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Ademar Rodrigues: é importante que os ex-emigrantes reformados do Luxemburgo votem nas eleições sociais

Ademar Rodrigues, antigo presidente do Departamento Imigrantes da OGBL, em entrevista afirma que “é muito importante os ex-emigrantes reformados do Luxemburgo votarem nas eleições sociais!”

Ademar Rodrigues tem 67 anos, é natural de Carrazeda de Ansiães, mas atualmente mora em Santa Cruz do Douro, Concelho de Baião. Esteve imigrado 22 anos no Luxemburgo, onde foi presidente do Departamento dos Imigrantes da central sindical OGBL, entre 2002 e 2008. Chegou ao Grão-Ducado no fim dos anos 1980, e foi quando se tornou membro do sindicato. Ainda hoje, passados dez anos de se ter reformado e regressado a Portugal, continua a mostrar orgulhoso a sua militância sindical. Entrevista com um “homem da luta”.

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Recentemente publicou uma foto no Facebook para mostrar como tinha votado nas Eleições Sociais do Luxemburgo, fardado a rigor com as cores da OGBL, casaco, boné e bandeira. O que pode dizer aos reformados, ex-emigrantes do Luxemburgo que hoje vivem em Portugal, que receberam o boletim de voto do Ministério do Trabalho do Luxemburgo convidando-os a votar, mas que ainda não o fizeram?

Digo-lhes que devem votar por uma razão muito simples: devem votar para darem mais força à Câmara do Trabalho ou Chambre des salariés (Câmara dos Trabalhadores, na sigla CSL), como se diz agora. Nós recebemos a reforma do Luxemburgo e devemos continuar a acompanhar o que se passa no país. É o que eu faço. Devemos votar porque esta câmara é muito importante, porque defende os trabalhadores e os reformados. Votem em quem quiserem. Mas de preferência na OGBL, porque é o sindicato número 1 do Luxemburgo, e como é o sindicato que mais nos tem defendido, devemos dar uma grande vitória à OGBL.

Regressou a Portugal há 10 anos, mas parece ainda guardar muito contacto com o Luxemburgo?

Sim, sigo a atualidade do Luxemburgo pelos jornais e pela internet, e vou regularmente ao Luxemburgo, tenho ainda aí familiares, a minha irmã Helena e o meu cunhado, que moram em Mühlenbach, na cidade do Luxemburgo. E tenho a minha sobrinha, que é enfermeira no Centro Hospitalar do Luxemburgo. Chegámos a estar aí cinco irmãos, mas os meus dois últimos irmãos regressaram no ano passado a Portugal quando se reformaram.

E tenho, claro, ainda aí muitos amigos que conheci através no meu envolvimento no sindicato, no mundo da política, de associações como o Grupo Desportivo Os Lusitanos, de que fui presidente de 2005 a 2007. Dos políticos, sou amigo do Alex Bodry (ministro de várias pastas, 1989-1999), do Mars Di Bartolomeo (ministro da Saúde do Luxemburgo, 2004-2013), do Lucien Lux (ministro dos Transportes, 2004-2009)… Na OGBL, tenho muitas saudades desse grande homem que foi o John Castagnaro (fundador e presidente da OGBL entre 1979 e 2004, falecido em 2012), e sou amigo do Jean-Claude Reding (hoje, presidente da CSL, e presidente da OGBL de 2004-2014), dos grandes amigos Manuel Bento (antigo delegado da OGBL; hoje, vice-presidente da CSL), Carlos Pereira (membro da Direcção da OGBL) e Eduardo Dias (secretário central do Departamento dos Imigrantes da OGBL), do grande camarada José Nunes Pinto (actual presidente do Sindicato da Construção Civil), do Armand Drews (responsável pela ONG OGBL Solidarité Syndicale), do Valério De Matteis (antigo secretário central do Sindicato do Sector da Construção da OGBL), do Adolfo de Matteis (antigo presidente do Departamento dos Imigrantes da OGBL) e de tantos outros. Tinha e tenho grandes camaradas e grandes amigos no Luxemburgo, que considero a minha segunda pátria.

