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Observar as coisas pequenas

A poesia é observar as coisas pequenas 
Simples que vimos ao nosso redor na criação 
Um carreiro de formigas procurando provisões 
Para o inverno, e pasmamos como sábias elas são.

A poesia é água a correr pelos regatos
Um caldo verde com chouriço e vinho
Um homem idoso na rua a bater retratos
E uma criança a cheirar o rosmaninho.

Ver um rapaz a conduzir um carro de vacas 
Apreciar um pôr-do-sol e cheirar a maresia 
Observar um bebé a correr de gatas
E escutar a melodia de uma cotovia.

A poesia é luz do Sol e um dia de vendaval 
A poesia abre qualquer porta secreta 
Dar uma gargalhada alta, mas num tom natural
A poesia é a caneta e o caderno do poeta.

Esperar que o bicho-da-seda faça brocados
E que uma ladra se torne hierática e cromática 
Socrática e que tu fiques de olhos deslumbrados 
E que vás a correr à procura dela na via láctea.

José Valgode

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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