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Do fado ao semba: a dança da reconciliação luso-angolana

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Nas folhas arrancadas da nossa história coletiva, lusos e angolanos partilharam palcos onde a melodia nem sempre foi harmoniosa. A cadência da Guerra Colonial Portuguesa, que dominou as paisagens de1961 a 1974, foi mais um lamento do que uma valsa. Foram anos tumultuosos, onde jovens portugueses e angolanos, muitas vezes do mesmo escalão etário, se enfrentaram em terras que ambos chamavam lar. Um eco de um passado colonial que se mostrava renitente em soltar as suas garras. E quando a independência finalmente soou para Angola, em 1975, a sua alvorada foi ofuscada pela Guerra Civil Angolana, que se prolongou até 2002. Cabinda, com os seus ricos recursos petrolíferos e a luta pelo seu estatuto, tornou-se um foco adicional de discórdia. Mas a história, com todas as suas reviravoltas, tem mostrado que os momentos mais difíceis podem ser precursoras de novos começos. Portugal e Angola, com os seus laços históricos e culturais, não são exceção. As feridas da guerra e do colonialismo podem ser profundas, mas, no fundo, ambos os países partilham mais semelhanças do que diferenças. Ambos sabem o que é reconstruir-se após turbulências, como Portugal o fez após o terramoto de 1755 ou Angola após décadas de conflito até hoje.

A cooperação moderna entre as duas nações é uma testemunha desta renovação. O Governo português, num gesto de mão estendida, não só tem canalizado esforços em assistência técnica, mas também em investimentos diretos. As empresas portuguesas, como a Mota-Engile a GALP, estão ativamente envolvidas em projetos de infraestrutura e energia em Angola, sinalizando uma nova era de parcerias mutuamente benéficas.

E na esfera cultural? Ah! Aí, a fusão é ainda mais encantadora. O Centro Cultural Português em Luanda e o Centro Cultural Angolano em Lisboa são mais do que meros espaços. São os palcos onde artistas de ambas as nações exibem a sua arte, promovendo o entendimento mútuo. Lembremo-nos do sucesso da cantora angolana Aline Frazão em terras lusitanas ou do carinho com que os portugueses receberam o filme “Ar Condicionado”, uma produção cinematográfica angolana misteriosa e surreal sobre a cidade de Luanda, onde avarias em ares-condicionados levam a uma descoberta de uma realidade mágica e à conexão entre personagens urbanos.

Quanto ao turismo, não há nada como experienciar uma cultura para realmente compreendê-la. Lisboa tem assistido a um aumento do número de visitantes angolanos, enquanto Luanda tem aberto os seus braços para turistas portugueses, ávidos por descobrir as belezas do Kwanza ou as planícies do Huambo. E cada visitante, consciente ou inconscientemente, torna-se embaixador da reconciliação. Para potenciar ainda mais este intercâmbio, Angola deveria considerar a remoção dos vistos para turistas portugueses e, mais amplamente, para visitantes europeus.

Também no panorama tecnológico e industrial, a cooperação entre Portugal e Angola tem um vasto potencial. Enquanto Lisboa se posiciona como um crescente polo tecnológico europeu, especialmente no setor das novas tecnologias e das start-ups, Angola, com a sua juventude vibrante e recursos naturais, tem o potencial para se tornar uma potência tecnológica em África. Pode-se frisar a fundação Acelera Angola, que ajudou a concretizar vários projetos, entre os quais Tupuca, a primeira plataforma de entrega de alimentos de Angola.

O passado não pode ser alterado, mas o presente e o futuro estão nas mãos de lusos e angolanos. A melodia da reconciliação, alimentada pela compreensão e cooperação, tem tudo para ser a trilha sonora das próximas décadas. E que essa sinfonia ecoe, forte e clara, por muitos séculos.

Ricardo da Silva

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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