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O doutor do Sobrado mai-la minha avó

As memórias, as palavras são realmente como as cerejas. Quando desfiamos uma pequena memória, ela desenvolve-se por aí além. Foi o caso.

O doutor do Sobrado, figura mítica de Felgueiras de quem, visivelmente, resta a Casa do Sobrado e uma artéria em Felgueiras com o seu nome – Dr. José de Barros Rocha Carneiro – w de quem se conta muitas histórias, umas serão verdadeiras outras, sabe-se lá, se alguém acrescenta uns pontos como nos contos.

Tinha ele um Morris Minor, que por falha momentânea na memória visual não recordo a matrícula. O Minor, viatura humilde para os anos 1950 e mesmo 1960, é também alvo de uma curiosidade-curiosa.

O doutor do Sobrado por mor da sua teimosia em manter o Morris Minor, era questionado porque não comprava um Mercedes. Então – diz-se – respondia ele que quem o visse dizia: vem ali o senhor doutor do Sobrado. Se viesse num Mercedes, dir-se-ia: vem ali um sapateiro. Com verdade ou mentira – esta é uma das dezenas histórias que muito se contavam por pessoas menos novas que eu.

Na mesma senda conta-se que por volta dos oitenta anos foi ao médico fazer a revisão geral. O clínico vaticionou-lhe mais vinte anos. Ora o senhor doutor vai dali, inflecte que se dura mais vinte anos, gasta um carro. Compra então um Fiat 127 usado. Usado.

Na memória ainda mais colectiva e recente conhece-se-lhe que, já mais debilitado, sentava o filho pequeno dum caseiro no colo a partilhar a tripulação do bólide.

Contava-se também que não sabia que bens/riqueza tinha e não tendo herdeiros directos, acabaram muitos, inesperadamente, por ser herdeiros/beneficiários.

A senhora minha avó – única que conheci – nasceu em Pombeiro em 1894. O doutor do Sobrado nasceu pela mesma altura e a sua mãe não tinha leite para o amamentar. Era então a mãe da senhora minha avó quem o amamentava.

Ao tempo chamava-se irmãos de leite àqueles que mamavam de outra mulher lactente. E o doutor do Sobrado dizia isso, que era irmão de leite da minha avó.

Dá-se a total coincidência que este fim de semana faz trinta e cinco anos que a minha avó pereceu. O doutor do Sobrado lá foi sozinho ao funeral da minha avó. A tal irmã de leite.

Moral da história, e já a minha avó dizia isso: Nunca lhe deu nada!

Eu gostava de cumprir um desejo que me ocorre agora ao redigir este arrazoado: contar muitas outras curiosidades que se lhe atribuem.

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico)

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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