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A construção e a língua: a CPLP e o sonho da lusofonia

Não sei se sabem, mas o projecto da construção de uma Comunidade de países e de povos irmãos, “proprietários” da Língua Portuguesa, começou há muito tempo, em 1983. Foi a partir daí que se iniciou um diálogo entre sete países, geograficamente distantes e divididos por três continentes – Europa, África e América – com vista a criar uma organização – a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – que acabou por nascer oficialmente em 17 de Julho de 1996.

Começou com Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe; em 2002 junta-se Timor-Leste (e assim se alarga a CPLP ao quarto continente – a Ásia) e em 2014 associa-se a Guiné-Equatorial.

Como tudo na vida, a sua intervenção começou pequena, mas hoje os seus interesses espraiam-se num projecto pluridimensional global, apesar de ter que fazer face, como tantas outras organizações internacionais, a alguns problemas endógenos e exógenos.

Mas aquele projecto, exigido pelos seus povos e ao qual os seus lideres tentam imprimir uma dinâmica evolutiva, não seria possível se não fosse consolidado por especiais laços de amizade e cujo traço de união é a partilha da Língua Portuguesa, cuja importância política, económica, social e cultural cresceu substancialmente nos últimos anos.

E essa relevância foi reconhecida em 2005, quando se declarou o 5 de Maio como o dia da Língua Portuguesa e Cultura na CPLP. E a UNESCO declarou em Novembro do ano passado o mesmo dia como o Dia Mundial da Língua Portuguesa.

Com efeito, cerca de 280 milhões de falantes da Língua Portuguesa tornam-na na 5ª língua mais falada no mundo. Segundo estimativas da UNESCO, a Língua Portuguesa é um dos idiomas que mais crescem entre as línguas europeias após o inglês e o espanhol; por volta de 2050, terá 400 milhões de falantes nos seus países de origem. Existe ainda um número crescente de pessoas que falam a Língua Portuguesa no emprego, nos media, na internet e nas redes sociais.

A Língua Portuguesa é ainda língua oficial da União Europeia, da Organização dos Estados Ibero-Americanos, do Mercosul, da União das Nações Sul-Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e dos Países Lusófonos.

Chegará um dia, espero que em breve, às Nações Unidas – haja vontade, tempo e dinheiro – onde na sala da sua Assembleia Geral, por ocasião das celebrações do seu 50º aniversário, dedicado aos Países de Língua Oficial Portuguesa, tive a honra de participar no primeiro evento cultural oficial da lusofonia ao lado do saudoso Secretário-Geral Kofi Annan, grande amigo da Língua Portuguesa e dos seus falantes.

Por razões históricas, falantes de português, ou de crioulos portugueses, são ainda hoje encontrados também em Macau (China), em Damão, Diu e no Estado de Goa (União Indiana), Malaca (Malásia), na ilha das Flores (Indonésia), em Batticaloa (Sri Lanka) e nas ilhas ABC (Caraíbas).

E não nos podemos esquecer da enorme Diáspora da CPLP, que tem a Língua Portuguesa como língua materna em países e territórios de todos os continentes, e também no Luxemburgo.

A importância crescente da CPLP e da Língua Portuguesa levou a organização a adoptar em 2005 o estatuto de Observador Associado para não membros. O Grão-Ducado do Luxemburgo, com a sua muito significativa comunidade lusófona, que engrandece a sua multiculturalidade e quer tornar real o “vivre ensemble”, tem esse estatuto de Observador associado, assim como muitos outros países, que cada vez procuram mais este espaço pela Língua e pela sua força económica.

A Língua Portuguesa aprende-se para comunicar e para estudar – daí a presença, não sem constantes desafios, de uma rede de professores do Camões no Luxemburgo para ensinar a Língua Portuguesa aos filhos dos portugueses, lusodescendentes, cabo-verdianos, brasileiros, angolanos e guineenses, assim como aos luxemburgueses que a queiram aprender; mas também para trabalhar, conversar, rir, brincar e namorar; … é uma língua de paz, de união, de amor, de saudade, de tristeza, de coragem e de alma; …é uma língua de camaradagem, de combate e de entreajuda; …é uma língua com várias tonalidades e cores, escritas arenosas e versos salgados, de diversos sons e cheiros, sem distinção de género, que não discrimina e inclui;…é um língua de projecto, de troca de experiências, de diálogos e culturas que reforçam a sua intimidade e compreensão;… é um puzzle onde encaixa a lusofonia;…é uma língua que nos representa a todos!

Porque ser lusófono é ter a honra de pertencer a uma espaço de amizade reunido em torno da Língua Portuguesa, que muitos de nós têm o privilégio de falar, e porque essa lusofonia tem que ser promovida, deixo aqui uma proposta à presidência cabo-verdiana e seguintes da CPLP: a constituição de uma associação lusófona no Luxemburgo que agregue as expressões culturais de todas as suas comunidades aqui representadas. Julgo que seria a primeira associação do género a ser criada no espaço da CPLP e que decerto encorajaria outros a seguir os mesmos passos, enriquecendo a participação da nossa sociedade civil na Comunidade a que todos pertencemos, cimentando deste modo o sonho da lusofonia.

António Gamito

Embaixador de Portugal no Luxemburgo

 

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