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Este é o fim de semana do cinema português em Paris

© Olá Paris!

O festival de cinema português “Olá Paris!” decorre este fim de semana na capital francesa com três dias de projeções que pretendem dar mais visibilidade aos filmes portugueses, após uma abertura com uma ante-estreia muito aplaudida.

“É importante que os profissionais (do cinema) saibam do festival e venham conhecer os filmes, porque são de grande qualidade”, disse à Lusa a realizadora e atriz portuguesa Maria de Medeiros, madrinha do festival, referindo que este tipo de eventos “com certeza” abre mais portas ao cinema português.

A cineasta residente em Paris deseja que o cinema português “volte a encontrar o próprio público português”, já que a história entre ambos é “cheia de altos e baixos” e “é importante voltar a conectar o cinema português com o seu público, que é não só o público em Portugal, mas em Paris também”.

Nesta primeira edição, no Cinéma Club de L’Etoile, perto do Arco do Triunfo, a madrinha do festival deseja também que “o público parisiense fique a saber que existe um festival onde vai descobrir um cinema muito bom”, com sete filmes “muito bem escolhidos” pelos organizadores.

“Para mim é uma grande honra, um privilégio, porque achei uma ideia tão necessária e tão boa que finalmente haja nesta cidade, que tem tantos portugueses, um festival de cinema português”, afirmou a atriz, mostrando-se entusiasmada pelo evento e por acolher os seus colegas da sétima arte.

Segundo os dois organizadores, Fernando Ladeiro-Marques e Wilson Ladeiro, o festival pretende ser “um ponto de encontro habitual”, reunindo produtores, artistas e realizadores da geração atual do cinema português em Paris.

“O cinema português sempre foi muito apreciado pelo público francês e pela crítica francesa, mas realmente não existia uma vitrine assim especialmente dedicada”, referiu a atriz reconhecida internacionalmente.

O festival prossegue hoje com os filmes: “Alma Viva” (2023) de Cristèle Alves Meira, o documentário “Ama-San” (2016) de Cláudia Varejão, “Restos do Vento” (2022) de Tiago Guedes, e “Um outono em Great Yarmouth” (2023) de Marco Martins, com a maioria dos realizadores presentes, bem como dos atores Albano Jerónimo, Isabel Abreu e Beatriz Batarda.

No domingo, ocorre a sessão relacionada com a celebração dos 50 anos do 25 de abril de 1974, com a projeção do filme “Capitães de Abril” (2020), de Maria de Medeiros, e de “A Noite do Golpe de Estado” (2001), filme de Ginette Lavigne.

“Eu vou apresentar “Os Capitães de Abril” e juntamente com o documentário da Ginette Lavigne, que é uma entrevista de Otelo Saraiva de Carvalho, e o meu filme é muito fiel à história, mas é uma ficção, então vai ser interessante para o público ter essas duas perspetivas no mesmo dia e depois poder conversar connosco”, afirmou Maria de Medeiros, atualmente a interpretar o escritor português Fernando Pessoa, numa peça dirigida por Bob Wilson no Théâtre de la Ville, que passará também por Itália e Lisboa.

No dia 29 de novembro, primeiro dia do festival reservado à imprensa e parceiros, aconteceu a antestreia muito aplaudida de “Banzo” (2024), filme de Margarida Cardoso, que será divulgado em França no dia 25 de dezembro, descrito pelos espetadores portugueses e franceses como “um filme intenso” e “uma grande forma de começar o festival”.

Em entrevista à Lusa, a realizadora portuguesa revelou que gostou muito do convite, porque os seus restantes filmes também passaram por Paris e desejando também que “haja uma maneira de criar mais espetadores em Portugal”.

“Paris é um sítio em que há muito público para tudo e eu sempre pensei também que era estranho não haver nenhuma apresentação mais estruturada de cinema português”, disse Margarida Cardoso, acrescentando que a França pode dar visibilidade e “que este festival possa ser uma oportunidade de abrir um espaço”.

O filme da realizadora, protagonizado pelo ator Carloto Cotta, retrata o ano de 1907 na ilha de São Tomé e Príncipe, que atualmente ainda é um “portal para o passado”, pelas roças, plantações e o “imaginário das pessoas ainda muito relacionado com a questão da mão-de-obra forçada” e, por isso, apesar das filmagens difíceis no sentido logístico “havia uma energia completamente diferente”, afirmou.

“É muito difícil recriar esse tipo de ambiente, portanto foi uma filmagem difícil, mas acho que seria impossível fazer o mesmo filme de outra maneira”, referiu a realizadora.

Por essa razão, a ideia surgiu quando fez o filme híbrido “Understory”, sobre a planta do cacau, onde passou muito tempo em São Tomé e Príncipe e leu muitos dos arquivos, como os relatórios médicos das roças dessa época que indicavam a morte por nostalgia.

“Fiquei interessada nesta questão da doença e do suicídio que dava nessa altura aos escravos ou às pessoas negras”, o ‘banzo’, afirmou, explicando que “as pessoas não lidavam bem com a questão do suicídio” e de ficarem “admiradas com o facto das pessoas serem humanas através do suicídio”.

‘Banzo’, do quimbundo que significa “saudade da aldeia”, é então a “nostalgia dos escravos, que acontecia mais no Brasil durante o tempo da escravatura”, quando as pessoas eram “importadas” do continente africano e sofriam de saudade e de “vontade de voltar”.

O passado chama a atenção “porque tudo é passado, como se diz no cinema: este momento não se repetirá mais e na vida”, defendeu a realizadora, que no entanto quer “passar a ideia de que as coisas não mudaram assim tanto”.

“Isto passou-se há muito tempo, mas depois quando se vê como as coisas se passam é igual ao que se passa hoje no nosso presente, pelo menos em Portugal é assim, há muitas pessoas que vêm num sistema de importação de pessoas ilegais”, afirmou.

O festival conta ainda com a presença de várias personalidades portuguesas e lusodescendentes, e o apoio do Cineclube Português.

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