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Demagogia barata corrói e mata

Este é apenas mais um daqueles “revolucionários” cartazes que os magos do Marketing político deste partido escolheram para continuar a dar tiros nos fragilizados pés de barro do PCP. Esta gente vive ainda no passado estalinista da Rússia soviética, ou nos tempos áureos do salazarismo. 

Ao PCP devemos agradecer, goste-se ou não, o facto de ter sido um dos movimentos que contribuíram decisivamente para hoje vivermos em democracia. Frágil, incipiente, imperfeita, mal estruturada, dominada e instrumentalizada por partidos políticos cheios de vícios e de podridão, mas ainda assim uma democracia. Ainda não nos retiraram totalmente (pelo menos a alguns…) a capacidade de pensar, de exprimir livremente a nossa opinião, e de tratarmos de a aperfeiçoar, pelo que ainda acredito que o iremos conseguir, sobretudo pela transparência total em que hoje vivemos. 

Curiosamente o PCP, arauto das liberdades do antes do 25 de Abril de 1974, foi quem liderou a tentativa de nos impor uma feroz ditadura estalinista de sinal contrário ao salazarismo no 25 de Novembro de 1975 (General Ramalho Eanes, ser-lhe-ei eternamente grato por ter feito abortar essa tentativa de estabelecer uma ditadura estalinista em Portugal), em que novamente haveria ferrolho para quem opinasse diferente (ou janelas convenientemente abertas para que os dissidentes “caíssem” inadvertidamente…).

O PCP  e a esquerda mais radical não conseguiram adaptar-se ao regime democrático, nem a viver numa democracia parlamentar, em que as forças se medem primeiro no voto popular expresso na eleição, e depois nas bancadas da Assembleia da República, preenchidas em função da expressão que cada partido obteve nas urnas. O método eleitoral (D’Hondt) que eles próprios influenciaram decisivamente, porque protegia os partidos com menor expressão eleitoral, é o que hoje os está a penalizar, e provavelmente os leve à extinção, se não inverterem a tendência de falta de “sex appeal” aos votantes. E não é com bandeiras ultrapassadas, como este cartaz, que o PCP ou o BE, que segue a mesma linha de demagogia populista barata, conseguem atrair votantes, antes os repelem. 

Também não vão lá com os chavões do costume “Transportes, Educação, Saúde, Habitação”, tudo aquilo que qualquer cidadão normal, aqui e na China, almeja, pois após 50 anos de PCP no Parlamento as famílias portuguesas não reconhecem qualquer contributo dado por esse partido à melhoria nestas sensíveis áreas na vida das famílias. Até a velha bandeira revolucionária da reforma agrária acabou por morrer, porque nem esse processo conseguiram conduzir eficazmente, e o Alentejo contemporâneo gerido por eles é um desastre. Aquilo de “a terra a quem a trabalha” acabou por ser uma farsa, as cooperativas agrícolas faliram todas mal acabaram de vender o que ainda estava nos celeiros, nas adegas, e a cortiça nos sobreiros por cortar.

Os governos que o PCP e o BE apoiaram durante os longos anos da geringonça mais não fizeram do que piorar gradualmente a situação em todos os aspetos da vida das famílias, infernizando novamente a vida dos cidadãos precisamente quando os números macroeconómicos são bons (sem que esses governos tenham contribuído no mais mínimo para que assim seja, antes pelo contrário). 

São os empresários da construção civil, aproveitando o boom do turismo, os empresários do turismo, e os das indústrias exportadoras, que nos estão a dar uma economia a “bombar”. Já as famílias estão a ver o comboio a passar, e a sua vida a piorar (inflação especulativa absurda nos preços do cabaz alimentar, juros a levar as prestações da casa a números incomportáveis para as famílias).

Este cartaz político é  particularmente idiota (e perigoso), não só por continuar a demonizar o lucro por razões ideológicas estalinistas coletivistas, como sobretudo por atacar dois grupos económicos que estão entre os maiores empregadores de Portugal, e são considerados por via de regra como “patrões” modelares pela esmagadora maioria daqueles que lá trabalham. Quem mais está a lucrar com a situação inflacionária que vivemos, e que esmaga as famílias, é o governo, e não vejo o PCP ou o BE preocupados com isso.

O PCP e o BE são hoje forças políticas indispensáveis ao combate democrático ? Se não mudarem a cassette, a visão do combate político, o público-alvo dos seus esforços, as áreas de intervenção política ativa com peso real na vida das famílias, afirmo desde já que não, e que, acabada a geração que cresceu com eles na mística da clandestinidade (PCP), e se acabar o “caviar” (apoios do OE) à esquerda parasitária que vive em Lisboa a sugiro dinheiro dos contrbuintes, tenderão a desaparecer na sua irrelevância.

Se não se modernizarem e ajustarem o combate e a estratégia política às necessidades do “povo” atual, em que já não há exércitos de proletários provenientes da revolução industrial, ou Catarinas Eufémias em luta contra os latifúndios e pela reforma agrária, o PCP morre, o BE tendencialmente também. 

Hoje aquilo que vemos na Europa, sobretudo na do Sul, é um imenso e crescente exército de lumpen-proletários empobrecidos, e uma classe média a desaparecer a olhos vistos, que vão sobrevivendo dos despojos do capitalismo financeiro em que vivemos, em que a riqueza se concentra cada vez mais num cada vez menor número de pessoas, e a esmagadora maioria das famílias sucumbem esmagadas com o peso da dívida que contrataram para cobrir absolutamente todos os aspetos das suas vidas: casa, carro, móveis, férias, eletrodomésticos, you name it.

Não vejo o PCP ou o BE preocupados com isso de forma pro-ativa, e a nortear o seu trabalho político para ajudar os constituintes com o perfil atual.

Há um dado curioso que passou (propositadamente ?) largamente despercebido na imprensa portuguesa. Na Alemanha, o partido Alternative für Deutschland (AfD, o Chega alemão) que vem num crescendo assustador, também a nível nacional, ganhou uma eleição regional para governar o distrito de Sonneberg na Turíngia, uma região esquecida, pouco desenvolvida, das mais pobres da Alemanha, onde a esquerda tem dominado sempre. Até hoje…

A esquerda continua a achar que para se manter no poder precisa de ter pobres à sua volta como clientela política. Há várias intervenções de dirigentes políticos da esquerda latino-americana (Lula, Lopez Obrador, Gustavo Petro) em que são apanhados a afirmar que sem massas de pobres a esquerda morre, por falta de constituintes votantes.

Na Europa, continente que enriqueceu e se desenvolveu no contexto das nações precisamente por ter criado uma classe média forte, os partidos de esquerda que chegam ao poder empenham-se em acabar com os ricos, como dizia Otelo Saraiva de Carvalho numa famosa visita à Suécia, enquanto os suecos tratavam, isso sim, de erradicar a pobreza. 

Em Portugal, um país com metade da população na pobreza, ou no limiar da mesma, um “rico” ou um “milionário” na cultura do Correio da Manhã (do governo e do PCP) pelos vistos é alguém que ganha mais de 1.000 euros por mês (mil-ionario), ou tem umas poupanças de 20 ou 30 mil euros (multi-mil-ionario) há que trazê-los rapidamente para o menor denominador comum (salários e pensões inferiores a 1.000 euros, zero poupanças), para que os possamos dominar e cativar como clientela política subsídio- e esmola-dependente, pensam os “geringonças” do PCP, ala radical do PS e BE, na linha dos caudilhos latino-americanos contemporâneos.

Só que hoje, os votantes na Europa estão fartos, não querem isso. Os jovens então, que querem conhecer o mundo que lhes chega ao telemóvel através das redes sociais, muito menos. Estão a emigrar em números superiores aos dos tão criticados tempos de Passos Coelho, porque a esquerda, e o PCP é em grande medida co-responsável, só estão preocupadas em manter as suas clientelas políticas pobres, para assegurar o poder, e não em fazer de Portugal um país de classe média dominante e poderosa. 

Na Grécia, a desilusão com o Syriza (coligação de esquerda radical, tipo BE da mana Mortágua), fê-lo ser varrido do mapa, a direita e a extrema-direita tiveram uma esmagadora maioria absoluta. Em Espanha veremos dentro de um mês. Em França, os tumultos potenciados por décadas de permissividade e laxismo, que permitiram a formação nos subúrbios de bolsas de imigrantes a vegetar no desemprego, e a viver no desemprego das sobras do regime, estão a empurrar os votantes assustados para os braços da Marine Le Pen, que irá cortar a eito nas questões sociais, com uma intervenção musculada na sociedade assente num estado policial sem contemplações de caráter “politicamente correto”.

Por isso a esquerda civilizada e que aceita o jogo da democracia parlamentar tem de mudar de paradigma, de valores e de estratégia. Quando o PCP fecha o cartaz com a linda frase “Mudar de política”, eu não podia estar mais de acordo, sempre e quando isso se aplique a eles, ao seu trabalho político falhado em todas as frentes que dizem defender (e uma esquecida, de que nunca falam, a corrupção). 

O PCP é hoje conhecido pelo partido que inferniza a vida da classe trabalhadora, pelas greves espúrias e fúteis que instiga nas grandes cidades, aproveitando-se do controle sobre os transportes públicos. Conseguiu com isso levar as pessoas a ter de usar transportes individuais em números avassaladores, com os custos associados, e com os engarrafamentos monstros que provocam, já não só em horário de ponta, mas a qualquer hora do dia (o pessoal está ou não em teletrabalho ? Como se justificam os níveis de trânsito muito superiores aos pré-pandemia ?). Duplo inferno para os habitantes das grandes cidades.

Sim, como diz o cartaz, é preciso mudar a política, mas são vocês camaradas os que precisam de o fazer. Sei que a esquerda não liga muito ao que dizem os gestores de topo de multinacionais, mas o Jack Welch tinha uma expressão que acerta na mouche e identifica claramente a razão pela qual PCP e o BE quase foram varridos da Assembleia da República nas últimas eleições: “If the rate of change on the outside exceeds the rate of change on the inside, the end is near”. O Jack Welch falava de empresas obviamente, mas o mesmo se aplica ipsis verbis a partidos políticos. O exemplo estrela é o PCP, mas há outros que teimam em imitá-los, para gáudio do PS…

José António de Sousa

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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