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A alegre casinha da Madonna

O contrato celebrado entre o presidente de Câmara socialista, Fernando Medina, e Madonna, para estacionamento a preço de saldo dos carros que felizmente tem, justificado igualmente pelo BE, como se espera de uma boa e sólida muleta, mostra que o deslumbramento provinciano também se encontra em Lisboa nalguns à Esquerda, fascinados pelas luzes da ostentação mais capitalista, que sempre que provam, adulam.

Em debate, há tempos, na Assembleia da República, o primeiro-ministro, António Costa, recorreu a Carl Marx para dizer que “uma sociedade decente é uma sociedade onde cada qual contribui para o bem comum de acordo com as suas capacidades e cada um recebe de acordo com as suas necessidades”. Que contraste extraordinário entre a conversa que adorna discursos e as decisões que politicamente comprometem a utilização do erário público.

O PS em Lisboa achará que cedendo o espaço interior do Palácio Pombal a Madonna, com uma área capaz de albergar 15 carros, numa zona nobre da cidade onde ninguém encontra lugar, a troco de 720 euros por mês, estará a honrar o pensamento do ideólogo alemão e a cantora receberá “de acordo com as suas necessidades”. Acontece que “de acordo com as suas capacidades”, Madonna estaria em condições de pagar muitíssimo mais. Conviria até que Fernando Medina tivesse em conta que se a diva estacionará cada um dos seus veículos ao preço de 1,6 euros por dia, a EMEL persegue todos os dias os munícipes a quem bloqueia os carros e multa, por não encontrarem um único lugar, ou só os terem disponíveis onde seja, a preços muito mais caros.

Ajuda a perceber que, ao mesmo tempo que o povo se desenrascava na gestão difícil do trânsito da capital, António Costa, Francisco Louçã, Fernando Medina, Ferro Rodrigues e Catarina Martins, aos pulinhos e com os bracinhos em cruz, entre sorrisos forçados difíceis de disfarçar a falta de jeito, se imaginassem estrelas pop em cima de um palco, desafinando a “minha alegre casinha”, sem noção de que mesmo para o aproveitamento mais eleitoralista, cantarolar à Esquerda a apologia de uma certa modéstia nascida no Estado Novo é como tentar conjugar a provocação erótica da Madonna com a franja da Beatriz Costa. Não liga. Chega a ser tão ridículo, como saber que o BE, a quem o PS abriu as portas do poder, se concentra em “acampamentos” a discutir a “desconstrução da masculinidade tóxica”, ou “a propriedade é roubo; socialização dos meios de produção”. Todos juntos, numa próxima edição, talvez queiram pensar nisto.

 

 

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