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Aumenta a repressão e o totalitarismo na Federação Russa

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Repressão. Chegam cada vez com mais frequência notícias sobre um aumento da repressão e da natureza totalitária do regime na Rússia, com detenções arbitrárias de pessoas à luz do dia, onde quer que estejam. Não é que Vladimir Putin tenha propriamente credenciais democráticas, longe disso, mas o prolongamento da guerra e a obsessão em calar as vozes críticas sobre a invasão da Ucrânia têm levado ao regresso de uma política repressiva muito semelhante à que existia nos tempos da União Soviética e nos regimes totalitários. 

Um ano de guerra, muitos milhares de mortos e de feridos, a necessidade de recorrer ao recrutamento militar suplementar, uma economia que se deteriora a cada dia que passa, têm necessariamente consequências no ânimo do povo russo. E na sua capacidade para aguentar em silêncio e não desmentirem o que a propaganda lhes anuncia de forma manipulada e distorcida. E mesmo que os russos sejam muito propensos a calar tudo o que sejam opiniões políticas, para evitar chatices. As grandes purgas e as vagas de repressão nos sucessivos regimes são uma marca indelével na memória russa, faz parte da sua história.

Toda esta repressão a radicalizar-se é o que parece ser um impulso de sobrevivência do regime, aliado à paranoia securitária de Putin, um homem cruel habituado a calar as vozes críticas e a envenenar opositores. Quanto pior é a situação, mais Putin quer manter as aparências, reprimindo qualquer tentativa de pôr em causa o esforço de guerra e as terríveis consequências para o país e para o povo russo.

As notícias que têm chegado dão conta de prisões arbitrárias na rua ou em lugares públicos, com base em denúncias, de pessoas que se manifestaram contra a guerra, sobre a situação deplorável das tropas na frente de combate ou sobre as derrotas no terreno, que têm sido muitas. É o que basta para os serviços de segurança em plena luz do dia entrarem por um restaurante adentro, com o estrondo das polícias políticas, agarrar a pessoa em causa e a levá-la para interrogatório aos olhos de todos, sem qualquer pudor em exibir assim a brutalidade do regime. 

Ou implica até mesmo levar crianças que fizeram desenhos sobre a guerra que mostram tanques ou avisões russos destruídos, em vez de desenharam a glória das tropas do seu país. O que leva a que as crianças sejam retiradas das escolas e aos pais e levadas para reformatórios. E que, por causa desses desenhos inocentes dos filhos, os pais sejam também levados para interrogatório, para avaliar até que ponto estão contra a guerra, ficando por vezes presos, por serem culpados de não instilar suficiente patriotismo aos filhos.

Se a Rússia já era um regime muito pouco democrático, agora voltou aos tempos de regime totalitário, com total supressão das liberdades, a que nem as crianças escapam. É um regime que se mantém pelo medo e pela intimidação, pela prisão, que tem feito desaparecer misteriosamente alguns opositores e oligarcas que ousaram furar a regra da obediência cega.

A máquina de propaganda vai fazendo o seu trabalho de adormecer as mentes do povo russo, mas a realidade concreta dos mortos e feridos que não para de aumentar e a degradação da vida quotidiana desmentem todas as mentiras que o regime vai querendo justificar. O regime dá sinais de desespero, mas por maior que seja a repressão, o dique parece cada vez mais perto de rebentar.

Paulo Pisco

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