Os resultados presidenciais mostram um profundo compromisso dos portugueses com os valores democráticos e constitucionais.
Primeiro, pela expressiva participação eleitoral em estado de emergência e pela organização impecável de autarcas e voluntários que, por todo o país, possibilitaram contrariar as previsões catastrofistas das cassandras do costume. Por outro lado, porque perto de 90% dos eleitores votaram nos candidatos que afirmaram querer velar pelo cumprimento da Constituição.
Estou convicto de que uma grande parte dos votos que penderam para o partido extremista, excetuando um pequeno núcleo de extrema-direita, fizeram-no não por concordar com as anunciadas intenções dessa liderança, mas por quererem sinalizar ao sistema a necessidade de aperfeiçoamento de algumas das políticas públicas.
Quero assinalar outro momento relevante no enquadramento da nossa vida coletiva. No dia em que Joe Biden tomou posse e disse querer relançar as relações transatlânticas, fortalecendo os laços de cooperação dos Estados Unidos com os seus aliados, e disse querer apostar numa agenda multilateral dos direitos fundamentais, o primeiro-ministro, António Costa, assumiu perante o Parlamento Europeu as prioridades da presidência portuguesa: o combate à pandemia e o fornecimento atempado e simétrico das vacinas ao conjunto da União. Fazê-lo com critérios de solidariedade no interior da União e também com os países e povos aos quais nos unem laços de responsabilidade histórica e cultural. Por outro lado, a garantia de aprovação dos planos de recuperação e dos quadros financeiros plurianuais, que permitirão proteger o emprego, os rendimentos e as empresas. Por último, a visão reformista da Europa, capaz de fazer face ao desafio climático e digital, com níveis elevados de coesão, garantindo a sua autonomia estratégica e o seu papel no Mundo enquanto referência dos valores democráticos e humanistas.
Há uma visão e prioridades certas.
José Luís Carneiro