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Já chega de CHEGA!

© Lusa

Quando daqui a uns bons anos o tempo decorrido tiver permitido o suficiente distanciamento ao PREC 2024, o “PRocesso Eleitoral em Curso” encerrado a 10 de Março de 2024, os múltiplos registos digitais, um verdadeiro flagelo para os políticos de hoje (registam tudo de forma implacável e indelével), permitirão fazer uma análise fria e desapaixonada da hecatombe sísmica, seguida de tsunami (o resultado da emigração), que varreu o hemiciclo da Assembleia da República. 

Há muito boa gente, sobretudo da esquerda à esquerda do PS, muitas redações de OCS escritos, e de canais de televisão vergonhosamente alinhados com uma única cor partidária (uma que em menos de 2 anos conseguiu a incrível e irrepetível proeza de desbaratar uma notável maioria absoluta, e perder imbecilmente as eleições, e ainda bem), que continuam olimpicamente em estado de negação.

Leio muito. Mesmo os OCS que me têm ocasionalmente surpreendido pela negativa, como o Público e o Expresso, e que por diversas vezes, irritado, estive para deixar de comprar. Não por albergarem, como o saudável e desejável pluralismo recomenda que se faça num OCS sério, comentaristas de sinais ideológicos contrários (a última página do Público é um exemplo paradigmático), mas porque a linha editorial deixou de ser isenta, e toma escandalosamente partido, de maneira mais ou menos sub-reptícia, pela cor que lhes indicam os “spin doctors” do partido político que os alimenta. É o problema de não se ser independente financeiramente, e de estar carregadinho de dívidas…

A maior espinha (em muitos casos um tronco de árvore) na garganta desta gente chama-se CHEGA. O CHEGA é um produto nascido há somente 5 anos (9 de Abril de 2019), induzido, patrocinado e acarinhado pelos ideólogos do PS (obviamente nunca o reconhecerá), para esmagar o PSD à sua direita. O esmagamento à esquerda estava garantido pelo próprio PS. A intenção óbvia era matar o PSD numa ou duas legislaturas, para acabar de vez com os pontos de convergência ideológica entre os dois partidos, que permitiram uma saudável alternância ao longo destes 50 anos de democracia imperfeita que temos, e garantir uma indiscutível hegemonia futura do PS. Atendendo à natureza radical do CHEGA, em nada apelativa para a maioria esmagadora dos eleitores portugueses, um PS a degladiar-se eleitoralmente com o CHEGA, como a grande força dominante da direita, teria enormes possibilidades de perpetuar-se no poder com maiorias absolutas sucessivas, sem sequer ter de reeditar geringonças com o resto da insuportável esquerda caviar e woke.

A ideia tem o seu toque de absolutamente pérfido (certamente proveniente do ASS trotskista do PS), e uns pózinhos de genialidade. Teria funcionado mesmo na perfeição se o PS fosse um partido que privilegiasse o mérito e a competência técnica dos seus quadros superiores, sobretudo a nível de Governo, sobre a sabujice da cartilha partidária, e da lealdade cega e acrítica. O insidioso plano falhou porque há uma coisa chata chamada “eleitores”, que estão atentos, precisam de ver as suas necessidades atendidas, e começaram a ver que a gestão PS, mesmo assente numa incontestável maioria absoluta, era uma catástrofe, graças à incompetência técnica e profissional miserável dos sucessivos ministros, envolvidos em dezenas de casos e casinhos, mas sem conseguir dar conta do recado em áreas tão sensíveis como Educação, Saúde, Administração Pública e Habitação. Daí até os chatos e ingratos dos eleitores começarem a escutar os cantos de sereia de quem não tem ainda as mãos sujas por experiência governativa passada, foi só um tirinho.

