Guerra entre Israel e Hamas assombra portugueses no Líbano
O que fazer caso comece uma guerra no Líbano tornou-se, desde início do conflito Israel-Hamas, assunto dominante em casa de Isaías Teixeira, piloto de 24 anos e dos poucos portugueses residentes em território libanês. “Um dia queremos sair [do Líbano], no outro sentimos que não vai acontecer nada, mas depois se alguma coisa acontecer podemos arrepender-nos”, diz Isaías, filho de pai português e mãe libanesa. “É um estado de emoções mistas”.
Isaías e os pais vivem nas montanhas a leste de Beirute, em Mansourieh. Apesar de consideraram que “não há risco de bombardeamentos” naquela cidade, a família lembra-se bem da última guerra entre o Hezbollah e Israel, em 2006.
“Quando a guerra de 2006 começou, passadas uma ou duas semanas, [Israel] começou a bombardear Beirute, a embaixada ligou-nos para evacuarmos e fomos retirados pelos navios de guerra da marinha italiana”, diz à agência Lusa Isaías.
A família, que também tem casa em Alenquer, está a “avaliar” se fica no Líbano ou não. Entre os fatores, está a casa em Mansourieh que não querem deixar para trás.
“Eu ficaria entusiasmado se me mudasse para Portugal, [mas] algumas pessoas dizem o contrário porque crescemos aqui”, diz Isaias.
A Embaixada de Portugal em Chipre está a acompanhar e a apoiar a situação de cerca de 30 portugueses no Líbano, mas não emitiu até agora nenhuma recomendação de evacuação.
“Participámos [na segunda-feira] numa reunião de coordenação consular com colegas dos outros Estados-membros da União Europeia e de outros países”, disse a embaixada numa mensagem enviada por WhatsApp aos Portugueses no Líbano.
Nenhuma embaixada europeia reduziu o seu pessoal nem iniciou a retirada dos seus cidadãos até ao momento, de acordo com a mesma fonte.
A representação diplomática portuguesa informou ainda “que a zona da fronteira sul continua particularmente sensível e volátil”, mas que não tem conhecimento de portugueses na zona.
Na quarta-feira, a embaixada dos Estados Unidos aconselhou os seus cidadãos a não viajar para o Líbano, a par da saída dos que ali residem. A mensagem foi enviada aos norte-americanos no país, após violentos protestos à porta da embaixada contra o bombardeamento do hospital Al-Ahli em Gaza. Mais protestos à porta do edifício estão agendados para a tarde de quarta-feira.
Outras representações diplomáticas, como as do Canadá e Austrália, também já tinham aconselhado os seus cidadãos a sair do Líbano, “enquanto ainda estão disponíveis voos comerciais”.
As companhias aéreas Lufthansa e Swiss cancelaram todos os seus voos de e para o aeroporto Rafik Hariri em Beirute, até ao final do mês. A companhia de bandeira libanesa, Middle East Airlines (MEA) anunciou esta semana que vai transferir cinco dos seus 24 aviões para Istanbul como “precaução”.
A MEA fez o mesmo durante a guerra em 2006, quando Israel bombardeou e destruiu o aeroporto de Beirute, o único no país.
Leopoldina Hamade, 83 anos, vive no Líbano há 57 com o marido, nas montanhas do Chouf, também considerada uma zona segura.
A portuguesa conta à Lusa que, por enquanto, não tem planos de ir embora, devido à situação de saúde do marido.
Os filhos do casal, um médico e um informático que vivem nos Estados Unidos, “estão preocupadíssimos pois não se sabe o que virá”, conta Leopoldina.
“Claro que estamos preocupados com a situação e seguimos passo a passo tudo o que se está a passar, tanto mais que o Líbano é sempre o bode expiatório”, a diz à Lusa Leopoldina Hamade.
“Já passei por guerras e uma vez fomos pelas serras de noite para ir apanhar o avião para Portugal”, diz Leopoldina. “O que é necessário é nunca perder a fé.”