Portugal: de um país acessível a um desafio económico inclusivo
Há dez anos, decidi seguir a minha mulher e realizar o meu sonho de juventude, embarcando numa experiência de Cidadania Internacional.
O destino foi Oxford, e esta viagem tem sido indescritível. Deixei um Portugal onde a renda de um apartamento com um quarto numa zona nobre de Vila Nova de Gaia custava 350 euros, e onde tomar o pequeno-almoço, lanchar ou almoçar num café com a namorada, família ou amigos era uma atividade básica, comum e acessível para a maioria das carteiras portuguesas.
Era, digo eu… Este verão, como já é habitual desde que me tornei membro da diáspora portuguesa no Reino Unido, voltei a fazer férias em Portugal. Desta vez, ao contrário das outras, achei que Portugal deixou de ser um país acessível à “carteira” em muitas das coisas básicas para os portugueses e seus residentes, como o acesso à habitação, uma semana de férias, ou ir almoçar ou jantar fora com as suas famílias e amigos.
Até digo mais, Portugal está a tornar-se um país pouco acessível até para a diáspora portuguesa com rendimentos acima da media.
Esta situação é insustentável para os portugueses e outras comunidades que residem em Portugal, dificultando a mobilidade profissional e criando uma pressão adicional nas escolas, hospitais e universidades.
Além disso, o aumento exorbitante dos custos de habitação tem levado a um crescimento da desigualdade social, com muitas famílias sendo forçadas a viver em condições precárias ou a mudar-se para áreas mais afastadas, longe dos seus locais de trabalho e das infraestruturas essenciais. Se eu fosse político em Portugal, refletiria profundamente sobre como, em apenas 10 anos, os custos de habitação em Braga e em muitas outras localidades conseguiram atingir níveis próximos aos de Oxford, uma das cidades com habitação mais cara no Reino Unido, sem que os salários acompanhassem essa tendência.
Sou daqueles que acha que o turismo é necessário, mas se não for equilibrado e ajustado, não só afeta a qualidade de vida dos cidadãos, como também aumenta o custo de vida de um país e coloca os residentes numa situação desprotegida e precária. Eu acredito muito no desenvolvimento económico, mas uma economia sustentável deve beneficiar toda a comunidade. Se beneficia apenas uma minoria, há que refletir e ajustar o modelo de desenvolvimento económico.
Portugal ainda não sente as reais consequências desta transformação brusca nos últimos dez anos, porque uma grande maioria dos portugueses adquiriu habitação antes dos preços chegarem onde estão. Mas os jovens e quem não tem habitação própria estão em sérios riscos de pobreza e de não ter um teto, nem esperança.
Portugal está a perder a olhos vistos a sua resiliência e, se vier uma nova crise, as consequências para o povo português serão incalculáveis. Por isso, vale a pena os políticos, a sociedade civil, os nossos líderes em Portugal começarem a agir rapidamente na solução destes problemas. Caso contrário, dentro de muito pouco tempo, será muito tarde para Portugal.
Tiago Corais