De que está à procura ?

Colunistas

Da independência da imprensa

A organização “Jornalistas sem fronteiras” publicou a lista de classificação da liberdade de imprensa 2019 e, como de costume, a Escandinávia obtém a melhor posição: 1° Noruega, 2°Finlândia, 3° Suécia… 12° Portugal, 13° Alemanha, 29° Espanha, 32°França, 33° Reino Unido, 103° Moçambique, 105° Brasil °,109° Angola, 178° Eritreia, 178 Coreia do Norte e 180° Turquemenistão.

A abertura e liberdade de uma sociedade pode ser medida pelo nível da liberdade de imprensa. Uma sociedade dividida ataca e culpabiliza o que é diferente, fomentando um clima misantrópico. Naturalmente que há grandes diferenças entre os 180 países abrangidos pela investigação sobre a liberdade jornalística. Há países em que domina o medo de medidas de retaliação e de prisão como é o caso da Turquia e muitos outros. O direito ao acesso a informação livremente pesquisada torna-se num privilégio cada vez mais raro, atendendo à pressão de grupos fortes com interesses próprios dentro de uma sociedade. Atualmente acentua-se o perigo de páginas críticas da Internet censuradas.

Relativamente à Alemanha, a organização “Jornalistas sem fronteiras” criticou a lei alemã que desde 2018 entrou em vigor e que obriga, redes como Facebook, a eliminar conteúdos obviamente ilegais, no prazo de 24 horas após a apresentação da queixa. A ameaça com multas de milhões e também com penas para os suspeitos, pode levar à supressão de contribuições jornalísticas por medo de multas.

Imprensa desdentada

Os poderes estabelecidos preferem uma Imprensa desdentada e o jornalista sente-se, muitas vezes, dependente de quem paga a reportagem ou notícia; o pensar politicamente correcto provoca, por vezes, previamente uma certa autocensura. Há jornalistas sem posição pré-definida que trabalham num clima de medo de informar criticamente quer no sentido da esquerda quer no da direita.

Uma mundivisão intolerante torna-se indiferenciada reduzindo a boa política aos do próprio partido ou ideologia e a má política aos adversários. Importante é que política, Estado e imprensa não se unam e também que não sejam considerados como adversários. Numa sociedade da diversidade de opiniões, próprio de uma democracia aberta, ninguém precisa de combater ou difamar ninguém embora cada um tenha o direito a manifestar e defender os seus interesses que não devem excluir os interesses adversários nem declará-los como maus.

A imagem do desenvolvimento social numa sociedade pode observar-se na sua maneira de apreciar diferenciadamente interesses e valores.

Dentro e fora de Portugal, nunca poderá haver uma linha informativa ideologicamente independente porque quer jornalistas quer elementos do CGI não são eunucos, na qualidade de delegados de grupos de interesses! Uma sociedade que não esteja consciente disto está mais predisposta a ser enganada!

Opinar da independência da RTP é como, na generalidade, falar da virgindade das meninas e dos meninos antes do casamento! Um dos poucos critérios seguros para análise da questão (não fossem os “anticoncetivos”!) seria ver até que ponto o jornalismo investigativo contribui para a correcção de atitudes abusivas de governos, oposição, economia e ONGs; ou até que ponto levaram à deposição de ministros, à queda de um governo, a chefes de empresas terem de atempadamente abandonar o cargo! Isso torna-se num busílis e para mais em países acomodados, em que muitos multiplicadores sociais trazem a tesoura da censura na cabeça! Numa sociedade portuguesa reguila, dos clubes, mas alegre e contente, torna-se difícil um civismo crítico capaz de pensar para lá dos limites partidários!

Um outro factor que impede a imprensa portuguesa de ser mais isenta situa-se na malaise do pensamento político português que, na praça pública, é equacionado apenas em termos de direita ou de esquerda: um fruto do jacobinismo que se tornou numa doença crónica do argumentar social português! O mesmo se diga nas comparações e análises de caracter regionalista (patriotismo estomacal!). De facto, a afirmação de que a RTP, em comparação com as outras é mais ou menos equilibrada, revela-se numa falácia. O critério de orientação de avaliação da independência da RTP a partir da comparação com as privadas portuguesas manca muito, tal como pensar a sociedade em termos de direita ou de esquerda, passando a polaridade a ter demasiado peso como critério de orientação. Pior ainda quando os polos são deficitários não se podendo então seguir como orientação o princípio filosófico de que a „virtude” se encontrará no meio”! Talvez a juventude surgente possibilite uma sociedade de opinião mais focada na realidade económico-cultural e menos em termos polares de esquerda e de direita.

Em Portugal predominam os Media desdentados, mais virados para o sentimento, para o catastrófico e para o clubismo. Como exemplo de uma imprensa sem dentes temos também agora o caso, na Alemanha, da aceitação não crítica da recusa das diferentes fracções partidárias não elegerem os candidatos da AfD para vice-presidente no Bundestag e no Landtag Hessen. Aí são sistematicamente boicotados pelos outros partidos, embora cada fracção partidária tenha direito a um vice-presidente. E isto acontece ao mais alto nível, da democracia, quando a consequência seria abolir a lei do direito das fracções parlamentares a terem Vice-presidentes! Não é legítimo que a concorrência político-partidária determine as regras democráticas básicas. Não é boa uma sociedade cega do olho esquerdo nem do olho direito. Claudia Roth dos Verdes é vice-presidente do Bundestag, embora tenha participado numa manifestação com os autonomistas de esquerda que ostentavam cartazes “Morte à Alemanha” “Deutschland Verrecke”!

Precisa-se uma sociedade de olhos bem abertos sejam eles o da esquerda ou o da direita! Só assim se poderá evitar o populismo das massas e o populismo da ideologia da elite formadora de opinião pública.

António da Cunha Duarte Justo

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA