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Dia internacional da lusofonia

Celebrar uma língua é reconhecer o potencial dessa mesma língua, e da cultura a ela associada, em unir os países que a falam e a criar espaços de solidariedade e de compreensão mútua, a fim de promover a diversidade cultural e reflectir em conjunto a um futuro comum.

A data de 5 de Maio, como Dia internacional da Lusofonia, foi inicialmente declarada em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e ratificada em 2019 durante a 40ª. sessão da Conferência Geral da UNESCO.

Embora os Portugueses – povo que levou a lingua portuguesa ao mundo – celebrem a sua língua a 10 de Junho, dia da morte de Luís de Camões, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, a data de 5 de Maio foi criada em Cabo Verde e não corresponde, tanto quanto sei, a nenhuma data importante ligada a Portugal e à Língua Portuguesa. Pessoalmente – e perdoem-me a minha costumada franqueza – considero que a escolha desta data, não por Portugal e os Portugueses, mas sim por um país a quem os Portugueses levaram a sua língua, é mais um exemplo gritante do servilismo e fraca autoestima dos Portugueses em geral, dos seus governantes em particular. Outro exemplo é o Museu da Língua Portuguesa que, em vez de ter sido criado em Portugal, o foi no Brasil.

Os Portugueses costumam ter um grande “orgulho” em a sua língua ser considerada a quarta ou quinta mais falada do mundo. A pergunta que se põe é: Que língua? Uma língua mal escrita, cheia de erros de sintaxe e também de ortografia, não só uma ortografia simplificada por um aberrante acordo ortográfico elaborado por ignorantes e ratificado por igualmente ignorantes governantes sem acordo do povo português, mas sobretudo pela simples razão de que essa ortografia simplificado e abrasileirada ainda mais tem contribuído para redobrados erros de ortografia e gramaticais?

Que Língua Portuguesa é essa que invadiu o espaço virtual e que parece também ter tomado posse dos meios de comunicação, não só da televisão (de que devemos salientar as legendas nos telejornais e, sobretudo, as vergonhosas traduções dos filmes e séries, os anúncios ridículos) mas até mesmo de alguns jornais de renome? Isto sem falar no português aprendido nos bancos da escola. Que língua é essa realmente? Um dialecto ou uma língua literária com regras? Para onde fugiu a Língua Portuguesa? 

Para quem tem amor à Língua Portuguesa e vê com grande tristeza e preocupação a sua acelerada degradação, o dia 5 de Maio é mais um dia de luto do que de celebração. 

Alguns factos sobre a Língua Portuguesa

– A palavra portuguesa mais comprida é anticonstitucionalissimamente (com 29 letras) e descreve algo que é efectuado de maneira muito anticonstitucional, ou seja, que é oposto à Constituição, como podemos considerar o caso do Acordo Ortográfico. Contudo, um dicionário brasileiro menciona como palavra portuguesa mais longa o termo médico “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico” (com 46 letras). Trata-se de uma palavra artificial, ou seja, um tipo de palavra que não é verdadeira. Este termo foi originalmennte fabricado em inglês, como sinónimo da doença conhecida como silicose, para ser criada intencionalmente a maior palavra da língua inglesa. Não é considerada uma palavra séria mas sim uma “brincadeira” pelos linguistas ingleses. Infelizmente já nada surpreende quando se trata da Língua Portuguesa, pelo que a palavra aportuguesada entrou na nossa língua sem nenhuma objecção dos especialistas da matéria, o que – pasme-se – permitiu a sua dicionarização. Como se costuma dizer “se fosse só isso!” Há, efectivamente, muitas mais palermices dicionarizadas, como palavras estrangeiras (normalmente inglesas, mas também francesas e outras) foneticamente logo também ortograficamente aportuguesadas, que vieram substituir as palavras portuguesas genuínas, velhas de séculos. Em nome de quê? Da continuada degradação da Língua Portuguesa, claro!

– Como palavra portuguesa mais curta, podemos citar duas: “a” (artigo definido feminino singular e também preposição) e “o” (artigo definido masculino singular). 

– Em Portugal é geralmente aceite que existem quatro dialectos* portugueses mutuamente inteligíveis: (1) Norte ou galego (2) Beira ou Centro (3) Sul (Estremenho), que inclui Lisboa (4) Insular, que inclui Madeira e Açores. Esta classificação é pouco correcta, pois no Alentejo e Algarve o falar é diferente do do Sul (Estremenho), onde foi incluído. Por outro lado, quando se fala de Língua Portuguesa de Portugal, chama-se português europeu, que considera três dialectos mais prestigiados: o do Porto, o de Coimbra (que até há algumas décadas era considerado o padrão português), o de Lisboa.  Devido à grande emigração brasileira para Portugal, encontramos actualmente mais um: o brasileiro.

* um dialecto é uma variante de uma língua que difere da língua padrão. No caso do Português, com tudo o que se tem passado com “acordos” e também com um mau ensino, não se sabe bem qual é o Português-padrão, contrariamente a todas as outras línguas mais faladas e importantes, que têm o seu padrão bem definido. Os dialectos podem variar de região para região, bem como socialmente.

– Ao contrário do que muitos possam pensar, o primeiro livro impresso em Portugal na língua portuguesa não foi produzido em grandes cidades como Lisboa, Porto, Braga ou Coimbra, mas em Chaves, em 1488. Embora não se saiba com exactidão, muitos estudiosos consideram que tal livro tenha sido “O Sacramental”, de Clemente Sánchez de Vercial, um padre da província espanhola de Leão, portanto um autor não português. Claro que, nessa altura, já existiam livros escritos mais antigos, tais como “O Livro das Aves” (1184), “O Livro Velho de Linhagens” (1270-1290), “O Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela” de D.Duarte (1438), e outros. Por que razão não foi dada prioridade a um destes livros de autores portugueses serem os primeiros a ser impressos? Quando se conhece a mentalidade portuguesa, sabe-se que beneficiar tudo o que é estrangeiro, em detrimento do português, é um defeito português que já vem de longe, mesmo de muito longe.

Dulce Rodrigues

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