A poucas horas ou dias do acto eleitoral ainda havia comentadores conotados com o PS, e outros mais cegos que uma toupeira em buraco de jardim, a tratar de influenciar os eleitores indecisos, e a dizer pérolas (estas citações, na página 39 da revista Sábado de 14 de Março, são verdadeiro serviço público para desmascarar a miséria de comentário politico enviesado que temos em Portugal), tais como :

– “O CHEGA nunca terá 50 deputados” (Maria João Avillez, que nunca na vida acertará no bingo!), 
– “A campanha desastrosa de André Ventura fez o resto. Fechado em restaurantes, Ventura não conseguiu passar a ideia de crescendo” (Daniel Oliveira, do Expresso, pelos vistos o Ventura, a comer bem em restaurantes, passou bem a ideia também …)
– “A AD parece estar a crescer à custa do eleitorado à sua direita, nomeadamente do CHEGA” (Luís Paixão Martins, o guru eleitoral do PS que fazia melhor em continuar a escrever livros sobre sondagens, do que comentário político notoriamente a favor do PS…).
– “Campanha de André Ventura está a ser absurda, ridícula”(Maria Castello Branco, numa de castelo bem preto…)
– “Há uma certeza que aparenta confirmar-se: o desinsuflar dos níveis muitos altos de votação no CHEGA. Previa que isso fosse acontecer” (Raquel Abecassis, que devia dedicar-se a outras questões insufláveis, tipo suflês, em vez de fazer comentários e previsões políticas…).
– “O CHEGA claramente perdeu nesta campanha. O André Ventura não conseguiu capitalizar aquele entusiasmo inicial. Perdeu-se durante a campanha. Ainda tem muito que aprender”. (Clara Ferreira Alves, e tu também, minha amiga, uma escritora brilhante que se perde na televisão a fazer comentário político numa tertúlia com alguns  “compagnons de route” muito pouco recomendáveis ).
– “Vai ser uma das surpresas. Ventura ter muito menos do que sonhou quando as sondagens lhe davam 18 ou 20%. Não vai ser uma coisa como ele sonhava, arrasadora” (Ana Sá Lopes, Miss PS do Público, que deve estar ainda a salivar estas palavras, para tratar de as engolir ).
– “O CHEGA pode sofrer com o voto útil à ultima hora. É o único partido que está sempre a descer nas sondagens todas.” (José Manuel Fernandes, do Observador, que se deve ter deixado endrominar com as sondagens “induzidas” pelos discípulos do Luis Paixão Martins).

Leiam a Sábado  de 14 deste mês que há lá mais destas pérolas para rir a bandeiras desfraldadas ! O que interessa reter é que, tendo sido arrasados pela realidade, os arautos do comentário político enviesado e colorido, andam agora a ver como é que desvalorizam o fenómeno do CHEGA. E a nova doença, chamada “PS-ó-viés”, é agora tratar de estabelecer paralelos entre o PRD, o fogo-fátuo de 1985, um “vapt-vupt” partidário que chegou, viu … e basicamente faleceu em 3 legislaturas, e o CHEGA ! 

Em 1985, data da sua fundação, o PRD teve mais de um milhão de votos, quase 18% do eleitorado, o que lhes garantiu 45 deputados num parlamento com então 250 assentos (quase o CHEGA). Em 1987, sob a batuta de Ramalho Eanes, despencaram para 278.000 votos, ou 4,90% do eleitorado, o que já só lhes deu 7 dos 250 assentos da AR, e em 1991, com apenas 35.000 votos, ficaram a zero, sem representação parlamentar. O partido dissolveu-se formalmente em Abril de 2000, mas efetivamente desde 1991 era um zombie, um cadáver ambulante.

Andam agora a tratar de estabelecer paralelos entre o destino fatal do PRD, e o que gostariam de ver acontecer muito rapidamente ao CHEGA. Mas só quem anda a dormir, e não entende nada de política (e do eleitorado português) se mete por esse caminho. 

O PRD foi um fenómeno conjuntural que nasceu no final de uma década (1975-1985) de grande fragilidade e desequilíbrio da nossa economia, com duas intervenções do FMI, cuja responsabilidade, de uma forma praticamente unânime e universal (menos dentro do PS…), se atribui ao PS, que foi o grande sacrificado nas eleições de 1985. O grosso do milhão e pico de votos do PRD veio direitinho do PS. 

O CHEGA, partido ainda sem qualquer experiência governativa, e portanto sem estar sujeito à natural erosão que o exercício incompetente, irresponsável e corrupto do poder causa nas forças partidárias que falham ao eleitorado, está em estado de graça junto a largas franjas de eleitorado, que começam a estar fartas dos partidos tradicionais. 