 

Sindicalista e eterno inconformado

 

Voltemos um pouco atrás… Pode contar-nos como surgiu a oportunidade de emigrar para o Luxemburgo?

Fui à procura de trabalho, como todos os emigrantes… Já em 1979 tinha ido trabalhar para o Iraque, mas a situação no país mudou e tive que regressar a Portugal. Através de um cunhado meu surgiu a oportunidade de ir para o Luxemburgo, trabalhar para a Soludec, em 1987. Comecei como armador de ferro nas obras da alfândega de Wasserbillig, mas depressa passei a maquinista, porque eu tinha tido experiência com máquinas pesadas em Portugal. Eu tinha trabalhado em estradas, auto-estradas, pontes e terraplanagens como maquinista e condutor-manobrador de camiões e de máquinas pesadas como retro-escavadoras, máquinas giratórias, caterpílar e afins, para empresas como a Soares da Costa, a Engil, antes de ser a MotaEngil, a Serafim da Fonseca Santos, de Penafiel, ou a Henriques Jorge dos Reis, do Bombarral. Depois da Soludec trabalhei na CoBétons, que viria a ser comprada pela Bétons Feidt, onde estive até 2009, quando me pensionei.

Como se torna membro da OGBL e chega a presidente do Departamento dos Imigrantes?

Eu morava no bairro de Bonnevoie, na cidade do Luxemburgo, e o presidente da Secção da OGBL de Bonnevoie, sabendo que eu era membro da OGBL, convidou-me a integrar a secção. Nessa altura, havia lá uma maioria de luxemburgueses e eu comecei a levar para lá cada vez mais portugueses e italianos. Cheguei a vice-presidente da secção. Entretanto, o Eduardo Dias deu-me a ideia de me candidatar a presidente do Departamento dos Imigrantes, e foi nesse cargo que fiz dois mandatos, de 2002 a 2008.

Já tinha tido actividade sindicalista em Portugal?

Sim, já tinha sido vice-presidente do sindicato da Construção Civil quando ainda se chamava Sindicato dos Oficiais Pedreiros Correlativos e Afins, que depois foi desmembrado e passou a designar-se Sindicato da Construção Civil da Zona Norte. Participei nas grandes manifestações que houve a seguir ao 25 de Abril, e também estive ligado ao Movimento das Forças Armadas (MFA) através do RASP, o Regimento de Artilharia da Serra do Pilar.

A fibra sindical, é de família?

Curiosamente, não é de família. Sempre fui um indivíduo com vontade de aprender, ainda hoje. Antes de ir para a tropa fui delegado sindical na Sociedade de Investimentos José Mariani, em Vila Nova de Gaia. Mas acho que a fibra sindical e até política deverão ter nascido com as reivindicações após o 25 de Abril. Eu só cheguei a Portugal em Setembro de 1974, vindo da Guiné-Bissau, onde estive 23 meses e 28 dias, e onde fui ferido em combate três vezes. Ora em Setembro de 1974, estávamos em pleno movimento de reivindicações. Eu voltei à empresa onde trabalhava em Gaia e  fiz parte do grupo que fazia as reivindicações, até porque tínhamos o apoio dos capitães de Abril.

O Ademar é, o que se pode chamar, um verdadeiro “homem da luta”…

Nunca rejeitei uma luta justa, uma boa pega de caras ou uma boa discussão. Sempre fui, desde jovem, e ainda hoje considero que sou, um inconformado com a sociedade. Não consigo ver injustiças, gostava que a sociedade fosse mais justa, mais fraterna e o dinheiro fosse distribuído de outra maneira, e que houvesse menos corrupção.

E foi isso que o levou à política depois de regressar a Portugal?

Bem, eu já era há muito um militante do Partido Socialista e no Luxemburgo também fui militante do Partido Socialista Luxemburguês (LSAP). A minha entrada na política em Portugal deu-se porque dois meses antes de eu me reformar, o atual Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, quando se recandidatou à Câmara Municipal de Baião, convidou-me para ser membro da Assembleia Municipal, da qual faço parte desde 2009. As questões de emigração continuam a interessar-me. E enquanto tiver forças, vou continuar.

