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“Burnout” e a escalada para o caos

Dar um nome ao que nos inquieta ou preocupa ajuda-nos. Tudo se torna mais claro. Neste mundo (ainda) competitivo, muitos podem ser os focos de tensão e que podem gerar prejuízos biopsicossociais para a pessoa, para a família, para a comunidade e para a sociedade.

O stress e o burnout são considerados umas das mais graves consequências dos riscos psicossociais que emergem em contexto laboral/profissional. O burnout é um fenómeno biopsicossocial e uma problemática silenciosa, causada pelo excesso de trabalho e/ou ao stress prologando ou crónico, provocado pela atividade profissional. O conceito de burnout pode ser definido como uma “síndrome psicológica de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, com sentimento de vazio, baixa eficácia e produtividade” (Maslach, 1993). Inicialmente esta síndrome era associada e exclusiva a profissionais de saúde mas atualmente outras áreas profissionais manifestam esta problemática (forças policiais, pessoal administrativo, professores, etc.).
A escalada para o caos

No trabalho, a pessoa que era dedicada e competente, está agora apenas de “corpo presente”, em piloto automático. Ao invés da motivação, surge a irritação, a falta de concentração, o desanimo e/ou a sensação de fracasso. Pode evoluir para situações de absentismo, consumo de substâncias tóxicas, abandono da profissão, família e/ou país e, no limite, a um colapso que pode levar ao suicídio (com coexistência de outra(s) patologia(s)).

“Estou cansada. Em alerta, permanentemente. Revoltada. De trabalhar e não saber para que/quem trabalho tanto. De não ter fins-de-semana, feriados ou Natal. Do que vejo, do que observo, do que me rodeia. De andar sempre a correr e sempre atrasada. De não me apetecer fazer nada. Como se o corpo e a mente me obrigassem a parar mas em conflito, porque é como se não tivesse permissão… trabalhamos durante tanto tempo que se fica incapaz de continuar a trabalhar ou, simplesmente, a sentir, qualquer outra coisa.” (A., 30a, Administrativa)

Quais os sinais de alerta? Os sintomas podem ser afetivos, cognitivos, físicos e comportamentais:

– Dedicação excessiva ao trabalho, a vida é vivida em função de;

– Pouco investimento nas necessidades pessoais;

– Cansaço físico e emocional, fadiga;

– Falta “de ar”, “coração acelerado”, tensão muscular;

– Falta de vontade e de energia;

– Dificuldades de concentração;

– Sentimento de incompetência;

– Instabilidade emocional, o contacto pode ser frio, agressivo, irónico;

– Sentimentos de indiferença;

– Desmotivação, isolamento;

– Sentimentos de desanimo, desesperança, tristeza.

As pessoas com elevados níveis de Burnout necessitam de uma reorganização nas condições de trabalho e na sua condição de saúde. A intervenção fundamental terá que levar em conta os fatores individuais e das próprias instituições.
Que causas ou fatores de risco existem?

Fatores organizacionais

Sobrecarga trabalho, horários, desajustamento entre valores pessoais/cultura da empresa.

Fatores da própria atividade profissional

Conteúdos das tarefas, competências, autonomias, relação interpessoal com os colegas/clientes, realização pessoal, estilo de gestão e liderança.

Fatores individuais

Relação da pessoa consigo mesma; traços de personalidade e a dificuldade de perceção das próprias necessidades individuais.
O beco é sem saída?
O que podemos fazer?

– Desacelerar;

– Técnicas de relaxamento e meditação;

– Estar atento/a aos sinais emitidos pelo corpo;

– Investir mais tempo com as pessoas importantes, família e/ou amigos

– Investir no autocuidado (alimentação, exercício físico, repouso, hobbies)

– Investir no autoconhecimento, desenvolvimento pessoal

– Desenvolver habilidades como a assertividade, escuta ativa e resiliência

– Desenvolver autoestima, autonomia e flexibilidade

– Gestão de expectativas (ideias vs possíveis)

E no contexto profissional?

– Identificar focos de stress e origens;

– Diminuir exposição aos riscos

– Optimização gestão de tarefas;

– Networking, procurar novas alternativas no mercado ou na própria instituição;

– Estabelecer e compreender prioridades e limites profissionais;

– Procurar ajuda (entre colaboradores, supervisores, líderes);

– Flexibilização horário laboral face às necessidades;

Se, de alguma forma, se identificou com esta partilha, ou se conhece alguém em risco, é fundamental a procura de ajuda especializada, nos serviços de medicina familiar e de saúde mental. Quando não devidamente tratado, o Burnout pode-se tornar crónico ou evoluir para outros problemas mais graves/agudos.

Iniciar uma psicoterapia de apoio pode ser essencial neste momento, pois a pessoa encontra um espaço de reflexão para “parar, sentir e repensar” as suas prioridades e necessidades. Ao compreender as razões que a levaram ao limite, poderá prevenir eventos semelhantes, ao dotar de melhores estratégias de gestão emocional, com o objetivo de encontrar novamente o equilíbrio emocional e o sentimento de bem-estar outrora esgotados.

Carolina Oliveira Borges

Psicóloga Clínica e Investigadora RUMO

* * * Referências * * *

Maslach, C. (1993). Burnout: A multidimensional perspective. In W. B. Schaufeli, C. Maslach, & T. Marek (Eds.), Professional burnout: Recent developments in theory and research (pp. 19-32). Philadelphia, PA, US: Taylor & Francis

Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Revista Fatores de Risco – nº 37, Ano 10 (2015)

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