PS, mas também PSD (só assim se explica que não tenham conseguido capitalizar as trapalhadas do PS para distanciar-se mais desse partido), estão a pagar a fatura de 50 anos a afastar-se do eleitorado, graças ao cancro em que se transformou o sistema partidário podre que alicerça hoje a nossa democracia. 

Os idiotas da esquerda caviar (tirando o Livre, por razões semelhantes ao CHEGA) que, tendo sido muletas do PS durante 6 dos 8 anos de governação socialista, em que não só não fizeram nada, como permitiram que a Administração Pública, a Saúde, a Habitação, a Educação e os Transportes se degradassem até níveis nunca vistos, não tiveram melhor ideia do que basear a sua campanha política no slogan “Fazer o que nunca foi feito”. Pode-se imaginar maior imbecilidade ? O eleitorado não lhes perdoou. Não fizeram nada quando puderam. E acham que os portugueses são idiotas, e iriam acreditar que agora é que o iam fazer… 

Já o pobre do PCP lá vai lambendo as feridas que o vão retalhando e amputando a cada eleição, assistindo como até no seu bastião de toda a vida, o Alentejo de Catarina Eufémia, o eleitorado vai para… o CHEGA ! Ver como uma das filhas de Catarina Eufémia explica e justifica resignada esta migração de votos é a maior lição de política que o PCP poderia tirar desta desgraça que os assola, eleição após eleição, mas eles são autistas. Chegaram ao precipício, e vão mesmo dar um decidido passo em frente, foice e martelo na mão. Além de dar empregos de terceira e mal pagos nas Câmaras a Sul do Tejo para assegurar votos dos lumpen-proletarios que compravam (achavam eles), em 50 anos os comunistas não fizeram nada (nada!) pelo Alentejo. Permitiram mesmo que voltasse a existir escravatura e exploração humana em múltiplas explorações agrícolas instaladas em solo alentejano. Quem é que lhes podia perdoar tamanha hipocrisia ? CHEGA pra lá camarada… 

E portanto, o CHEGA chegou para ficar (e continuar a crescer), a não ser que aconteça o seguinte.

1) Os partidos tradicionais porem rapidamente bom senso nos temas fraturantes introduzidos na sociedade pela minoria representada pela esquerda caviar, esvaziando a argumentação que levou os eleitores a olhar para o CHEGA. Wokismo e “politicamente correto” têm que ser ajustadas aos usos, costumes e tradições caras à esmagadora maioria dos eleitores. A sociedade tem que ser ouvida nos temas complexos como a forma de tratar, integrar e dar as boas vindas à imigração, às etnias periféricas, etc. Não podemos permitir que partidos com 4 deputados eleitos, mas com um controle de sindicatos ou de universidades de ciências sociais, dominem as ruas, infernizando as vidas dos cidadãos nas grandes manchas urbanas, e ditem normas de evolução social, por exemplo nos programas de ensino nas escolas, que nos estão a destruir culturalmente.

2) Os partidos tradicionais reverem rapidamente o sistema eleitoral, permitindo que se corrijam os erros que estamos fartos de detetar e lamentar eleição após eleição (desperdício de centenas de milhar de votos, carreirismo partidário, deputados que não representam os eleitores, mas sabujam o líder do partido que os pôs nas listas el lugar elegível, insuficiente representatividade da diáspora, etc.). Precisamos de uma catarse limpadora urgente, e serei muito critico da AD se este tema não fôr, a par da decisão final, irreversível, e irrevogável sobre o novo aeroporto de Lisboa, uma das primeiras ações a tomar.

3) Os partidos tradicionais estabelecerem de uma vez por todas com caráter de urgência as regras para prevenção da corrupção, fortalecimento das polícias, e alteração imediata dos alçapões no sistema de justiça que protegem os criminosos com normas garantistas inconcebíveis  (independentemente da côr do colarinho), ignorando o alarme social que as incompreensíveis decisões tomadas pelos nossos tribunais causam no cidadão.

Malta da AD (e do PS), é já. Esperar para agir vai dar élan ao tal partido de que já não se quer falar.

José António de Sousa

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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