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Não há pão sem padeiro

Numa pequena aldeia, longe de tudo e todos, viviam meia dúzia de pessoas que faziam o que podiam para que o seu lugar não desaparecesse. Mas, num certo Inverno bastante rigoroso, o mau tempo tratou de estragar a maior parte das searas de trigo que alimentavam a população. O presidente decretou, então, o racionamento do pão pelos habitantes: o agricultor iria colher as searas que conseguisse, enquanto o padeiro iria esticar a massa o máximo que pudesse, para fabricar dois grandes pães.

O presidente decretou, também, que as pessoas iriam comer consoante a sua função na aldeia. O presidente, sendo presidente, iria ser o primeiro, pois “Sem presidente não há organização”. Todos concordaram, já que seria a única forma de sobreviverem naquele Inverno.

O padeiro, esperava que o agricultor trouxesse a farinha de trigo, para começar a fazer o pão. Acordava bem cedo e sabia que tinha a missão mais importante de todas: alimentar toda a aldeia. Assim que o agricultor chegasse à padaria,  não tendo sequer dormido, o padeiro começava a sua tarefa. Duas horas depois, colocava os dois pães à janela de modo a arrefecerem mais depressa, para depois poder cortá-los. Assim fora nos dois primeiros dias. O agricultor levava a farinha de trigo, o padeiro fazia os pães, colocava-os à janela e, depois de arrefecidos, punha-os à disposição na padaria. Ao fim da manhã, o padeiro, ao buscar a sua parte do pão a que tinha direito, já só encontrava algumas migalhas. “Bem, pelo menos alimentei a aldeia”, pensava. Recolhia todas as migalhas que podia para poder ter o que comer naquele dia.

Ao terceiro dia, tudo corria como habitualmente, até ao momento em que o padeiro foi buscar os pães à janela, para cortá-los… Só lá estava um! Ficou extremamente confuso com a situação, quando reparou que o banqueiro, subia a rua com um pão inteiro, debaixo do braço. O padeiro chamou-o e perguntou porque não tinha esperado que o pão estivesse na padaria e, ainda para mais, um pão inteiro daria para umas 10 pessoas. O banqueiro, respondeu-lhe que “Sem banqueiro não há dinheiro” e por isso tinha o direito de tirar o pão primeiro que os outros. O padeiro não sabia o que lhe dizer, pois a aldeia precisava de ter um banco.

No dia seguinte, o padeiro tentou estar mais atento à janela. Desta vez, quem apareceu foi o carteiro, que quis logo levar a sua parte. “Sem carteiro não há correio” e levou um quarto de pão.

Passavam-se os dias e o mau tempo parecia que não iria mudar. Numa dessas manhãs, o padeiro acordou à hora habitual mas, quando chegou à padaria, o agricultor não tinha vindo com a farinha. Decidiu então ir a casa do agricultor e, quando lá chegou, viu o homem caído no chão. Depressa o padeiro percebeu que o agricultor, que passava as noites em claro para que a farinha chegasse cedo à padaria, nunca tinha nada que comer quando regressava para receber a sua parte da ração. O padeiro sentiu-se culpado, porque era ele que comia as últimas migalhas, sem pensar que ainda poderia faltar alguém. Com pena do pobre agricultor, o padeiro foi, ele próprio, cortar as searas e moer a farinha.

Quando finalmente chegou à padaria, tinha o presidente, o banqueiro e o carteiro à sua espera. Os três achavam inadmissível não terem pão para levar. O padeiro tentou explicar-se mas eles não acharam que o motivo não era válido. “O agricultor tem de buscar a sua parte só depois das pessoas realmente imprescendíveis para a aldeia terem vindo”, afirmava o presidente.

O padeiro, com as mãos ainda calejadas da apanha das searas, apressou-se a fazer o pão e, mal acabou, os três levaram tudo o que ele tinha conseguido fazer.

Passaram mais dois dias e, à janela, deixara de aparecer pão. Nem sinal do padeiro, nem de pão, nem de farinha. Depois do agricultor ter sucumbido à fome, o padeiro tinha ficado doente, por ser o único a trabalhar para o bem comum, e estar na base do “imprescindível”.

É que, como todos sabem e já deviam estar fartos de saber, não há pão sem padeiro…

 

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