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AVC: finalmente o senhor Manuel

Tenho amigos que acham que isto do covid-19 é uma manobra chinesa para dominar o mundo e eu dou-lhes razão. Outros dizem que não passa de um “resfriado” e eu dou-lhe razão, também conheço uns que fazem comparações com outras calamidades e concluem, com toda a razão, de que a situação actual não é grave e uma gripe ou uma pneumonia vulgar é responsável por mais mortes de que o covid-19. Sim, os azeris, os ciganos, os antifascistas, os forcados e outros marialvas são imunes a pandemias. O tipo que vive entre os índios descobriu uma planta que cura a doença mas a indústria farmacêutica anda a encobrir a descoberta. A lixívia também é o melhor remédio. Acredito em tudo o que me contam, mas sigo as ordens da Direcção Geral da Saúde, do Governo, do médicos e essencialmente acredito que não se deve contrariar malucos.

Também acho que são momentos como estes que deveremos mais tolerância e compreensão. As pessoas já andam á flor da pele com a vida que estão a levar e ainda levam em cima com reclamações, exigências absurdas. Às vezes exerce-se muita pressão sobre que está a trabalhar: a fulana que chegou atrasada porque deixou os filhos sozinhos a verem a telescola e corre o risco de uma reprimenda da Segurança Social; o fulano do supermercado que se atrasou na entrega das compras e só levou metade.

Eu, como um acidente e estou a recuperar, também agradeço que as pessoas sejam um pouco mais pacientes comigo, compreendam que eu tenho e é aconselhável que nestes primeiros tempos, tenha que fazer algumas tarefas com calma e depois vou afinando a velocidade.

Voltando à história, estive naquilo que eu chamo “cuidados intensivos” de sábado à quarta-feira seguinte. Não falei com ninguém para além do pessoal que estava lá a trabalhar e a apoiar. Excepção a um fulano que estava na cama na diagonal à minha frente. Tínhamos um problema de comunicação pelo facto de ele ser francês e não falar português para além do rudimentar e eu achei que começar a desenferrujar uma língua logo após um AVC, não era aquilo que mais me estava a apetecer. Cumprimentos umas vezes à francesa, outras vezes à portuguesa e para amizade, chegava. Ele, por seu lado, conseguia ver bem televisão e olhava-a com muito atenção mesmo que não entendesse nada do que lá se passasse. E foram passando os dias assim, neste frenesim aqui que resolveram enviar-me para a enfermaria, no meu caso, um quarto com duas camas e uma casa de banho! Cumprimentei o paciente da outra cama que estava muito atento ao que eu fazia e me mexia. Chamava-se Manuel, tinha setenta e quatro anos e era o segundo AVC no espaço de menos de seis meses. Calmo, simpático, tímido e de baixa estatura.

No primeiro dia fomos muito cordiais e sentia nele um certo ar que achava que deveria proteger o “caloiro”. O que fazia, onde vivia, a esposa, os filhos e a tropa. Deu-me a impressão que aquele ambiente de enfermaria lhe trazia recordações das casernas da tropa.

 

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