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Escândalos na realeza

“No mesmo instante em que recebemos pedras em nosso caminho, flores estão sendo plantadas mais longe. Quem desiste não as vê.”

William Shakespeare 

Esta semana tenho uma telenovela da realeza, da época medieval, do século XII, sobre questões que subsistem sobre o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques. 

Historiadores mantêm-se em dúvida com certos aspetos da vida de D. Afonso Henriques, que segundo as fontes da época, elevavam o Rei como sendo dotado de poderes sobrenaturais e de ser o protegido de Deus. Na verdade eram uma máscara para esconder a realidade. 

Primeiro, não existe uma certeza da data de nascimento do Rei. Há quem diga que ele nasceu em 1109, outros afirmam ter sido entre os anos 1100-1105, e ainda outros entre 1106-1111. E se o ano tem pano para mangas de incertezas, o mês nem se fala, mas o historiador José Mattoso aponta para o mês de agosto. 

E agora, a grande questão, o grande dilema: será que nasceu em Guimarães ou em Viseu? O grande e icónico historiador José Hermano Saraiva defendia a cidade vimaranense como a cidade berço daquele que livrou o povo lusitano da sujeição de Leão e Castela. O facto, é que a tradicional lógica como sendo Guimarães como berço do rei é lógica, visto que o conde D. Henrique sucedia por nomeação régia aos antigos condes de Portucale, descendentes de Vímara Peres, fundador de Vimaranis – Guimarães – e que logicamente habitavam perto do castelo.

A verdade é que uma crónica do século XV diz que a rainha Teresa estaria em Guimarães depois do parto, quando o menino foi entregue ao aio Egas Moniz para este o criar. Mas a dúvida permanece quando documentos afirmam que no mesmo ano a rainha passara muitos meses na cidade de Viseu, e sabemos muito bem que na altura o senhor Sócrates ainda não tinha feito autoestradas que permitiam às pessoas deslocar-se tão facilmente, e não seria fácil para uma mulher grávida viajar tantos quilómetros por estradas incertas. 

Outro fato relacionado com o nascimento do menino-Rei, é que uma lenda diz que ele não nasceu saudável, argumentando que ele veio ao mundo aleijado nas pernas. Egas Moniz, imigrante de França, aceitou criar o menino mesmo assim, mesmo sabendo que ia ser aleijadinho a vida toda. A verdade é que, mais velho, D. Afonso Henriques conquistou Portugal, como ilustre guerreiro, com perninhas sãs e musculosas (penso eu). Diz mais uma vez a lenda, que foi contada por Egas Moniz, que um dia enquanto dormia apareceu-lhe a Virgem Maria numa visão (a santidade sempre teve queda para escolher Portugal para estas coisas), que mandou o aio construir uma igreja em seu nome, e que em troca o menino ficaria são. 

Supõe-se que esta história teria sido toda inventada para esconder uma realidade muito pior. Dizia-se que Egas Moniz decidiu levar o bebé de Guimarães para Chaves, para curar o menino numas águas termais da vila. O caminho, como já foi dito, era difícil. Eram três semanas de uma viagem turbulenta em carros de bois. O menino provavelmente não sobreviveu à viagem. A meio do caminho, em Vila Pouca de Aguiar, Egas Moniz cruzou-se com um pastor que tinha um bebé menino da mesma idade e trocou os bebés. Egas Moniz cuidou dessa criança como D. Afonso Henriques, filho de Dona Teresa e D. Henrique, e fez dele Rei de Portugal. O rapaz tornou-se um homem grande e saudável, que aos 16 anos já media 1,80m quando a média dos rapazes na mesma idade era de 1,60m. E tornou-se valente conquistador contra os espanhóis e mouros.

Quem me dera ter uma máquina do tempo: ía ganhar muito dinheiro a escrever uma revista tipo Maria com o título “As crónicas da realeza”, fofoca do dia: “Escândalo: Rei de Portugal afinal é filho do Ramiro, pastor em Vila Pouca de Aguiar”. 

Estas novelas dão-me fome, como quase tudo, se fosse de engordar não andava, rolava! Leiam agora então a receita de coelho bravo à caçador: 

“Depois de esfolado o coelho e limpo das vísceras, corta-se em pedaços (inclui-se a cabeça que se corta ao meio), lava-se e põe-se dentro d’uma caçarola com cebola picada, salsa também picada, bastante toucinho em tiras, dois dentes d’alho esmagados, um pouco de pimenta, uma pitada de especiarias, quatro decilitros de vinho branco, uma gota de vinagre, uma ponta de folha de loureiro, meio decilitro de caldo e um pouco de sal. Tapa se a caçarola, põe-se ao lume e deixa-se ferver, com fogo brando, durante cerca de três horas. Quando o coelho está cozido, destapa-se a caçarola, ativa-se o fogo e deixa se reduzir o molho, servindo-se em seguida.

Se não houver coelho bravo e quiser simular, empregando coelho manso, deita-se na caçarola com os outros temperos um ramo de carqueja, previamente lavado e atado de forma que se tire facilmente no fim da cozedura.”

Receita recolhida do site www.chaves.pt, de um tratado de cozinha, cedido pela família Bastos Pinto de Loivos. 

Bom apetite! 

Dévora Cortinhal

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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