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O caso Jack Teixeira

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Jack Teixeira é um luso-descendente. Vive numa zona com uma larga comunidade de luso-americanos. Mas Teixeira é sobretudo americano. É assim que os meios de comunicação nos Estados Unidos se referem ao jovem adulto que poderá agora passar o resto da sua vida na prisão por desvio e disseminação de documentos secretos. 

O facto da “portugalidade” de Teixeira passar despercebida nos EUA refletirá, em parte, o grande esforço de integração dos portugueses no tecido social dos EUA. Mas não é fácil entender porque razão essa herança portuguesa apareça na maioria dos títulos e manchetes portuguesas sobre o caso. Há uma diferença qualitativa entre mencionar que Teixeira é luso-americano e fazer disso tema essencial da notícia. A primeira é uma curiosidade, a segunda centra a lusodescendência como se fosse saliente ao crime. Não é algo que passe indiferente deste lado do Atlântico. 

Na Nova Inglaterra vive uma comunidade alargada de portugueses oriundos sobretudo dos Açores, mas também continentais e madeirenses. A primeira vaga de emigração para esta zona do país data do século XIX. É uma comunidade com mais de um século de existência que contribuiu (e continua a fazê-lo) para a riqueza económica e cultural de estados como Massachusetts, Rhode Island e Connecticut. 

Todos os indicadores que temos disponíveis indicam que os luso-americanos são, em geral, cidadãos participativos, votam e contribuem para as suas comunidades locais, são empreendedores e trabalhadores, valorizam os laços familiares. Em suma, somos uma comunidade integrada e respeitada que valoriza a sua herança portuguesa, mas que se orgulha também a sua cidadania nos EUA. 

Todo o episódio com Teixeira é trágico. Um rapaz de 21 anos irá agora passar anos numa prisão por um crime que não tinha razões de ser. Sinto empatia pela família que já é refém emocional desta decisão imatura. Mas Teixeira alegadamente cometeu um crime que sabia ser gravíssimo… aparentemente para impressionar um grupo de adolescentes. De entre todos os assuntos pertinentes neste caso – a fuga de informação, a natureza da informação em si, os motivos que levaram um jovem a tomar esta decisão – o tema menos saliente de todos é Teixeira ser luso-americano. Teixeira é um português de segunda ou terceira geração; o mais provável é que o seu vínculo à herança portuguesa seja ténue ou mesmo inexistente.

Portanto, qual a saliência desse facto para o crime que foi cometido? Para o estado americano? Para a comunidade portuguesa? Nenhuma, porque em todas as comunidades étnicas há bons e maus exemplos. E no caso da portuguesa, não é um mero caso de afiliação genética que abalará a reputação da comunidade ou porá em questão a sua dedicação ao país acolhedor. 

Daniela Melo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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