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Luís Filipe Menezes: deixar regressar emigrantes foi erro clamoroso

«Apesar de muita boa vontade, há muita ingenuidade ou palermice da supra estrutura que comanda o combate em Portugal a esta epidemia. Agora, ainda longe das férias da Páscoa, têm regressado a Portugal milhares de portugueses emigrantes. Já o fui, e tenho o maior do respeito por esses portugueses, a sua maioria honestos, trabalhadores e patriotas como poucos. Todavia, é um erro clamoroso ter permitido o retorno da esmagadora maioria deles nesta fase da pandemia. A maior percentagem vem para o interior envelhecido, para junto de familiares e amigos que constituem uma parte dos principais grupos de risco. Porque, infelizmente, não acredito que tenham as mínimas condições, mesmo logísticas, para cumprir uma quarentena rigorosa. Porque só vêm, na maior parte dos casos, aproveitar o tempo de encerramento ou paragem obrigatória de empresas e atividades a que estão ligadas, critica Luís Filipe Menezes.

«Ou seja, não se trata da visita ligada às habituais férias de Páscoa e muito menos um regresso definitivo. A maioria regressará logo que os países de acolhimento reclamem a sua partida. É, pois, uma visita extemporânea, embora, este ano, esse cerceamento deveria ser mesmo imposto para as férias da Páscoa. Nós, os que hoje somos cidadãos residentes, também teremos de obedecer a esses condicionamentos. A maioria não poderá reunir-se com a família completa. Finalmente, porque para além de não estarem a defender a saúde dos seus cá residentes, têm nos países onde trabalham condições, direitos, de apoio e acompanhamento médico e social superiores aos que terão em Portugal.»

No que se refere aos portugueses retidos em vários países do mundo, apanhados desprevenidos durante a pandemia, o ex-presidente social-democarata refere que o Estado os deve «defender». «Todos os que foram involuntariamente apanhados e sem aviso prévio no meio desta armadilha merecem a atenção de todos nós e do Estado, que a todos deve defender. Entre esses, os que devem merecer a nossa preocupação e solidariedade, estão, entre outros, estudantes, muitos deles em Erasmus, e profissionais em viagens de trabalho inadiáveis, há muito programadas», diz. Contudo, o mesmo não se aplica a quem enfrenta dificuldades por ter partido de férias sabendo de antemão o risco que corria. «No entanto, tenho a maior das dúvidas de que algumas dezenas, talvez centenas, que subestimaram esta crise, saindo para férias curtas ou longas, com a crise já instalada e em velocidade de cruzeiro, não deviam merecer a mesma comiseração institucional do Estado.

«E não me venham com tretas, porque conheço alguns que assim se comportaram. Esses deveriam acionar os seus seguros de viagem e desenrascarem-se pelo seu pé. Muitos desses foram egoístas e pouco solidários com o esforço que toda a comunidade nacional está a fazer. A irresponsabilidade tem de ter consequências. E, já que a opção será ir buscar compatriotas queimadinhos da praia, cheios de recuerdos de Machu Pichu ou de fotografias guerridas na praça Jemaa el-Fna, que ao menos todos eles sejam obrigados a uma quarentena institucional coerciva e controlada com rigor», sugere.

 

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