Portugal ocupa o 14.º lugar entre os 27 países da UE no índice de Fuga de Cérebros 2024, com uma pontuação de 3,20. Em termos relativos à sua população, Portugal é o 17.º país do mundo com mais emigrantes, sendo que 56% dos emigrantes permanentes são jovens entre os 20 e os 34 anos. O número de nascimentos de filhos de mães portuguesas no estrangeiro já representa 20% do total de nascimentos em Portugal. Além disso, Portugal é o 4.º país mais envelhecido do mundo, com 186 idosos para cada 100 jovens. Em 2023, apenas dois municípios tinham mais jovens do que idosos, comparativamente com 2003, quando eram 73.
Entre 2000 e 2011, a emigração altamente qualificada em Portugal cresceu 82%, enquanto a emigração total aumentou 18%. Em 2024, estima-se que 40% da emigração portuguesa anual seja composta por indivíduos altamente qualificados. Além disso, 97 mil portugueses entre os 15 e os 25 anos estavam desempregados, representando 25% dessa faixa etária.
Apesar do IRS Jovem ser uma solução paliativa, o número de emigrantes aumenta de forma constante nos grupos etários dos cinco aos vinte e cinco anos, atinge o pico entre os vinte e cinco e os vinte e nove anos, e diminui mais lentamente depois. A discussão sobre o IRS Jovem no orçamento de estado português para o próximo ano tem a virtude de sinalizar a necessidade de invertermos a situação atual. Temos a geração mais qualificada de sempre, mas, ao mesmo tempo, somos o país com a maior fuga de cérebros da União Europeia.
Estudos sobre a emigração jovem apontam como principais motivos para a partida a falta de perspetivas de carreira, a remuneração e a falta de futuro em Portugal. No entanto, vivemos numa sociedade em que o projeto da União Europeia promove e facilita a liberdade de circulação de estudantes, trabalhadores e cidadãos europeus. O Programa Erasmus, lançado em 1987, promove a mobilidade académica e já beneficiou mais de 100.000 portugueses. A necessidade de novas competências de cidadania global é evidente, e as novas gerações de Erasmus, conscientes disso, estão mais propensas a se aventurarem em desafios fora dos seus países.
O perfil das novas gerações de Erasmus procura novas experiências de cidadania internacional, mas têm intenções de voltar ao seu país de origem. Se essas “fugas de cérebros” temporárias se concretizarem, serão positivas, pois, ao regressarem, aportarão valor e influenciarão positivamente o seu país.
Aqui está a nossa janela de oportunidade, que necessita de políticas que promovam o regresso dos emigrantes e alterações de paradigma na organização do trabalho, como nas economias mais desenvolvidas. Algumas sugestões incluem:
- Desenvolver políticas que facilitem e incentivem o regresso dos emigrantes.
- Promover o equilíbrio entre trabalho, família e lazer. A cultura de longas jornadas de trabalho em Portugal é improdutiva e não beneficia ninguém.
- Fomentar a carreira em todos os níveis e funções hierárquicas.
- Garantir transparência nos salários, incluindo o salário nos anúncios de emprego.
- Promover uma cultura de proximidade entre chefia e colaboradores.
- Resolver o problema da habitação, que está a tornar-se um problema sério em Portugal.
Ter uma diáspora mais qualificada traz oportunidades que devem ser aproveitadas, pois têm mais influência no mundo, e é essencial converter essa influência em valor para o país. Manter uma ligação forte e contínua com os portugueses qualificados no exterior é essencial. Simplificar processos burocráticos e logísticos para facilitar a colaboração e o investimento dos emigrantes qualificados em Portugal, bem como aproveitar o conhecimento e a experiência adquiridos no exterior para beneficiar o desenvolvimento interno, promovendo inovação e desenvolvimento em diversas áreas. Isso pode proporcionar a criação de programas de intercâmbio e parcerias entre instituições portuguesas e estrangeiras.
Concluindo, o novo perfil da emigração portuguesa traz preocupações legítimas que devem ser abordadas, mas também oferece oportunidades valiosas que não podemos ignorar. A solução não está em fechar as fronteiras, cortar os sonhos ou viver de saudosismos do passado. Precisamos interpretar as tendências do futuro e desenvolver políticas adequadas para transformar desafios em oportunidades.
Portugal tem uma geração de talentos que pode brilhar no mundo inteiro, mas é crucial que criemos as condições para que esses talentos queiram e possam voltar. É hora de agir com determinação e visão, comprometendo-nos a construir um país onde os jovens vejam um futuro promissor.
A responsabilidade está nas mãos das elites políticas, económicas e sociais de Portugal. Devemos trabalhar juntos para criar um ambiente que valorize e aproveite o talento dos nossos cidadãos, tanto dentro quanto fora do país. Somente assim poderemos garantir um futuro próspero e sustentável para as próximas gerações.
Vamos transformar a fuga de cérebros em um retorno de cérebros, trazendo de volta o conhecimento, a inovação e a paixão que nossos emigrantes adquiriram no exterior. O futuro de Portugal depende das ações que tomarmos hoje.
Tiago Corais