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Carta à lagarta

Deus criou o céu e a terra
e viu que toda a criação era boa e vera
desenhou os insectos e os animais
esculpiu os peixes do mar todos diferentes e iguais.
Mas à lagarta deu-lhe duas vidas
e o dom de conhecer o céu e a terra
numa existência que não fosse tão desprovida
nem tão somente uma quimera.
O bichinho, um dia, seduzido pela seda
no casulo amodorra e adormece
sonha a larva que não é lagarta mas sereia
e aos poucos – malhas que a Natureza tece –,
cresce, muta e se metamorfoseia.

E, numa bela manhã,
o bichinho na crisálida desperta
mas a sesta deixou-a lerda
há lepidópteros que não sabem
muito bem o que são
habituada a rastejar pelo chão
sabendo-se verde, feiinha e enrugada
já não sabe quem é, não sabe nada
que mudou e se transcendeu
se transmutou e renasceu.

Hoje podes de mil cores adejar
porque és alada e maravilhosa
mas para poderes voar
borboleta,
tens de acreditar sobretudo
que pode reescrever a tua glosa
que a lagarta é obsoleta
e que hoje, linda mariposa, podes tudo.

Daniela D’Ávila
(JLC02072019, v.2)

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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