De que está à procura ?

Colunistas

ECHO

Numa altura em que tanto se discute quem votou como em relação à ajuda aos migrantes nos mares do Mediterrâneo, pareceu-me importante fazer lembrar o que de espantoso têm feito os europeus em termos de ajuda humanitária. E temos feito tanto que, por vezes, sinto que não temos memória. Por isso, optei por escrever sobre o ECHO.

O ECHO é um instrumento da Comissão Europeia que tem sido uma preciosa ajuda na Ação Externa da União Europeia (UE). Começou a funcionar a 1 de Abril de 1992, e a sua criação teve por base a ideia de um serviço de ajuda humanitária da Comunidade Europeia (CE).

Com o agravamento de diversas crises pelo mundo inteiro, também o ECHO sofreu uma evolução importante o que levou, por outro lado, à afirmação da presença internacional da UE. Dados de 2019 indicam que a ajuda humanitária se situa na ordem dos 2,2 mil milhões de euros por ano. Esta ajuda distribui-se por áreas como a ajuda alimentar, o apoio aos refugiados e os instrumentos de cooperação.

A CE atribuiu mais de 1,548 mil milhões de euros em fundos da UE a mais de noventa e quatro países que, por uma razão ou por outra, precisavam de ajuda. Esta assistência refere-se também aos países vizinhos que, de forma indireta, acabam por serem vítimas de conflitos que não são seus. Para termos uma ideia, os europeus ajudaram com mais de 280 milhões de euros a Síria, a Jordânia, o Líbano e o Egipto. Esse dinheiro destinou-se a operações humanitárias. Também foi criada, na Turquia, a Rede de Segurança Social de Emergência (RSSE) para refugiados e, desde 2018, a RSSE já apoiou cerca de 1,4 milhões de refugiados. De referir que este país, sob o comando de Erdogan, acolheu 3,5 milhões de refugiados em 2017.

27% das populações mais afectadas por crises de longa duração, e sem sinais de evolução positiva, foram-no em países como o Iémen, Síria e Iraque. No relatório anual da CE sobre o ECHO é referido que, devido ao conflito na Síria, estima-se o deslocamento de onze milhões de pessoas, dentro e fora do país. Isto é francamente preocupante, num país com cerca de dezoito milhões de habitantes.

Não se pense que a ajuda humanitária cai no vazio. Ela tem “ECHO” no desenvolvimento desses países, em especial, em termos regionais. É certo que o progresso em alguns casos é lento e aflitivo. Mas, por outro lado, casos como a ajuda humanitária em África enchem-nos de orgulho quando diversas agências e instituições dão as mãos. Quatro grandes crises regionais, naquele continente, implicaram um esforço significativo em termos de ajuda alimentar a 9 milhões de pessoas e a 3,5 milhões de crianças que sofriam de malnutrição aguda. A ajuda europeia, mas também das Nações Unidas, da Cruz Vermelha Internacional e de outros actores, passa por tantas frentes como o combate a epidemias, vacinação, resposta a catástrofes naturais e provocadas pela mão humana, luta contra a violência de género, a educação e formação, etc.

Por isso, quando alguém quiser tirar o valor àqueles que dão a sua vida aos outros, e aqui estou a pensar também nas forças militares, ergam a vossa voz. Sem as forças militares não seria possível a paz, ou pelo menos a tentativa de a alcançar. Em Portugal, parece haver uma clara vontade de descredibilização dos militares, mas sem eles nem sequer teria sido possível essa vontade aparecer. A eles devemos o 25 de Abril. Aproveito as palavras do General António Menezes “por cada ato desmesurado morremos um pouco como instituição. (…) a exoneração de um Comandante Militar (…) feita na praça pública pode ter valor mediático, mas em vez de credibilizar a autoridade fere de morte a disciplina”.

A falta de coragem política foi incapaz de decidir conjuntamente sobre a crise contemporânea mais visível: a crise do mediterrâneo. Nem um documento comum conseguimos redigir e colocar a votação. Nas palavras de Adriano Moreira, “o mediterrâneo das nossas glórias do passado foi transformado no cemitério dos abandonados do presente”. Não me é importante saber quem votou o quê e como. Importa-me saber que há homens e mulheres no terreno, orientados pelo mais bem preparados, a fazer o que os torna a essência da humanidade. São “ECHO” na vida daqueles que mais precisam. Enquanto existir o Grande Pacto, que consiste num conjunto de medidas acordadas em 2017 entre doadores e organismos na Cimeira Humanitária Mundial de 2016, para aumentar a eficácia da acção humanitária, a votação de resoluções que sofrem de partidarite aguda não terá a importância que podem parecer ter. São apenas um mau sinal.

Uma referência especial a Christos Stylianides, comissário europeu para a Protecção Civil Europeia e Ajuda Humanitária, pelo trabalho de gigante que fez desde 2014 num contexto europeu e internacional muito difícil. Deixo-vos com uma imagem que vale por todas estas palavras, esperando que encontre “ECHO” nas consciências menos atentas. A mim, dá-me esperança.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA