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Embaixador português: Não há trauma na relação com a China

O embaixador português em Pequim destacou a relação “descomplexada” entre Portugal e China, lembrando que Lisboa “não está refém” das suas alianças tradicionais, numa altura de crescente desconfiança no Ocidente face ao país asiático.

“O facto de não haver trauma na relação é uma coisa muito particular e que nos dá uma enorme vantagem num diálogo aberto e descomplexado”, afirmou José Augusto Duarte, por ocasião dos 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países, que se celebra este mês.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata lembrou que, em “épocas de apogeu ou de fragilidade” da China, Portugal “nunca alinhou em tentativas coloniais ou em guerras” contra o país.

“Isso é extremamente importante: marca a diferença face a relações que são reféns das épocas em questão”, disse.

O diplomata referia-se ao ressentimento da China para com as potências ocidentais, pelo século de “humilhação nacional”, na sequência da Guerra do Ópio (1839 – 1860), que marcou o declínio do país como potência mundial e a sua subjugação aos Tratados Desiguais.

O fim da ocupação estrangeira, com a fundação da República Popular, em 1949, e, nos últimos anos, o restabelecimento do estatuto internacional do país, são duas das principais fontes de legitimidade do Partido Comunista Chinês, partido único no poder.

José Augusto Duarte destacou ainda a forma como a presença portuguesa se manteve em Macau “sem nunca Portugal ter tido um conflito militar com a China”.

“Os portugueses chegaram ao Delta do Rio das Pérolas em 1513. E foi através de Macau que a presença se manteve, mas sem ser com base num conflito com a China, ou em algo que não fosse por consentimento do lado chinês”, explicou.

“É uma coisa única no âmbito das relações internacionais”, realçou.

No final de abril, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, vai estar presente na segunda edição do fórum “Uma Faixa, Uma Rota” e fará uma visita de Estado à China, numa altura de crescente suspeição no Ocidente, face às ambições geoestratégicas de Pequim.

Desde a ascensão ao poder do líder chinês Xi Jinping, em 2013, a China adotou uma política externa mais assertiva, que se materializa no gigantesco plano de infraestruturas ‘Uma Faixa, Uma Rota’, que visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa.

A iniciativa é vista como uma versão chinesa do ‘Plano Marshall’, lançado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.

As ambições de Pequim suscitaram um reforço do escrutínio sobre os investimentos chineses em setores estratégicos, em vários países, e o despoletar de disputas comerciais com Washington.

José Augusto Duarte admitiu que “há neste momento evoluções que tornam mais complexa a relação da China com uma série de países ocidentais”, mas que Portugal “não confunde os seus papéis”.

“Nós temos que, respeitando os compromissos internacionais de Portugal, que deriva do facto de sermos membros da NATO e da União Europeia, termos assentes muito bem os nossos valores, mas provavelmente podemos defendê-los de forma especifica nossa”, disse.

E lembrou que a “situação na qual estamos agora não é nova na História”.

“As Guerras do Ópio, que aconteceram em meados do século XIX, foram extremamente complexas, mas Portugal nunca deixou de ser um aliado de Inglaterra, como também nunca participou na aliança britânica que levou a uma guerra contra a China”, disse.

“Nós não acreditamos numa via conflitual para tentar mudar o nosso interlocutor, seja ele qual for. Portugal não tem, nem nunca teve essa perspetiva”, acrescentou.

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