Seria mais fácil falar do que não aconteceu! Dos silêncios, das omissões. Da incapacidade inata de dar, de abraçar. Talvez porque nunca se recebeu. Como partilhar o que nunca se sentiu?
Complexa esta dinâmica do dar e receber.
Contudo, será sempre preferível falar do que foi, do que a memória traz de luz, de momentos escassos de partilha.
Lembro os poucos instantes de felicidade. Tão breves! Tão eternos! Como aquele em que nos levaste a ver o mar. Grandioso, imponente , ruidoso, o mar bravio da torreira.
Lembro- me de ver homens e mulheres, bois, redes, peixes a saltitar.
Era uma traineira que acabara de chegar.
Presenças gigantes no meu olhar de menina. Imagens imponentes a marcar o deslumbramento e o medo.
Na memória da menina um dos raros momentos de ternura e aconchego.
Um dos raros momentos de eternidade!
São Gonçalves