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Nova tradução da Bíblia em português em que Deus é tratado por Tu

A Conferência Episcopal vai apresentar esta segunda-feira o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português, um texto que procura dialogar com a cultura contemporânea a partir das línguas originais.

“Temos de fazer uma tradução literal, mas não literalista, caso contrário torna-se incompreensível”, refere D. Anacleto Oliveira, biblista e bispo de Viana do Castelo, que coordena a nova tradução da Bíblia em português.

A edição é promovida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e editada pela Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã; feita ao longo de vários anos, por 34 investigadores a partir das línguas originais, começa a chegar aos leitores de todo o país com a publicação de “Os Quatro Evangelhos e os Salmos”.

“É uma versão experimental e estamos à espera de reações. Tenho dito e continuo a dizer: o biblista deve ser muito humilde e aceitar outras opiniões”, realça D. Anacleto Oliveira.

O projeto tem por finalidade apresentar um texto uniforme, traduzido diretamente das línguas originais, o hebraico, aramaico e grego, para uso na liturgia, na catequese e em todas as atividades da Igreja em Portugal.

O coordenador do projeto explica que a tradução é uma resposta à necessidade de uma “Bíblia da responsabilidade” da CEP, que vem já desde o Concílio Vaticano II (1962-1965).

Segundo D. Anacleto de Oliveira, esta tradução oficial não exclui as outras, que seguem “critérios” diferentes.

As mudanças são visíveis no novo texto de tradução do Pai-Nosso, na qual Deus é tratado por ‘Tu’, seguindo “uma evolução que houve na sociedade portuguesa.

“Hoje, por norma, os filhos tratam o pai por ‘tu’, porque isso implica uma intimidade muito mais profunda; a exceção são os filhos que tratam os pais por senhor ou vossemecê, como se dizia no meu tempo. Até nisso, nós achamos que era importante evoluir. Posso dizer que foi uma decisão tomada, por votação, na Conferência Episcopal. Não foi de ânimo leve”, relata o bispo de Viana do Castelo.

O especialista no estudo da Bíblia precisa que cada proposta de tradução dos vários textos é entregue a uma pessoa especializada em Literatura Portuguesa, como um poeta, no caso dos Salmos.

“Para nós é muito importante haver uma pessoa que cuida da musicalidade, digamos, do ritmo das frases, para que seja percetível e não cause confusões”, precisa.

A apresentação de um primeiro volume, experimental, deste trabalho é vista como “mais uma fase numa tradução tão perfeita quanto possível”, num processo que passa agora por “pedir o contributo dos leitores portugueses”, através de carta ou email.

As sugestões que chegarem à CEP vão ser avaliadas pelas comissões responsáveis pela tradução.

“É uma espécie de orçamento participativo, na linguagem de hoje; na linguagem da Igreja, falaríamos de uma participação sinodal, todos os cristãos têm ocasião de apresentar propostas”, observa o bispo de Viana.

Um dos textos mais discutidos, nos estudos bíblicos, é o prólogo do Evangelho de São João, agora traduzido por “No início era a Palavra”, deixando de lado o termo “verbo” para o grego ‘logos’.

“Depois de muita discussão, até com um biblista brasileiro, optamos pelo termo ‘palavra’ e ver a reação, até porque é aquele que diz mais, embora não diga tudo. O ‘logos’ grego é mais do que uma simples palavra, mas parece-nos que em português é a que melhor exprime a relação entre Jesus, como Filho de Deus, e o Pai”, justifica D. Anacleto Oliveira.

O bispo de Viana do Castelo sublinha que a Bíblia é “um marco incontornável na cultura portuguesa” e um “património mundial”, que merece “a máxima divulgação”.

A apresentação pública da edição da tradução de ‘Os Quatro Evangelhos e Salmos’ está marcada para esta segunda-feira, pelas 11h00, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

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