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Os portugueses, o verão e os “emigrantes”

© Luís Cruz / BOM DIA

As férias de verão são indissociáveis do regresso de muitas dezenas de milhar de portugueses residentes no estrangeiro, que enchem o país com a sua alegria, afeto e energia. Ao longo do mês de julho já vão chegando, mas é sobretudo em agosto que os países de acolhimento se esvaziam e os nossos compatriotas irrompem pelas fronteiras sem esconderem a emoção quando chegam a Portugal.

Quem conhece as comunidades sabe como é forte a emoção que representa para os nossos compatriotas o período de férias, o reencontro com a família e os amigos, o prazer dos abraços, e a possibilidade de, durante umas semanas, se sentirem verdadeiramente em casa, longe da labuta e dos códigos de vida diferentes. O país de cada um, independentemente dos problemas que possa ter, é sempre o melhor do mundo. É o nosso, é aquele que conhecemos melhor, em que falamos a mesma língua, onde estão os amigos de infância e o que está sempre no coração.

Mas este patriotismo afetivo de quem deixou o país com o desejo de um dia regressar, mais cedo do que tarde, embora quase sempre seja mais tarde do que cedo, nem sempre é correspondido. O verão é também, por isso, um tempo para sensibilizar a sociedade que não há os de cá e os de lá. Que somos todos portugueses, onde quer que estejamos.

Porém, por mais absurdo ou paradoxal que possa parecer, há sempre um momento em que alguém, durante as férias, consciente ou inconscientemente, os faz sentirem-se diferentes, seja por ações, palavras ou omissões. E não se compreende que muitas vezes seja nas próprias aldeias e cidades onde todos têm um familiar ou amigo que já passou pela experiência da emigração que se produzam as piadas sem graça nenhuma, ou os comportamentos e situações que magoam.

Não é raro encontrar portugueses que vão de coração cheio para as férias em Portugal, e que, depois, não deixam de sentir a desilusão por haver sempre alguém num café, num restaurante, num qualquer comércio ou serviço público, que diz coisas ou tem comportamentos que os fazem sentir-se estrangeiros no seu próprio país, o que já não deveria fazer parte da nossa mentalidade coletiva.

E é totalmente incompreensível que assim seja, porque a identidade de um português em nada muda só por residir no estrangeiro. Pelo contrário. O país tem uma dívida muito grande para com todos eles, pela força que representam fora das nossas fronteiras, pelo bom nome que dão a Portugal, pela importância colossal que têm para a economia nacional, pela forma poderosa como dinamizam o turismo, pela sua solidariedade pronta, sempre que é necessário.

Os portugueses não são apenas bons trabalhadores e reconhecidos pelo seu empenho e dedicação em tudo o que fazem. São, acima de tudo, gente de confiança e de palavra. E isso vale ouro. Têm uma imagem excelente, são bem considerados e têm uma maneira de ser que todos apreciam, com a sua simplicidade e humildade.

Portanto, todos os casos que por vezes acontecem com os nossos compatriotas – cada vez menos, felizmente – não fazem qualquer sentido, porque somos todos iguais, embora com percursos e experiências de vida diferentes, umas mais ricas que outras. De resto, já nem sequer se devia continuar a utilizar a palavra emigrante, que está hoje completamente desajustada da realidade e não apenas por causa das novas gerações, mas também pela evolução sociológica das nossas comunidades. Todos temos o nosso lugar no desenvolvimento do país, onde quer que estejamos e, acima de tudo, todos deveríamos ter bem presente que o princípio da convivência humana se baseia no respeito que cada um merece, independentemente das particularidades que o possam diferenciar.

Deputado do PS

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