 

“Acredito que o Secretário de Estado vai fazer o possível para resolver a situação das reformas!”

 

Como amigo de José Luís Carneiro e como ex-emigrante, o que lhe diria sobre os atrasos da Segurança Social portuguesa quando os emigrantes pedem os tempos das suas carreiras contributivas, o tal formulário E205, que lhes permite introduzir os papéis para a reforma?

Não diria, eu já disse! Eu posso dizer que sou seu amigo íntimo e eu já lhe disse pessoalmente que ele devia tratar desse problema dos emigrantes, porque é uma vergonha o que está a acontecer. Mas, ao seu nível, como Secretário de Estado, eu acredito que o José Luís faz o possível. Reparem que nunca um Secretário de Estado levou ao Luxemburgo responsáveis da Segurança Social, da Caixa Nacional de Pensões e da Administração dos Impostos para falarem diretamente com os portugueses. Portanto, eu acredito que ele faz o que pode, e se poder ajudar a resolver, resolve. Porque é um homem sério, justo, honesto e é um homem de palavra. E eu até lhe disse que em Differdange tínhamos uma grande comunidade de baionenses. E aliás, posso revelar que a Câmara Municipal de Baião, com o atual Presidente da Câmara, Paulo Pereira, tem intenção de iniciar negociações para a geminação com Differdange.

Do Luxemburgo, do que mais sente falta?

Como já disse, o Luxemburgo é a minha segunda pátria. Deu-me trabalho, possibilidades de viver melhor e de hoje ter uma reforma para ter uma vida decente aqui em Portugal. Mas o que sinto mais falta é do convívio com os meus colegas do sindicato e das associações. Sinto falta de uma boa discussão sindical.

Estive aí numa boa época para ser sindicalista. Entre nós, os sindicalistas, dizíamos: ”Quando o Jean-Claude Reding (presidente da OGBL, 2004-2014) tosse, o [Jean-Claude] Juncker (primeiro-ministro do Luxemburgo de 1995 a 2013) fica logo constipado!” (risos). Sinto falta dessas lutas. Aqui, na Assembleia Municipal de Baião, estou bastante ocupado, sou convidado para muitos eventos, também temos muitas discussões. Sinto sobretudo falta da luta sindical e dos meus camaradas da luta, aqueles que não viravam a cara a nada.

Uma última mensagem para aqueles que vão ler esta sua entrevista?

Quero voltar a insistir junto de todos os meus camaradas e companheiros que já estão reformados do Luxemburgo para votarem nas Eleições Sociais, para eleger os nossos representantes no grupo 9 para a Câmara dos Trabalhadores. Esta é uma câmara muito importante, porque dá pareceres quando o Governo está a preparar novas leis, seja sobre o trabalho, as reformas, a segurança social ou outros assuntos que nos tocam de perto. Mas também dá avisos às confederações patronais. Portanto, é quem nos defende, nós os reformados, mas também os trabalhadores.

E ao votarem, não se esqueçam de votar na OGBL, porque sendo a OGBL o sindicato maioritário é o que melhor está preparado para lutar pelos direitos e interesses dos trabalhadores de todos os sectores, desde o sector bancário à construção civil, passando pela indústria, siderurgia e outros. Recordo também que é o sindicato que mais convenções colectivas tem assinado. E todos têm visto o trabalho que a OGBL tem feito, é o sindicato que mais tem feito pelos portugueses e pelos reformados. A OGBL tem cerca de 70 mil membros e está bem representada na Câmara dos Trabalhadores.

Se tivermos uma OGBL reforçada numa Câmara dos Trabalhadores também forte, os interesses não só dos trabalhadores, mas dos pensionistas, como eu, vão ser defendidos junto do Governo luxemburguês, ou seja, ficam mais seguras as nossas pensões, mas também os empregos e a vida dos que ainda vivem e trabalham no Luxemburgo. Porque nós, enquanto reformados do Luxemburgo, ajudámos a construir o país e por isso hoje temos o direito de votar para eleger a Câmara dos Trabalhadores. Então, devemos utilizar esse direito e votar bem. E votar bem, é votar na OGBL!

 

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