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A fábula dos 5 dedos

Era uma vez cinco dedos
cinco dedos muito quedos
o fura-bolos dizia que mandava
o mediano de ser o maior se gabava
o anelar gostava de usar colar
o mínimo era o último a falar.

Na mão morava também o polegar
que queria fazer parte da família
mas os outros dedos troçavam dele sem vigília:
“És pequeno e torto
matas piolhos e és gordo
moras longe, do outro lado da mão
só tens duas falanges, não és nosso irmão!”

O dedo gordinho passava os dias a chorar
porque com os outros não podia brincar.
Toda a mão era desajeitada, desastrada
mas o quarteto de dedos pensava
que ela tinha nascido assim
e que não tinha outro fim.

Um dia, a mão sinistra
encontrou outra mão a fazer de turista.
Era uma mão com cinco dedos felizes
bem combinados de matizes
agarradinhos e unidos tal uma fratria
a brincarem sempre juntos com alegria
sempre a entreajudar-se em harmonia.

Os dedos da mão canhestra
não entendiam que coisa era esta
como é que quatro elegantes dedos
podiam aceitar o gordão sem arremedos.

Os dedos felizes dançaram na mão
e com uma vénia apresentaram-se então:
“Eu sou o dedo índex
e aponto onde vamos!”
“Eu sou o dedo médio
coordeno e digo o que suportamos!”
“Eu sou o dedo anelar
e simbolizo a aliança!”
“Eu sou o dedo mindinho
sou educado e não sirvo de ansa!”

O polegar dessa mão
avançou-se sem medos
e pareceu de repente altão
o maior dos dedos
eloquente e loquaz
sem olhar para trás
esticou bem o pescoço
e falou: “Eu sou o dedo pólex
e mesmo se me falta um osso
sou eu que digo se está tudo bem
daqui até ao índex
encorajo e incentivo também
peço boleia com perseverança
sou o preferido da criança
e se me desunho
para sermos punho
temos juntos a pujança
do tambor e do trovão
sou afinal o mais importante dedo da mão!”.

“Como? Que dizes? O que é isso?”
exclamaram os dedos da outra mão
estupefactos, perplexos, “É feitiço?
que bizarra argumentação!”.

“Sim!”, explicou o dedo grandão:
“O polegar que é o dedo oponível
é que permite a preensão
– a preensibilidade! –
que é sinal da evolução, em verdade
e possibilita à mão estar disponível
para agarrar, segurar, apanhar
fazer fogo com as pedras de lascar
fabricar utensílios e qualquer ferramenta
pegar, suster – assim a palma aguenta! –
caçar, colher, comer, proteger, juntar
e os dedos só podem estalar no ar
quando o dedão e o médio se põem a bailar
e a mão só pode pinçar
e enfiar a linha na agulha
quando o indicador é auxiliado pelo polegar
até quando debulha
e para, com precisão, o lápis segurar
o indicador e o médio também precisam do polegar!”

“Se vocês perceberem que são
todos diferentes, mas todos iguais sem distinção
e que precisam uns dos outros e que a união
faz a força e a força faz a união
então a vossa prodigiosa mão, sem mossa
também poderá ser como a nossa
tudo alcançar e tudo fazer
tudo conseguir e tudo entender”.

Assim falou o polegar ajuizado
os dedos injustos acolheram o rechaçado
e as duas mãos só então
puderam abraçar-se com efusão.

E se os singelos dedos da mão
perceberam que as diferenças fazem a força
e que a força também faz a união
porque não entendes tu, gabiru?

——–
JLC09042020
José Luís Correia
(dedicado ao meu filho)

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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