante português acredita que a torre só será completamente derrubada depois do processo em tribunal, o qual não deverá acontecer antes de 2027.

A Polícia Metropolitana de Londres adiantou na quarta-feira que a investigação deverá demorar mais 12 a 18 meses e a Procuradoria da Coroa vincou que não deverá fazer acusações até ao final de 2026. 

Segundo o jornal Daily Telegraph, a conservação das ruínas queimadas da Torre Grenfell e o planeamento de um memorial já terão custado cerca de 340 milhões de libras (403 milhões de euros).

“A torre deve ser deitada abaixo quando for possível porque é uma recordação do que se passou. Está planeado haver um memorial, mas há várias opiniões e vai ser difícil decidir”, reconheceu Alves. 

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA