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De poemas feito

Estou a nu no pântano da poesia
Tudo o que sou tão claro em seu teor
A solidão mais triste da alegria
A escravidão mais livre do amor

Há poemas de cordas entrançadas
Aperto de garrotes na garganta
Limites de fronteiras devassadas
E um tenor frustrado que ainda canta

Levanto em alguns estátuas em marasmo
Inconformados seres que desconheço
E noutros lustres de fictício pasmo
Com o meu sangue a pagar-lhe o preço

Há sempre em todos, não obstante, um aspecto
Que liga a vida a morte em um só laço
A redenção de um monstro que é correcto
E o correcto monstro que me faço

Porém, todos me salvam no limite
Do cadafalso que eu próprio fiz
Porque a vida não passa de um palpite
Acertei sempre nela por um triz

Vinguei de cada vez que os escrevi
Porque só escrevo por necessidade
Se ressuscito é porque vivi
O logro insano da imortalidade

Há neles viagens de algum dramatismo
Traumáticas lesões de guerras tidas
Beijos eivados de mau romantismo
Feridas a sarar de adormecidas

Cheiram a flores já murchas, degradadas
As margens de outonos invasores
Mas sempre desse húmus espantadas
Ressurgem pétalas de menores rancores

Amei por eles toda a humanidade
E quis matar para também morrer
E fiz-me santo nessa insanidade
Porque só louco me permiti viver

Estou escrito como sou e assim
Eis o que sou e como sou serei
Não me reduzo ao fatal de um fim
Ao mesmo tempo sou escravo e rei

Não me concebo igual nem diferente
Não sonho longe nem de perto sonho
Ando em delírio no pavor que sente
O ser humano ínfimo ou medonho.

Luís Gonzaga

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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